sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Percalços da educação: os alunos e o colegialzão



Todos apontam sérios problemas da educação brasileira. Quer seja pública ou privada, sempre há alguma crítica às instituições e organizações. Apesar disso, não me deparei ainda com apontamentos sobre o "estudante" de hoje.

Há meses venho observando ou ouvindo reclamações sobre o comportamento e de alguns alunos da Unicamp. Quase terminando o segundo ano de Ciências Econômicas, um apontamento ficou claro numa dimensão muito complicada: alguns alunos (provavelmente grande parte, mas não quero generalizar) estão numa universidade pública com o nível da Unicamp única e exclusivamente para obter o diploma, conseguir um nome no currículo e ficar rico. E como o diploma é o fim, os meios para se chegar a ele pouco importam... esses meios têm, na verdade, significado tão pequeno que chega ao ponto da falta de respeito com os espaços e direitos alheios.

Um primeiro indício desse comportamento é a posição que esses alunos têm frente ao conteúdo proposto pelas disciplinas do curso. "Isso vai cair na prova? Não? Então não quero nem estudar", frase proferida por uma aluna em sua segunda graduação. As teorias são única e exclusivamente lidas e decoradas com a finalidade de se obter uma boa nota em provas. Esse conteúdo não serve para ser mastigado, digerido e chegar à uma massa cinzenta para formar um raciocínio crítico quanto ao papel desses indivíduos frente à sociedade. Ler Karl Marx, por exemplo, tem como única utilidade tirar uma boa nota nas provas da disciplina de Economia Política. Qualquer crítica às leis de produção e reprodução do capital, da forma como esse capital se distribui na sociedade, como a classe trabalhadora é explorada pela classe capitalista para dessa relação surgir os lucros e todos as outras críticas relevantes desse pensador não fazem sentido algum senão tiver que ser decorado e vomitado nas folhas das avaliações.

A mesma coisa acontece com todas as disciplinas. Na ânsia de receber conteúdo (sequer dá para usar o verbo aprender) para tirar boa nota, a proposta pedagógica e lógica das disciplinas que formam a grade do curso é perdida... uma disciplina não é jogada a toa num catálogo. Pressupõe-se importante que um profissional saiba este ou aquele assunto e, mesmo que sequer irá trabalhar com isso, pelo menos que ele tenha tido um contato com o assunto para poder relacionar temas semelhantes se um dia for necessário. Não é só porque quis seguir carreira no jornalismo impresso diário que eu não tenho que saber como são as áreas de radio, tv e assessoria de imprensa; ou se quiser a área de história econômica, não me é dispensável estudar estatística, cálculo e econometria para um dia elaborar um modelo econômico ou avaliar populações e rendas quando necessário, por exemplo.

Um segundo indício desse comportamento têm ficato também evidente nas últimas semanas e é totalmente ligado ao anterior: as conversas em sala. Pressupõe-se que todos que estejam dentro de uma sala de aula de uma universidade pública estão ali por livre e espontânea vontade, têm o mérito de terem sua formação financiada por dinheiro público e, acima disso, devem ter como interesse comum adquirir uma formação de qualidade, afinal escolheram o caminho público da formação superior (um caminho que não é fácil e carrega consigo muita responsabilidade). Porém, isso é mera teoria e pura divagação minha. Hoje a quantidade de alunos que entra na sala com interesse muito próximo de zero é gigantesca e esse comportamento parece não ser exclusivo do curso que eu faço.

Já  ouvi reclamações inúmeras vezes de colegas de classe que fazem disciplinas com outras turmas de outros cursos e relatam a falta de respeito do aluno para com o professor neste quesito conversa. A Unicamp é uma área livre para alunos, professores, funcionários e interessados. Ninguém é arrastado até uma disciplina sem necessidade. E, por mais que o currículo exija disciplinas com as quais o aluno não se identifica, elas precisam ser cursadas e concluídas com nota e "presença" mínimas. O problema é que ao considerar todas essas variáveis, alguns alunos se prendem à sala de aula e fazem das carteiras e cadeiras balcões e banquetas de bar onde ficam a discutir as últimas novidades com os companheiros de "breja". Isto é no mínimo desnecessário, na média falta de respeito com o professor e no máximo uma falta de respeito com outros colegas de classe que estão valorizando o dinheiro público e tentando aprender o conteúdo da melhor forma possível.

Isto ocorre em salas de outros cursos, mas eu reparo principalmente na minha sala e numa turma específica de uma disciplina de exatas, oferecida por outro instituto da Unicamp e que reúne alunos de três cursos diferentes. Há alguns dias o nível de conversa beira o ridículo. Há aqueles que conversam sobre futebol; sobre a viagem do final de semana; sobre a roupa de marca que comprou; ou sobre problemas conjugais; há também aqueles que discutem a matéria dada a aula inteira com o colega do lado ou que usam a aula para resolver exercícios de outra disciplina e ficam tirando dúvidas com o vizinho como se estivessem em aulas ou monitorias particulares sozinhos numa sala de estudos. Ou falta o bom senso, ou a educação, ou uma clara noção de coletividade. Conversar ou cochichar atrapalha o raciocínio do professor e a concentração dos demais alunos. E inclusive parece ser difícil enxergar esse problema de forma clara...

Acredito que o assunto renderia ainda longos e extensos parágrafos cheios de indícios e comportamentos inadequados de alunos dessa rede pública, mas não vou me estender. O fato é um só: aprender para evoluir criticamente já não é o objetivo da grande maioria! (Ou será que esse nunca foi e só agora me dei conta disso?)