terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Pensando no umbigo e não na mão amiga

Esta semana começou com uma notícia não muito agradável para vários limeirenses. O Sindicato dos Metalúrgicos de Limeira recusou a proposta feita pela empresa ArvinMeritor de redução de jornada de trabalho.

Desde o dia 5 deste mês, praticamente desde o primeiro dia útil, a empresa vem negociando com o sindicato essa redução na carga horária da empresa. Alegando que a queda nos pedidos de seus produtos - rodas de aço e sistemas de portas -, a ArvinMeritor resolveu reduzir a jornada de trabalho dos metalúrgicos da linha de produção e também reduzir o salário numa tentativa de evitar mais demissões no setor em Limeira.

Mostrando-se intransigente, o Sindicato teve o que queria, mas bateu o pé e disse não. Acompanhando toda a história, os sindicalistas pediram a empresa uma estabilidade de emprego e um ressarcimento do valor que fosse tirado do salário integral. Essas foram as duas principais exigências dos sindicalistas da cidade para que o acordo fosse firmado entre a multinacional e a entidade.

A empresa propôs uma redução de 40% na jornada de trabalho e de 20% no salário desses trabalhadores. Além disso se comprometeu a pagar 50% desse valor que seria descontado entre os meses de outubro de 2009 a março de 2010 e a garantia de emprego exigida. Tudo muito bonito, tudo muito perfeito e dentro da lei. Mas parece que não foi o suficiente.

Demos a notícia no Jornal de Limeira hoje dessa recusa do sindicato e no meio da tarde várias manifestações contrárias à posição do sindicato chegaram até a redação. (É possível conferir os comentários aqui)

Segundo os sindicalistas, o principal motivo da recusa foi a falta de documentos que comprovassem a dificuldade financeira que a empresa está passando. A lei 4.923 de 1965 é a qual regulamenta todas essas medidas de redução e estabelece os limites para cortes de salário (até 25%) quando a situação econômica está complicada.

O engraçado é que a negociação durou 20 dias. Foram 20 dias o sindicato dizendo que não aceitam redução de salário, que a empresa ainda tem recursos financeiros suficientes para atravessar a crise sem nenhum tipo de corte de salário ou despesa e após ter todas as suas exigência muito bem atendidas ainda recusam tudo o que foi proposto. E ainda mais, segundo um gerente da empresa, o sindicato em momento algum pediu documentos que comprovassem essa dificuldade. Até certo ponto seria dispensável uma vez que os próprios trabalhadores relatam que sentiram ali, nas suas mãos, que o número de pedidos diminuiu drasticamente. Jornais dão notícias todos os dias sobre essa queda dos negócios do ramo automobilístico. E ainda pedem documentos que comprovem a dificuldade?

Em uma das vezes que conversamos com o sindicato, um dos dirigentes comentou que exigiam o ressarcimento do valor que fosse reduzido. Ué, que exige ressarcimento aceita redução de salário, ou estou ficando louco agora?

O engraçado é que não foi um só leitor do jornal que se manifestou irritado, alguns até revoltados, com a posição do sindicato, foram vários. Declarada ou anonimamente esses leitores - em sua maioria devem se sensibilizar com a causa ou são trabalhadores da empresa e parentes -, mostraram o quanto o sindicato falhou com sua posição de defender os interesses dos trabalhadores. Foi uma discussão exclusivamente política, sem considerar o que os trabalhadores realmente queriam.

Um dos trabalhadores, esse em entrevista e não em depoimento escrito, falou que preferia roer o osso durante três meses com um salário menor a ficar desempregado. Ou seja, é trabalhar pela empresa e pelo próprio emprego. Que trabalhador que quer ser demitido e se ver forçado a procurar um outro emprego na mesma área em que atua hoje? Não é somente uma empresa do ramo automotivo que está com problemas, são praticamente todas. Não é a tôa que o Estadão deu como destaque hoje que de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) informou que serão cortados cerca de 86 mil postos de trabalho pelo mundo todo. Até a gigante Microsoft e a Google demitiram!

É realmente pensar na política e em ideais não solidários a refletir sobre a situação real do trabalhador com a recusa de um acordo temporário. É aquela velha rincha entre trabalhador e patrão. Rincha essa, cabe-se dizer, entre os alguns trabalhadores que não estão preocupados com o coletivo, só com o umbigo. Já ouvi certa vez que o sindicato serve de respaldo para funcionários que estão na mira de seus chefes. Vai ser demitido? Tenta entrar no sindicato e sua estabilidade está garantida. Esse pensamento reproduzo do que já ouvi falar mais de uma vez e é o argumento principal usado nas palavras de revolta de parentes e trabalhadores que viam com esperança um salário para os próximos meses.

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