sábado, 3 de janeiro de 2009

Inovação na imprensa

Estava lendo hoje o Observatório da Imprensa (OI) e me deparei com um artigo bem interessante - tanto que estava em destaque na primeira página do site. O autor, Lúcio Martins Costa, faz uma observação pertinente no texto intitulado "A imprensa precisa voltar a surpreender". Segundo ele, "entre o segundo semestre de 2007 e o primeiro semestre de 2008, pelo menos 70% das fontes se repetiram nos cadernos e economia da Folha de S.Paulo e do Estado de S.Paulo e nas respectivas seções das revistas Veja e Época."

Costa cita as fontes. Segundo ele, a imprensa recorre geralmente a ex-ministros ou ex-comandantes do Banco Central como Delfim Neto, Pedro Malan e Armínio Fraga. A crítica do autor é real também na imprensa regional como em Limeira. Quando a pauta do dia envolve economia, a maioria dos jornalistas já têm na ponta da língua o nome de uma dos profissionais mais acessíveis da cidade.

No mínimo ele deve até esperar as ligações da imprensa quando algum assunto de sua área está em destaque na mídia nacional. O preço do tomate sobe ou desce, isso interfere na cesta básica da população, será uma alimentação mais escassa ou então gastos menores com outros produtos para a família ou para a casa. Quem é entrevistado? O mesmo economista e até a mesma nutricionista para falar das possíveis substituições do alimento ou das consequências que a ingestão de outros legumes pode causar na dieta do limeirense.

É um quadro lógico entrevistar profissionais dessa área. As informações que ele trazem para a notícia são relevantes e ajudam a população a preparar seu bolso para não perder dinheiro ou então orientam a como continuar sua vida frente às dificuldades e até facilidades que o dia a dia da economia trás diretamente para a população.

O problema não está em informar mas a quem consultar para fornecer essa informação completa. É nessas horas que instituições de ensino ou até mesmo órgãos públicos podem disponibilizar seus professores e profissionais especializados nas áreas requisitadas para, não só ajudar na hora de informar a população, mas também divulgar sua capacidade de compreender a realidade da população além de seus balcões e carteiras.

É fato que muitas pessoas temem a imprensa. Diretores de escola, professores de universidades e até secretários municipais têm pavor de encarar um jornalista e responder algumas perguntas sobre qualquer tema. Nessa hora pode-se aplicar a máxima "quem não deve não teme", mas a situação pode ir além dessa suposição de que há fogo onde aparece fumaça. A inibição chega a ser um problema psicológico e temos de respeitar.

Mas o fato está, como já mencionado, em aproveitar as oportunidades. Em Limeira já pelo menos cinco faculdades que têm administração em sua lista de cursos e ainda chega em 2009 mais uma, pública - a Unicamp. Mesmo que não seja um curso específico de economia, pelo menos um professor da área deve ter especialização em economia e consegue discursar de forma clara sobre os problemas econômicos do país. Se isso não é fato, que tipo de administrador as instituições de ensino superior da cidade estão formando? Alguém que só senta atrás do computador e preenche planilhas?

No artigo publicado no Observatório da Imprensa, o autor diz que não conseguiu observar se o fato de as fontes se repetirem acontecia também nas outras áreas de cobertura da imprensa. sua observação se limitou à área econômica. Em Limeira acontece, sim.

Uma desculpa fácil e sempre pronta é dizer que a cidade é pequena e não dispõe de tantos profissionais capacitados para explicar qualquer tipo de assunto. Limeira tem quase 300 mil habitantes, impossível se ter somente uma nutricionista, um economista e um administrador de empresas. Aqui tem um presidente da Associação Comercial, um prefeito, um presidente da Câmara dos vereadores e mais uns comandando um sindicato ou outra associação. Mas além deles há vários outros profissionais que fazem essas organizações públicas e privadas acontecerem. São eles que não ganham o destaque justo pelo trabalho feito.

As assessorias de imprensa tanto públicas quanto das associações e faculdades poderiam deixar de desgastar a imagem dos seus figurões e passar a bola para quem está com a mão na massa mesmo. Indicar professores diferentes ou especialistas e técnicos que tenham participado da elaboração de algum projeto poupa a espera pelo término da reunião do secretário X ou do coordenador Y. O problema que surge nessa hora, porém, é o da centralização da informação. "Só o Fulano sabe falar sobre o assunto", diz determinado assessor ou funcionário. Se o tal Fulano morrer tudo acaba? Parece que sim. Hora de entrar em ação os famosos media trainings que tanto se fala, mas pouco se faz.

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