terça-feira, 18 de agosto de 2009

VIDA REAL - Impressões de uma sessão (completa)

Acho que não poderia estrear uma coluna em melhor hora. Sou repórter do Jornal de Limeira e editor da coluna de Variedades. Mensalmente estarei neste espaço. Esta semana fui escalado para cobrir a sessão ordinária da Câmara de Vereadores. Apesar de política não ser o meu forte nem a principal área de interesse, assistir a uma sessão acabou sendo até que divertido. Com a ajuda da assessora de imprensa da Câmara, Junia Mariano, fui compreendendo alguns dos trâmites e vocabulário usados pelos parlamentares durante as votações de projetos, moções, questões de ordem entre tantas outras palavras que só quem acompanha frequentemente ou trabalha no local sabe.

Apesar de a Casa ter todo seu regimento e protocolo, algumas situações independem de conhecimento prévio para entender o que se está passando atrás daquelas mesas do plenário. O mais engraçado foi presenciar algumas discussões entre os vereadores. Por um momento até pareceram crianças brigando por motivos banais. O caso que mais fez o público rir foi a discussão entre o presidente da Câmara, Eliseu Daniel (PDT), e o petista Ronei Martins. No seu primeiro ano de casa, Ronei ainda deve estar se acostumando com toda a complicação e burocracia que há dentro do sistema Legislativo municipal. Exemplo disso é a convocação de uma audiência pública para tratar sobre uma tarifa social de energia elétrica. "É preciso lembrar ao vereador Ronei que só quem pode convocar audiências públicas é o presidente da casa", explicou Eliseu após o vereador anunciar a reunião que fará.

O divertido mesmo foi ver Eliseu discutindo com Ronei sobre o tempo de mandato de cada um deles. "Estou no meu nono ano de vereador e não falo isso para desqualificar ninguém", disse o pedetista. "Mas desqulifica", retrucou o vereador da oposição. "Mas eu tenho e você não tem", disse Eliseu nervoso. Com o clima esquentando, o presidente da sessão, César Cortez (PV), pediu suspensão dos trabalhos para os nervos se acalmarem. Ainda com o microfone aberto e sendo orientado por outros parlamentares sobre sua postura, Eliseu soltou: "Então manda ele ficar quieto".

O que ficou visível para quem assistia à sessão foi o racha entre os dois partidos. O assunto que gerou toda a discussão foi a carta entregue pela Guarda Municipal com denúncias de corrupção e irregularidades na corporação. Em seu discurso, Ronei relembrou os planos de governo do prefeito Silvio Félix (PDT) e foi repreendido pelos colegas da Casa por ter usado o assunto para fazer "politicagem", conforme definiu Eliseu em defesa ferrenha das ações de Félix para com a Guarda nos seus cinco anos de governo. "Quando o interesse é atacar o prefeito e não discutir os problemas da guarda eu não concordo", disse.

NA BRIGA

Também na briga, Elza Tank criticou o petista por sua atitude no plenário. Ela, que tentou pedir questão de ordem durante a votação da moção de apelo proposta por Eliseu ao prefeito Silvio Félix (para abrir canal de comunicação com os guardas grevistas), foi impedida de usar a palavra por que já havia opinado sobre o assunto - quem lembrou foi Ronei. Quando chegou sua vez de justificar o voto negativo à moção, Elza desabafou. Nervosa e em um discurso inflamado, o que é típico da vereadora, ela falou que Ronei queria ser o "salvador da pátria". "Tenho um recado do prefeito para os guardas municipais, mas vou falar fora da Câmara porque o vereador Ronei não quer ouvir a minha voz", disse. Ficando vermelha, Elza ainda tropeçou nas palavras. Ao pedir permissão para o presidente da sessão para que o cinegrafista a acompanhasse até o exterior da Casa, a parlamentar gaguejou: "Queria que o cinema... cine... ai não sai, é isso aí mesmo". Depois de sua fala, enquanto outros parlamentares, inclusive Ronei, justificavam seus votos, Elza se sentou ao lado de um guarda municipal na plateia. Com os olhos marejados, Elza foi monossilábica quando questionada se estava muito nervosa: "Ô".

SUPERELZA

Já do lado de fora, a recepção dos guardas municipais deve ter acalmado a vereadora. Um dos servidores inflou o ego de Elza: "A senhora consegue (negociar com o prefeito a incorporação de hora dos grevistas), a senhora tem poder e a gente que dem 20 anos de carreira sabe disso". Apesar do momento de glória frente aos guardas, Elza deixou escapar que as denúncias não deveriam ter sido divulgadas da forma como os guardas fizeram. "Vocês não deveriam ter feito a denúncia, era sigiloso", disse em conversa com a roda de guardas a céu aberto. No plenário, ela e outros vereadores governistas afirmaram que o prefeito não sabia do teor da denúncia. Já longe dos microfones e questionada pelos servidores sobre o porquê da afirmativa de desconhecimento do prefeito, ela deixou claro que a prefeitura estava tentando abafar o caso. Questionada sobre o caso, Elza fez uma parada dramática, suspirou e indagou: "Por que eu sofro tanto?"

DEFESA

A defesa que os vereadores da situação fazem de Félix é incrível e não afeta somente Martins. Um requerimento de Paula Hachid () que pedia a prefeitura o orçamento e os gastos feito pelo Centro de Promoção Social Municipal (Ceprosom) foi duramente barrado pela vereadopra Elza Tank (PTB). Hachi justificou seu pedido dizendo que "tem dificuldade em ver como estás endo aplicado o plano de ações, especialemte na parte financeira, e o orçamento destinado ao Ceprosom". Elza, dizendo que Hachid conhece o presidente da autarquia (Dionísio Gava Júnior), pediu uma revião do requerimento e que os parlamentares votassem contra a aprovação do requerimento "pela desconfiança e pelas palavras que foram usadas no" documento. O requerimento, como definiu Martins ao defender o pedido de Hachid, é o principal instrumento que os vereadores dispõe para fiscalizar o Executivo. "Se o vereador é impedido de fazer o requerimento ele é impedido de fiscalizar. Se o requerimento não traz nenhum constrangimento, aprovemos", disse. O documento foi rejeitado por oito votos a cinco.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Reportagem especial: Fazendo arte na adolescência, o fomento do tradicional ao contemporâneo

Publicada no Caderno de Domingo, páginas 6 e 7, de 16 de agosto


Ali não é preciso nenhum tipo de palco, iluminação especial ou cortinas para separar o público dos artistas. O assoalho de madeira e as paredes rosadas do Palacete Levy, no Largo da Boa Morte, centro de Limeira, servem de coxias, camarim, estúdio de arte ou ateliê. A Oficina Carlos Gomes, que movimenta a cultura e fomenta a arte em Limeira completou, na última sexta-feira, 12 anos. No local que homenageia um dos mais importantes operistas brasileiros, cursos de teatro, dança, artes visuais e uma infinidade de linguagens modernas e tradicionais são trabalhadas com um público variado, de iniciantes a profissionais formados que buscam nas oficinas gratuitas do local uma forma de estarem atualizados com o que está em voga em cada uma das áreas artísticas. De tempos em tempos o interior do prédio rosado da esquina das ruas Boa Morte e Alferes Franco e de janelas brancas se transforma em um difusor da arte contemporânea ou em precursor da contemporaneidade da dança, do teatro e das formas e se ver o mundo.

Entrando na adolescência, a Oficina Cultural já mostra os sintomas dessa fase há algum tempo. Provocar uma visão diferente de arte nos limeirenses e aguçar a criatividade e curiosidade dos artistas da cidade e da região são atividades que fazem da escola a diferença para quem quer caminhar pela estrada da arte ou usa ela para um hobby e terapia.

A escola surgiu de uma parceria entre a Secretaria de Estado da Cultura com a antiga Secretaria de Cultura, Turismo e Eventos de Limeira, em 1997. Ela faz parte da rede de oficinas gerenciada pela Associação Amigos das Oficinas Culturais do Estado de São Paulo (Assaoc). As escolas oferecem à população do Estado atividades gratuitas.

DE ALUNA A FUNCIONÁRIA

A atriz Tatiana Alvez é uma das frequentadoras do local. Desde a abertura da oficina ela participa das atividades promovidas pela escola e atribui a esses cursos a responsabilidade pela sua formação. "Eu sou autodidata, não fiz faculdade de artes cênicas, mas aprendi muita coisa nas oficinas da Carlos Gomes, que foram responsáveis por grande parte da minha formação", diz. Na opinião da atriz, os cursos oferecidos pela escola auxiliam na formação de artistas na cidade. Apesar de reconhecer a importância do curso superior, para Tatiana as oficinas auxiliam os artistas na hora da prática, no fazer a arte.

"Os cursos despertam a vontade dos alunos de buscarem mais novidades. Muitos fazem um determinado curso aqui para conhecer a área que escolheram e depois vão fazer faculdade e se especializar ou, pelo menos, têm uma noção para outra área. Algumas pessoas também vêm fazer curso de teatro, por exemplo, para perder a timidez, para ajudar na vida pessoal", diz. Tatiana além de acompanhar toda a trajetória da escola, hoje auxilia nos serviços internos do local. Ela trabalha na oficina há sete anos e atualmente é técnica de programação cultural. Ela é uma das responsáveis pela agenda do local. "As oficinas apresentam áreas e técnicas diferentes para os artistas, serve como uma atualização do conhecimento também", conclui.

DE ALUNO A PROFESSOR

Outro profissional que passou pelas salas do Palacete Levy, prédio onde as oficinas são realizadas, é o ator e professor de teatro Daniel Martins, 28 anos. Aos 17, ele e um amigo foram se inscrever para um curso de música no local, mas acabaram fazendo um de artes cênicas. Até aquela idade Martins confessa que pensava em fazer algum curso relacionado à Comunicação Social, como Jornalismo ou Publicidade e Propaganda, no Ensino Superior e seguir carreira em uma das áreas. "Eu já tinha uma tendência para o teatro, mas a Oficina Carlos Gomes teve um papel decisivo na minha carreira", diz. Dos cursos de teatro iniciante, para os intermediários e de lá para a graduação de Artes Cênicas na Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná. Além desse diploma, Martins também fez outra faculdade de Letras em outra instituição e voltou para a universidade paranaense para fazer mestrado em Literatura.

Cerca de dez anos depois de sua primeira oficina em Limeira, Martins voltou para a cidade e para as paredes chapiscadas do palacete, agora como professor. Por volta de 2006, o ator ministrou uma oficina de literatura no local. O curso, que não tinha uma expectativa tão grande de público, teve todas as vagas preenchidas. Daquele ano até hoje, Martins continua a oferecer os cursos de literatura e teatro na oficina. "Eu olho para os alunos e lembro de muita coisa da minha época", conta em tom saudosista.

Para ele, que também atribui às oficinas do local um papel fundamental para a formação, a programação de cursos para Limeira e para os artistas da cidade são um centro de formação e fomento da arte. Martins conta que, na sua trajetória no local, teve oportunidade de entrar em contato com profissionais gabaritados no mercado. "Logo no começo, pouco tempo depois de ter entrado na oficina, tive contato com profissionais consagrados, cada um em sua área. Dessa forma, a oficina não só oferece uma variedade grande de cursos para a população, como também coloca os alunos em contato com essas peças renomadas".

Martins, além de estar na grade da oficina como um dos coordenadores dos cursos de teatro e literatura, desenvolve um projeto em Iracemápolis que envolve crianças de sete a 14 anos com textos de escritores clássicos como Shakespeare e Machado de Assis. O projeto chamado Núcleo de Vivência Teatral é uma proposta que trabalha um teatro inteligente com as crianças.

DE CIRCO A FOTOGRAFIA



Apesar de oferecer cursos de inúmeras linguagens, o público da Oficina Carlos Gomes tem suas preferências. Segundo o coordenador do local, Robson Trento, as áreas de maior procura são as relacionadas com artes visuais, cinema de animação, fotografia e teatro. Além destas, frequentemente a oficina traz novidades para Limeira. "Nós procuramos fomentar todos os tipos de arte e inovamos também nessas oficinas. Quando trouxemos a primeira exposição de arte contemporânea, o público não sabia direito o que estava vendo, não estava acostumado", conta. Circo, dança contemporânea, produção de máscaras, formação de público, contação de história, entre outras categorias fazem parte desse leque de opções que caminha entre a arte tradicional e a moderna.

Além dessas inovações nas linguagens, a oficina também trouxe para Limeira profissionais reconhecidos no mercado. Passaram pelo prédio a atriz Rose Campos, o cineasta Carlos Reichenbach, a dançarina contemporânea italiana Cristina Salmistraro, o diretor de teatro Antunes Filho e o grupo teatral "Os Parlapatões" - que participou da abertura da oficina, em 1997, quando ainda não era famoso, segundo Trento. "Além de pessoas 'famosas' e de renome, a Carlos Gomes também conta com profissionais que começaram seus estudos e a vida artística aqui, foram estudar fora e voltaram para ministrar alguma oficina ou nos ajudar no planejamento, como Daniel Martins e Tatiana Alves", diz.

Os resultados das oficinas também fazem história. "Um dos filmes de animação que fizemos na oficina desta área foi exibida no AnimaMundi, um evento reconhecido internacionalmente", relata Trento. Responsável pela oficina - pois levou Limeira ao mais importante festival de animação do mundo - o animador Maurício Squarisi, 50, considera Limeira um polo de produção na área.

O profissional atua na oficina desde 2000, quando ministrou seu primeiro curso na cidade. Ele é um dos fundadores do Núcleo de Cinema de Animação de Campinas, entidade também reconhecida na produção de vídeos do gênero. Na oficina de estreia, o resultado das aulas contou com o vídeo "Ao Pé de Limeira", que conta a história da cidade por meio dos desenhos animados. Este e outras sete animações fazem parte do acervo da oficina. "Poucas cidades têm um acervo como esse, por isso consideramos a cidade um polo de animação", comenta.

Na visão de Squarisi, Limeira já poderia ter um estúdio de produção de animações. "Nós não conseguimos que o mesmo grupo de alunos continuasse nas oficinas ano a ano. Se o grupo de 2000 ainda estivesse participando dos cursos no local, nós teríamos um estúdio formado. Os participantes dessas oficinas são interessados no assunto, assumem o compromisso da produção e vão até o fim", conta. Empenho esse que é reconhecido nos festivais dos quais as animações participam. "Todo filme tem sido aceito em festivais com seleção rigorosa como o AnimaMundi, no qual cerca de 1,3 mil animações são inscritas e somente 300 são selecionados para a mostra". Este ano, o animador coordenou mais uma oficina que teve como resultado a animação "Sossega Leão", um clipe animado da música "Camisa Listrada", interpretada por Carmen Miranda. O vídeo ainda será lançado pela oficina e faz parte do acervo do local.

Além dos desenhos, documentários e curta-metragem também se destacam na produção da oficina. Um curta produzido pela Oficina Incurta, da produtora Nada Audiovisual, de Paulínia, ganhou espaço no 37º Festival de Gramado. O vídeo "Simplesmente, Hilda" fala sobre a escritora brasileira Hilda Hilst e instiga quem o assiste a conhecer a autora de cerca de 40 obras, conforme conta o cineasta limeirense e sócio da produtora, Ricardo Dias Picchi. O curta produzido no final de 2007 faz parte de um projeto homônimo da oficina surgiu a partir da ideia de oferecer aos alunos um suporte técnico para a produção dos vídeos. "Simplesmente, Hilda", que foi produzido pelas alunas da oficina Jéssica Zuzi e Camila Oliveira, já participou de dez festivais da área.

COMEMORAÇÃO

As comemorações dos 12 anos começaram na sexta-feira. Durante o mês de agosto, a casa exibe a 2ª Mostra de Arte Contemporânea (Mosca). Além de expor obras de artistas de Limeira, Campinas , Piraciaba, Rio Claro, Santa Gertrudes e Piraciaba, a oficina cultural também irá promover dois workshops. Os responsáveis pela palestra são os artistas Marcelo Salum e Cláudio Cretti, os dois de São Paulo (confira na programação). Cretti, segundo Trento, é um artista plástico de renome na capital. "Os dois artistas são muito bem conceituados no meio artístico de São Paulo, mas Cretti tem peças expostas em vários museus de São Paulo", conta o coordenador. Assim como em outras oficinas da casa com artistas de renome, relacionados anteriormente, a participação de Cretti é encarada por Trento como uma possibilidade de os limeirenses trocarem experiências com um profissional conceituado no mercado. "Esse intercâmbio é muito importante para a arte da cidade. No workshop o artista deixa de ser alguém que está simplesmente expondo
uma obra, ele se aproxima dos alunos, do seu público que tem a chance de tirar todas suas dúvidas e descobrir como é o processo de criação desse artista".

Além da mostra de artes, a escola adolescente se prepara para receber novos alunos, de jovens como ela a adultos e idosos, nos próximos meses em novos cursos. Na grade da escola estão cursos de moda, fotografia, pintura, teatro, entre outras. Ainda crescendo, a oficina continua ali, formando artistas no prédio centenário no centro de Limeira, com seu trabalho inovador e instigante.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Vamos mostrar serviço




Na última segunda-feira (dia 10) o verador Farid Zaine (PDT) apresentou um requerimento na sessão da Câmara dos Vereadores, com o objetivo de incentivar a cultura da cidade. O documento destinado à Prefeitura de Limeira questiona sobre a possibilidade de o poder Executivo "enviar, semestralmente, junto da cesta básica do servidor público municipal, uma obra literária de escritor brasileiro, de gêneros diversificados" , conforme informa o blog do parlamentar (leia post aqui).

A medida de Farid é semelhante ao projeto proposto pelo presidente Lula (PT) no mês passado. O petista apresentou em São Paulo, com grande cerimônia, o Vale Cultura. Na mesma linha do vale alimentação, esse novo vale irá dar R$ 50 mensais para os trabalhadores. O projeto especifica quais empresas podem dar esse vale aos funcionários - que terão um valor relativamente baixo descontados no salário. Cópia? Não sei.

O fato é que o projeto do verador apresenta alguns problemas. O primeiro deve ter sido falta de atenção ou de memória do veredor e trata sobre a forma como esses livros serão distribuídos para os servidores públicos municipais. Segundo o texto que Farid apresentou no blog, ele quer saber se é possível integrar o livro na "cesta básica dos funcionários". Agora perguntamos: QUE CESTA BÁSICA? Ou o vereador perdeu a memória do tempo que trabalhava no Executivo como secretário da Cultura (e recebia o salário junto com os servidores), ou sabe-se lá o que Farid estava fazendo quando pensou na proposta. Os funcionários públicos há poucos meses estavam brigando pelo aumento do salário, muito foram até a Câmara reclamar da intransigência do prefeito Silvio Félix na negociação. A presidente do sindicado dos servidores (Sindsel) usou a tribuna livre (se não me engano) mais de uma vez para apresentar as reivindicações da classe e entre elas estava o pedido de aumento do TICKET ALIMENTAÇÃO, não da cesta.

Há muito tempo que funionários não ganham aquela centa que vem macarrão, óleo e feijão. Pra ser sincero eu nem sabia que funcionários um dia ganharam isso. Hoje na redação do JL, quando li a notícia na caixa de entrada de um dos e-mails comentei em voz alta sobre a proposta e indagamos justamente esse ponto da proposta. "Como o Farid quer mandar livros para os funcionários junto com a cesta básica, se o funcionários não ganham cesta básica?". Uma das repórteres da redação ainda lembrou que antigamente uma parente sua recebia a cesta, mas deixou de recebê-la faz anos. Essa mesma repórter conversou com o vereador para escrever uma matéria sobre o caso. Quando ele foi questionados sobre o fato da cesta e a inconsistência da ação por conta de os funcionários receberem o ticket no cartão, o parlamentar foi evasivo. Primeiro disse que os livros seriam enviados mensalmente. Depois ligou na redção para se corrigir e disse que era semestralmente. Insistiu que as publicações iriam junto com a cesta, depois corrigiu dizendo que vai junto com o vale. Agora pergunto: Como o livro vai junto com o vale alimentação? Não vejo meio. A não ser que, se o prefeito acatar o pedido do vereador e resolver dar esses livros, estipular que cada secretaria fique responsável por entregar o exemplar junto com o holerite de julho e dezembro. (Piadinha: Livro acompanha uma cestinha com um doce e um salgado)

LISTINHA

Apesar de ser só um questionamento para o Executivo, é mais um requerimento somado à lista de serviço apresentada hoje no mesmo blog (veja aqui). Na relação de seu trabalho como parlamentar está quantificado todas as suas ações e entre elas estão "23 requerimentos". O do livro está no meio.

Outra inconstância do requerimento: um livro a cada seis meses? Isso é incentivar a leitura? Seriam dois livros por ano para funcionários que, geralmente, tem família, filhos em casa. Soma-se os outros integrantes da casa, seriam dois livros por ano para uma média de quatro pessoas (funcionário mais cônjuge e 2 filhos). Ou os limeirenses leem muuuuuito devagar, ou o vereador acha que a quantidade é suficiente para os servidores! (Piadinha dois: Se o funcionário não ler em seis meses, não vai poder retirar o outro exemplar no próximo semestre!)

GASTOS

Uma das primeiras coisas que aprendi sobre o serviço do legislativo é que os parlamentares não podem apresentar porjetos de lei que gerem custos para o Executivo - provável princípio usado pelo vereador para apresentar um requerimento e não um projeto de lei. Até porque essa medida não deve ficar lá tão barata (apesar de ser um investimento mais que necessário, desde que mensal). Uma pesquisa recém-divulgada pela Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe) em parceria com a Câmara Brasileira do Livro (CBL) mostrou que o preço médio de um livro é de cerca de R$ 8,50.

Em matérias da época da greve dos servidores, o Jornal de Limeira divulgava um número aproximado de 5 mil servidores públicos. Fazendo as contas, seria um gasto semestral de cerca de R$ 42.500. Um valor irrisório para uma prefeitura que gasta R$ 1,5 milhão na construção do Museu da Joia Folheada, e ao mesmo tempo, (nesses dias de reflexo da crise eonômica mundial), deve ser caro para a mesma prefeitura que bateu o pé contra o aumento exigido pelo sindicato na época do dissidio e que atualmente fez reunião com todos os funcionários responsáveis pela área de Recursos Humanos das secretarias e manda conter despesas, desistir da contratação de novos funcionários e pedir para todos os comissionados e efetivos colaborarem com os serviços dentro dos departamentos, mesmo que varrer uma sala não seja atribuição de seu cargo.

FURADAS

Nas atividades feitas pelo mesmo vereador, e noticiadas em seu blog (claro!), também está o pedido que Farid fez ao presidente da Câmara, Eliseu Daniel (PDT), para colocar o hino de Limeira no site da Casa. Farid que está tão envolto com a internet esqueceu de fuçar um pouco no site de seu próprio trabalho. O hino de Limeira está no site, sim, e quem alertou sobre a gafe do vereador foi o ex-assessor de imprensa da Câmara João Paulo Baxega pelo seu twitter (@jpbaxega).

Eis o mapa do hino: entrando no site da Câmara, na coluna de botões da esquerda há o item "História da Cidade"; dentro dele está um texto bem grande e no final da página está mais um link chamado "Símbolos do Município" (o hino nacional é considerado um símbolo - isso aprendemos no Tiro de Guerra); e eis que chegamos à mina do tesouro (veja-o aqui). Talvez o vereador esteja acostumado com o site da Prefeitura de Limeira onde algumas informações fundamentais também estão faltando. Pelo menos não consegui encontrar o ano de fundação da cidade no site um dia que precisava para uma reportagem. Ou eu estava dopado, ou realmente não tinha nada lá.

LISTINHA 2

Agora um questionamento interessante. O que será que são os outros 22 requerimentos, as 58 indicações, os 14 projetos de lei, 2 projetos de resolução e as 15 moções? Confesso que não tenho acompanhado de perto o trabalho do vereador e me recordo pouco de toda sua atividade na Câmara. O que mais sei sobre ele é que é um parlamentar que está trabalhando pela cultura da cidade, vide as várias visitas de artistas em seu gabinete e sua constante participação nos eventos da pasta. Mesmo assim tenho certeza que alguns projetos fundamentais envolvendo a secretaria da Cultura ele não apresentou. Eis algumas dicas para o Farid:

- Questionar a prefeitura sobre como anda a investigação das 13 obras que sumiram em 2005 do "Museu Histórico e Pedagógico Major José Levy Sobrinho" - afinal de contas Farid era secretário quando as obras "sumiram" e deveria zelar, ou no mínimo estar preocupado com o paradeiro de parte do acervo (tombado) do museu;

- Cobrar a prefeitura sobre a reforma do Palacete Levy, onde funcionários estão trabalhando debaixo de um forro feito de tecido TNT cinza e as principais salas têm buracos no assoalho de madeira que machucam alunos que fazem aulas descalças no local. E onde inclusive foi instalado um departamento (ou um escritório, base, sede) para os Agentes de Trânsito;

- Cobrar também da Prefeitura uma resposta definitiva sobre a contratação do funcionário fantasma denunciado pelo Jornal de Limeira que expôs a mesma secretaria ao ridículo. Pasta que se mobilizou para entregar documentos (de origem duvidosa, uma vez que não apresentam características oficiais, como papel timbrado) à comissão do legislativo que investiga a irregularidade;

- E sobre o teatro vitória? Nada de errado? (...)

- E sobre as denúncias de assédio moral envolvendo o diretor da cultura? Nos bastidores também correm outro boatos sobre esse caso, pessoas querendo trazer à tona casos do passado, outras pessoas ajudando, funcionários revoltados e sendo colocados de escanteio... isso é excesso de capacidade ou outra coisa?

- Também deveria fazer um requerimento soliitando a prefeitura a contratação de professores de artes plásticas. No concurso que prestei em 2007 para professor de dança v´´arias pessoas foram aprovadas para professor de artes, mas até hoje não foram convocadas. A Secretaria não tem mais o curso que costumava ter até teste prático para selecionar os alunos;

Para quem defende tanto a cultura, está deixando a antiga casa de lado às moscas e aranhas, e pelo o que me lembre, nenhum desses itens foram levantados.

PERGUNTA

Se a comissão que investiga o caso do fantasma conversar com Farid sobre o caso, qual será a resposta que ele dará sobre o sumiço? Afinal ele era o secretário em 2005 e envolvidos no caso alegam que foram reclamar com ele sobre a retirada das peças do museu... relato inclusive já entregue ao MP. Reforço o intertítulo: isso é um questionamento, não uma acusação. [Adendo: o secretário de Cultura, Adalberto Pedro Mansur - aquele que fez um boletim de ocorrência contra mim - deve depor na mesma comissão nesta sexta-feira. Gostaria de estar lá para ouvir os argumentos que serão utilizados e ver também se ele vai ficar tão nervoso quanto estava no dia 'conversou' comigo na escola (sobre a porta)]

AINDA SEM RESPOSTA

Aproveitando que citei o funcionário fantasma, ainda não recebi as respostas das perguntas que fiz para a Assessoria de Comunicações da prefeitura sobre o caso. Segundo o assessor Ricardo Wollmer, que não está conseguindo obter a resposta, ninguém responde ao assunto. Por que será?

DETALHE CURIOSO

Não lembro se já postei isso no blog, se sim vale reforço. Quando tratamos das obras do museu com a Assessoria de Comunicações da Prefeitura, não se pode dizer que os quadros foram "roubados", usei o verbo em conversa com o departamento certa vez e fui duramente corrigido "eles estão desaparecidos"... sem comentários. Se alguma coisa fosse tirada da minha casa sem a minha autorização ou sem eu ficar sabendo e, claro, eu não a encontrasse em nenhum cômodo do local, minhas coisas estariam desaparecidas ou foram roubadas?

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Pré-coluna VIDA REAL - Claudete e as compras

Devo começar a escrever uma coluna na página dois do Jornal de Limeira nos próximos dias. Agosto está sendo um mês de mudanças, ou da concretização de mudanças pelo o que entendi das últimas conversas oficiais, e uma delas foi a estrutura da página de opinião do jornal.

Agora com mais espaço para artigos, os repórteres da redação passarão a escrever semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente (meu caso). Uma medida bem legal essa porque muitas vezes nós, repórteres nos vemos impedidos de colocar a boca no trombone por conta da imparcialidade que deve-se ter na redação das matérias e reportagens.

Como ainda não sabia com certeza a data da coluna (só sei que é na próxima semana) me confundi e preparei um texto para essa semana. Ele deveria (na minha cabeça) ter saído quarta-feira. Para não perdê-lo, uso como uma pré-coluna aqui no blog.



VIDA REAL

Hoje é meu dia de estreiar neste espaço do Jornal de Limeira. Apesar de dever me apresentar e colocar à disposição de todos os leitores que quiserem me enviar e-mail com sugestões e ideias para o espaço, preciso mesmo que vocês conheçam a Claudete.

Claudete é uma mãe de família, na casa dos 50 anos, com dois filhos praticamente criados e que, apesar de ser uma personagem de ficção, passa por situações de uma vida bem real. Cedo espaço a ela hoje.

No último domingo, essa mulher baixinha e de passos bem largos e apressados não conseguiu provar sua velocidade de pensamento e de locomoção ao ser surpreendida pelo anúncio de um televisor de 42 polegadas por um preço que era uma pechincha.

Explico. Claudete há muito tempo sonhava com uma televisão grande para sua sala, que aliás há pouco tempo ganhou um lindo hack de madeira escura. Depois de fazer a contabilidade pessoal e a pesquisa de preços em lojas da cidade, ela finalmente se decidiu pela marca e modelo e saiu no começo da noite de sábado determinada à comprar o tal televisor. Apesar de ser exato começo de mês - dia 1ª de agosto, ou seja, dia em que os trabalhadores ainda não receberam o salário -, ela teve que enfrentar fila para entrar no supermercado onde compraria o aparelho e mais fila na hora de conseguir a nota fiscal da sua compra. Ao ver toda aquela gente atrás de equipamentos da linha branca, marrom ou qualquer outra cor que estivesse em um preço bom, se lembrou das notícias de crise pelas quais passou o olho há meses atrás. “Nem parece mais aquele pessoal assustado, com medo de perder o emprego de repente”, pensou.

O fato presenciado por ela foi até manchetado pela revista Exame, especializada em economia. Na edição do dia 29 de julho a publicação trouxe na capa: “Uau! Voltamos a crescer!”. Com uma reportagem de Fabiane Stefano, o exemplar expôs informações sobre o aquecimento do setor de lavadouras de roupas, computadores, fusões entre lojas varejistas, entre outros números e estatísticas. O fato noticiado é que o pior da crise já passou na opinião de especialistas. Para Limeira a situação parecia até ser parecida. Afinal, há poucos dias ela ouviu o marido de sua sobrinha comentar que na multinacional onde ele trabalha os demitidos estavam sendo recontratados...

Apesar de estar ali, preto no branco, a notícia era visível naquele sábado de compras de Claudete. Mais presente ainda quando o locutor do supermercado anunciou que naquele exato momento cinco unidades de um televisor tela-plana de 42 polegadas de uma outra marca acabara de entrar em promoção. Só R$ 1.980. Menos de dez minutos e só restavam três. Claudete já estava pegando a nota fiscal de um aparelho com as mesmas características, mas de outra marca, quando ouviu o anúncio. Era tarde.