Mostrando postagens com marcador crítica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crítica. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Rachel e a liberdade de opinião exacerbada

A discussão surgiu de uma postagem no Facebook sobre o caso da âncora do jornal do SBT, Rachel Sheherazade e a opinião emitida por ela a respeito do “marginalzinho amarrado ao poste” e os justiceiros que fizeram tal ato. Há uma petição on-line contra a jornalista e foi justamente a partir do compartilhamento dessa petição que a discussão se iniciou.

Um dos meus contatos estava indignado pela reação contra a jornalista lembrando que na época das manifestações de junho de 2013 ela tinha sido aplaudida de pé por ter se mostrado “muito guerreira, destemida e corajosa, por falar abertamente da realidade pobre da política brasileira”, segundo ele. A indignação dele era vê-la sendo “achincalhada” por ter cometido um erro.

O problema dela, contudo, é que não foi um único erro. As opiniões dela vêm incomodando há um certo tempo já. A opinião é livre, mas na posição que a jornalista está essa liberdade é carregada por uma responsabilidade enorme, ainda mais com o público que o jornal do SBT atinge. Muita gente ainda confere aos jornalistas a voz da verdade e da sabedoria, principalmente aquelas pessoas que não tem tanto estudo pra enxergar os interesses e o jogo de poder que estão por de trás dessas manifestações que a Rachel emite. O texto pode nem ser dela, tornando-a um bode expiatório dos editores do jornal, mas quando ela abre a boca toma a autoria da fala pra si e parece não pensar nem um pouco nas consequências que essas palavras podem ter para os telespectadores. Este é, pra mim, o real problema.

A liberdade de opinião as vezes da uma dessas: “as pessoas são tão expostas como são, e se acham cada vez mais no direito de julgar e conjugar os verbos”, como esse contato disse. No fundo eu acho que o problema é a falta de consideração sobre o que se está falando. A maioria esquece que tem dois ouvidos e uma boca e, infelizmente, cada vez mais estão perdendo a capacidade de pensar e refletir sobre o mundo. E quer exemplo mais claro disso que as próprias palavras da jornalista: “ficha mais suja que pau de galinheiro”? Além do péssimo gosto para metáforas, o uso do conhecimento popular mostra que a linguagem está direcionada para um público específico. É justamente aí que mora o perigo nessa história da Rachel. Imagina uma mãe de família que, por uma injustiça social, não conseguiu terminar nem o Ensino Fundamental ouvindo essa mulher falar. Assim como o BBB, no dia seguinte o assunto da rodinha de amigas vai ser as palavras da Rachel, quem saiu do reality e o que aconteceu nas novelas X, Y e Z. há 27 minutos ·

A opinião é um assunto tão complicado que tem telejornais que sequer usam ancoras mais. Na contramão, os jornais da TV Cultura se abstêm de colocar um âncora e levam acadêmicos e estudiosos pra comentar as notícias. É um modelo excelente uma vez que eles colocam quem realmente estuda os assuntos a fundo e têm propriedade pra dar uma opinião concreta. Jornalistas, geralmente, não têm essa capacidade porque saem da graduação tão despreparados quanto um adolescente sai do Ensino Médio e que se vê forçado a escolher uma carreira a todo custo. É preciso anos de estudo, de profissão e de profissionalismo pra emitir uma opinião concreta e sólida. E acima disso, é preciso inteligência e discernimento para pensar na reação que as palavras terão junto ao público.

A opinião da jornalista representa, de certa forma, uma parte da população: a “classe média que sofre”. São aquelas pessoas que só enxergam problemas no Brasil e não conseguem ver que nossos problemas sociais e econômicos são causados, também, por nós mesmos quando nos abstemos de lutar por um país com menor desigualdade. O governo pode até ter criado os “usurpadores”, como meu contato se referiu aos beneficiários de programas sociais, quando fez o Bolsa Família e as infinitas bolsas. Todo sistema tem suas falhas, mas de que outra forma seria possível reduzir a pobreza e diminuir a distribuição de renda que existe no país? O Bolsa Família, por exemplo, tem uma contrapartida na educação. A educação, infelizmente, ainda está engatinhando depois dos tombos que levou por conta das reformas passadas. Mas vai ser só por meio dela que vamos conseguir sair da condição que estamos e tentar caminhar com passos um pouco mais largos.

Aí é que entram os jogos de interesse. Qual o interesse que os mais ricos têm de dar educação para a população? Pra quê fazer a massa pensar e raciocinar e abrir mão da política do pão e circo que está aí há séculos, desde que Portugal resolveu trazer as caravelas e despejar o instinto contra o trabalho e disseminar esse paternalismo exacerbado que só enxerga os interesses políticos com o custo de um jeitinho abrasileirado? É uma herança que temos e uma condição do capitalismo que ainda marca essa injustiça social. Karl Marx em O Capital, livro 1, já retratou a falta de interesse em fornecer educação para a população e mostrou como os trabalhadores daquela época eram explorados pelos capitalistas. O que mudou desde então quando o tema é educação?

Agora, sobre o caso do "marginalzinho", quem prova que ele tinha feito algo realmente? Se fez, quem tem o direito de tomar o poder nas mãos e prender o indivíduo num poste com a trava de bicicletas? É realmente um ato desumano o que fizeram com ele. Nesse sentido, porque as palavra dela não foram em defesa da educação nesse país ou de melhora no sistema carcerário? Fornecer ensino nos presídios e programas de capacitação no lugar de deixar mil presos numa cela pequena aprendendo ainda mais a como ser um bandido pode ser uma solução e uma causa para a campanha lançada no telejornal "Adote um bandido e dê a ele a oportunidade de estudar e tentar ser alguém". Ai entram os defensores da “classe média sofre” e pensam no dinheiro público gasto com “marginais”. Contudo se esquecem que esse problema não é do indivíduo, mas sim da sociedade.


As palavras da jornalista, no entanto, foram carregadas de preconceito, esse preconceito "classe média sofre" porque um marginalzinho na rua vai roubar o iPhone dela para comprar drogas, uma vez que foi excluído da sociedade e da possibilidade de estudar e conseguir dinheiro por meios legais e dignos. As drogas e a violência é um problema social com uma solução a conta gotas, ficar propagando o preconceito e discriminação de classes da forma como ela e o SBT fizeram não vai ajudar em nada.

Entrevista da Sheherazade quando entrou no SBT (indicada por Rodrigo Cezarin em comentários no Facbook)

Vídeo da jornalista sobre Justin Bieber e sobre o "Marginalzinho preso ao poste"

domingo, 25 de agosto de 2013

Reflexões sobre crítica heterodoxa e o jornalismo econômico


Recentemente me peguei pensando em como a crítica ou o pensamento crítico de esquerda enxerga o Brasil, crítica ou pensamento crítico estes sintetizados em algumas das disciplinas de graduação do Instituto de Economia da Unicamp. Conhecido por seu caráter heterodoxo e mais humano que exato, o curso traz para os alunos algumas abordagens que, segundo professores, não são vistas em qualquer curso de economia no Brasil.

O exemplo mais patente que tenho do sexto semestre de curso é a discussão sobre economia industrial, tema chave da disciplina de Microeconomia 4 na qual toda a construção neoclássica é deixada de lado e autores como Labini, Bain, Steindl, entre outros, surgem mostrando, por exemplo, como não basta discutir a formação de preço por meio de contas exatas e 100% previsíveis, como prega a corrente ortodoxa. No lugar de cruzar curvas de oferta e de demanda para determinar o preço, ou mesmo ao invés de acreditar que o mercado capitalista é atomizado (com grande número de empresas) e que a entrada de mais uma não prejudica as demais, pintando um cenário pacífico de rivalidade zero e harmonia mil, a crítica heterodoxa mostra que a história por detrás da estrutura do setor é importante. Esses pensadores vão colocar o dedo na ferida: na margem de lucro, pouquíssimo questionada no mundo real.

Voltando um pouco nas disciplinas dos outros semestres e lembrando uma conversa que tive com amigos, discutimos no curso a formação econômica do Brasil não apenas com base nas estimativas, nos dados históricos e estatísticos passados. A construção economia brasileira é vista também pelo lado social, pelo lado das relações de força, de poder, de interesses. Não é possível entender a vida hoje sem olhar para o passado e constatar que há traços fortíssimos da Casa Grande e da Senzala ainda hoje. As relações de poder são reafirmadas todos os instantes na mídia e no cotidiano do brasileiro. Raras são as pessoas que no seu primeiro estágio ficam constrangidas quando a faxineira do escritório questiona se ela pode limpar sua mesa e pensa na distância entre elas, isso dado que nos é colocado como normal, como necessário, como parte de nossa vida. Vide o tamanho das discussões que a legislação para regularizar empregadas domésticas causou na mídia.

Com essa bagagem de leitura e discussão (ainda pequena, mas crescente) me peguei questionando a mim mesmo e a meus colegas sobre a visão estritamente de esquerda colocada por alguns professores na construção da economia brasileira. Conflitando com o que aprendi no jornalismo sobre imparcialidade, multiplicidade de vozes e demais conceitos relacionados, cheguei a pensar que fosse talvez necessário haver leituras sobre o que o pensamento ortodoxo defende sobre a formação de nossa economia e de nossa história. Um amigo chegou a comentar que a articulação de defensores do pensamento ligado ao mainstream é muito fraca e pouco estruturada. Esse ponto fica mais que claro quando começamos a fazer a crítica à microeconomia neoclássica, mas outro ponto também é importante e deve ser considerado: a crítica heterodoxa já traz em si a visão de mundo ortodoxa. Criticar o homem cordial, os interesses da burguesia agrária e cafeeira contra a industrialização brasileira, a recusa da elite brasileira contra a reforma agrária, a distribuição de renda, a exploração do trabalhador, a busca incessante pelo lucro na economia capitalista, a recusa de se rever a margem de lucro das empresas, entre tantos outros pontos, já nos faz pensar em como é esse pensamento ortodoxo, em como é a realidade brasileira ou capitalista que cada autor enxergou ao defender seu ponto de vista e a realidade que enxergamos até hoje. O esforço de um crítico heterodoxo parece ser redobrado porque ele precisa enxergar o que já está cristalizado na opinião pública e tentar conquistar as mentes e abrir novos horizontes a fim de colocar uma semente que faça as pessoas pensarem fora de sua zona de conforto e passar a questionar o mundo a sua volta.

Da economia para a crítica ao jornalismo econômico, fica evidente a não aplicação desse raciocínio na mídia brasileira. É mais do que conhecido que a crítica de esquerda tem pouca ou quase nenhuma voz. Sendo assim, a crítica fica restrita a visão de direita com raízes fortes num pensamento ortodoxo. Essa crítica da mídia, contudo, nega uma função básica do jornalismo que é a multiplicidade de vozes, ou seja, dar voz a todos os lados envolvidos no assunto abordado. Isto está por trás do mito da objetividade e da pregação a favor da imparcialidade do jornalismo. Mito este que cai por terra fácil quando questionado, mas que está aí para talvez tentar sustentar a imparcialidade da mídia. E por imparcial não significa que o veículo precisa deixar de levantar a bandeira de um partido ou de outro. Significa que é preciso ser honesto com o leitor e apresentar os argumentos distintos e conflitantes que estão por detrás de uma política fiscal, monetária; de redistribuição de renda ou de acesso à educação superior.

A crítica ortodoxa parece ser contra todo e qualquer argumento que não lhe é familiar. Faz isso sem ao menos tentar mostrar qual é a construção feita pelos seus opositores. E se isso é verdade no campo das ideias, se materializa com força na pratica do jornalismo econômico. Essa afirmação fica clara quando se tenta ler um jornal que aponta que o mercado de trabalho está aquecido e que é preciso cortar postos de trabalho para desacelerar a inflação. Ou este mesmo jornal que dá as mãos às instituições que reúne as cabeças dos principais bancos e passa a defender que a queda dos juros básicos (Selic) é ruim para a economia brasileira. Pior ainda são as abordagens sobre a apreciação do câmbio sem ao menos considerar as ações dos Estados Unidos nessa escalada do dólar para preservar interesses maiores de uma parcela minúscula da sociedade e mostra um Banco Central brasileiro incompetente ou dirigentes da política monetária brasileira alheios e despreocupados com a realidade do lado de fora da caixinha.

Ainda não me deparei com uma afirmação que diga ser condenável um veículo de comunicação se aliar a uma corrente política ou econômica e também não acho que seja. O problema, contudo, é quando esta aliança é feita sem maiores esclarecimentos aos leitores e a palavra passa a ser um instrumento de manipulação poderosíssimo nas mãos desses interesses e interessados. Sem tempo para refletir sobre o mundo que as cercam, as pessoas não param para refletir sobre as informações que recebem. A prova disso são as pesquisas sobre os hábitos de leitura dos brasileiros. Do mar de gente que toma metrô todos os dias, que dirige nas estradas ou ruas, e trabalha no mínimo oito horas por dia, quantos são aqueles que, em primeiro lugar, leem um jornal e, sem segundo, leem mais de um jornal para contrapor as informações que obtiveram no primeiro? Mais ainda: quem é que lê um jornal com pensamento de direita e tenta se informar numa revista ou outro veículo de esquerda para conflitar os argumentos?

Dos leitores aos mensageiros, que jornal expõe um debate claro e imparcial nas suas páginas? Basta fazer um levantamento sobre quais as fontes primárias consultadas para se fazer as reportagens do noticiário econômico e quem são os articulistas que assinam as colunas diárias. Numa matéria sobre a taxa básica de juros, por exemplo, o grosso dos consultados são ligados aos bancos e consultorias. Tudo bem que a tal taxa afeta primordialmente o setor bancário, mas qual o lugar do debate contra o pensamento dos bancários e especuladores? Os interesses deles são sempre claros, vide o ódio que eles sentiram quando a presidência da República resolveu enfrentar o setor com o choque da Selic diminuindo de dois para um dígito a taxa básica e a reação nos e dos jornais que estão ligados a estes interesses.


Uma crítica de esquerda consegue te mostrar como é a realidade, o porquê dela ser assim e como ela poderia ser melhor numa única mensagem. A crítica da direita consegue reafirmar que a realidade é aquilo, e tão somente aquilo, que eles acreditam, usando porquês que manipulam as palavras com a finalidade de omitir ou desacreditar todo e qualquer argumento que não esteja na mesma sintonia de seus interesses. E o jornalismo econômico da grande mídia? Vai junto neste bonde, claro.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Onde foi parar a polifonia de vozes? São mesmo só "vândalos"? (Carta aos colegas jornalistas)

Colegas jornalistas, a grande imprensa continua nestes dias de manifestação com dois discursos muito claros que precisam ser refletidos.

O primeiro é o apartidarismo/anti-partidarismo que se é pintado das manifestações. Um sociólogo bem intencionado vai saber falar melhor que eu, mas é preciso ver o que está por detrás disso. Negar a representatividade de todos os partidos, expulsar os partidos que são legitimamente a favor das mesmas causas que estão nas ruas, e negar todo e qualquer militante simpático à causa da juventude tem um valor em si que pode ser preocupante. Pode ser que PT e PSDB não represente mais a população, mas existem partidos menores que têm uma luta perfeitamente parecida com a de muitas pessoas que foram para as ruas ontem. E se não se identificam com eles e esses manifestantes ainda acreditam no seu partido, é hora de o jovem ir até esse partido e questionar a visão de seus dirigentes para adequar as visões de ambos os lados.  Qual o perigo de continuar se propagando que o povo é contra partidos? Fascismo, nacionalismo...? (para pensar)

O outro é o silenciamento da mídia em relação aos vândalos. A violência não é o melhor caminho, mas quem pode assegurar que os políticos vão realmente mudar alguma coisa com a onda de protestos e não vão cruzar os braços e esperar os vários jovens que não usam ônibus entrar em férias e irem passar uma temporada na Disney e dispersar o movimento? O que está por detrás de uma pedra jogada contra a prefeitura e contra a polícia? Não estou defendendo o uso da força, mas há de se considerar que grandes revoluções da história, que efetivamente mudaram o rumo daquelas sociedades foi sim pelo uso da violência (vide as cabeças cortadas na França, por exemplo, os tempos são outros, mas será que o povo também é?).

Portanto, esta é uma hora de o jornalismo usar de seu conceito básico que é a polifonia de vozes: é preciso ouvir TODOS os lados, inclusive dos vândalos e dos criminosos, não só da polícia e dos manifestantes pacíficos. Que sentimento de revolta se apodera de um jovem que começa a depredar um patrimônio público ou privado? O grupo tratado por minoria são puramente vândalos ou é uma veia mais radical dos manifestantes que não usam cartazes, mas usam pedras para se manifestar?

É quase certo que os barões da imprensa de Limeira que estão mais preocupados com a publicidade e o lucro de seus jornais que com uma discussão legítima da sociedade E salário digno para seus jornalistas - salário este sem distinções baseadas em preferências pessoais acima da meritocracia - não apoiarão dar voz aos "marginais". Mas qual será, portanto, o papel de você jornalista que tem um dever com seu leitor e não com seu salário? Você passou pela cadeira do ensino superior e ouviu discursos da grande mídia que manipula a todo momento a profissão em prol da objetividade, mas também ouviu várias vezes que era preciso ouvir todos os lados envolvidos no fato. O que se está passando e repassando para toda a população não são todos os lados, é apenas um lado. Não vale a pena refletir sobre isso?


PS: espero que antes de responderem este post me acusando de defender a violência vocês parem para refletir o que estão fazendo com o poder da comunicação que lhes é dado quando uma página em branco está na tela de seus computadores e quando uma câmera é ligada no estúdio. Posso não ser especialista em nada, mas se eu fizer um ou dois pensarem um pouco sobre a profissão e o que estão fazendo dela, fico feliz.

PS2: quando mandei esta carta aos jornalistas que conheço não segui o protocolo de colocar todos os e-mails em cópia oculta que é justamente para que os jornalistas lá elencados olhem para seus pares e, pelo menos pelo princípio da concorrência, partam para uma abordagem diferenciada.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

ACORDA classe média desinformada


Está rolando no Facebook a foto acima de um extrato bancário de algum beneficiário do Programa Bolsa Família.

E aí vem a classe média desinformada (ou muito mal intencionada) e critica um extrato sem sequer refletir nas mãos de quem esse dinheiro está. Não sou partidário de PT, PV ou Px², mas é preciso pensar um pouco antes de disseminar uma mensagem na rede social sem nenhum fundo de REFLEXÃO.

Informações do site do Bolsa Família: "os valores dos benefícios pagos pelo PBF variam de acordo com as características de cada família - - considerando a renda mensal da família por pessoa, o número de crianças e adolescentes de até 17 anos, de gestantes, nutrizes e de componentes da família."  (Confira aqui)

Se este comprovante for mesmo verdade, o que pode ser uma grande mentira - lembrando que em 2014 tem eleições presidenciais e a corrida começa desde já -, imagine a quantidade de filhos e a situação dessa família! O que seria do Brasil sem as transferências de renda?

O consumo das famílias impulsionou o crescimento do Brasil nos últimos anos. Onde estaria o país hoje se não fossem as transferências de renda que repassa parte do rendimento daqueles que pagam escolas caras para seus filhos e compram roupas de marca para manter um padrão de consumo considerado "aceitável" por essa classe média e canaliza o dinheiro para famílias com renda menor que R$ 70 em condições apontadas pelo governo na citação acima!?!

Se querem criticar, procurem fazer críticas para melhorar o sistema e deixá-lo mais justo e não para condenar quem está tentando (bem ou mal) diminuir a desigualdade de quem sai pra rua com uma camiseta Hollister e outro com um shorts surrado e chinelo furado. Vamos lutar pela educação, um sistema melhor para o "Brasil exceto São Paulo". Por que ninguém coloca fotos de escolas caindo aos pedaços independente do partido ou mesmo identificando que ela é do partido de direta, conservador, ortodoxo, representante dos interesses de rentistas e capitalistas que só querem valorizar seu dinheiro sem enxergar os meios como isso é feito. Há interesse em investir na educação, interesse dessa classe média e dos pseudos-classe média????

O que essa classe quer? Voltar para a época dos barões do café, ter a corja escrava mais uma vez comendo nas suas mãos? Garantir um pouco de dignidade para esse país e enviar à margem as vítimas do sistema lá nos rincões e deixá-los apodrecer de fome e sede????

Seria tão bom se todos pensassem duas vezes antes de querer chegar a 100 mil compartilhamentos (como pretende quem criou esse post no facebook) e fizesse da rede social algo que realmente produza efeitos benéficos para a população TODA, sem exceções.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Foto ou ilustração?



Até que ponto vale a pena lançar mão de uma "ilustração realista" para a capa da revista? A edição 1474 de 11 de dezembro de 1996 da Veja joga essa "foto" na capa, mas na reportagem afirma logo na linha-fina do título: "Numa cratera onde a luz do sol nunca chega, cientistas descobrem sinais de água que tornariam possível a vida na Lua" (p. 50). No infográfico da página ao lado tem a informação: "A baixa temperatura no fundo da cratera conservou um pequeno depósito de gelo misturado à poeira lunar".

E ai? Eu me sentiria enganado de comparar a capa, que parece uma foto real da água na lua, e na reportagem ver as informações de que a suposta água está no estado sólido e misturado à poeira. Vale a ilustração para vender mais revista e enganar o leitor? O exemplo é antigo, mas refletir sobre o papel da imprensa nunca é demais...

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Jogada no lixo...


A aula de Fundamentos do Jornalismo Cultural, no MDCC com o professor Celso Bodstein, entrou há algumas semanas no tema fotografia e as análises dessas imagens que rondam nossa vida a todo momento. Depois de passar pela Caixa preta de Flusser, hoje se discutiu a discussão de Boris Kossoy no livro "Realidades e Ficções na Trama Fotográfica" (2002). 

É muito interessante ter contato com essas discussões mais acadêmicas sobre um produto que se torna tão banalizado atualmente. Nem tudo que se produz em fotografia é Instagram e mensagens virais jogadas aos montes pelo facebook. Ler Flusser e Kossoy nos dá um instrumental para olhar para uma imagem e enxergar além do óbvio.

Kossoy define que a fotografia tem duas realidades. A primeira é a realidade ligada ao passado, a história particular daquele instante que foi registrado. A segunda realidade, no entanto, se liga a representação, ao assunto representado. Nas palavras do próprio Kossoy:

"A realidade passada é fixa, imutável, irreversível; se refere à realidade do assunto no seu contexto espacial e temporal, assim como à da produção da representação. É este o contexto da vida: primeira realidade. A fotografia, isto é, o registro criativo daquele assunto, corresponde à segunda realidade, a do documento. A realidade nele registrada também é fixa e imutável, porém sujeita à múltiplas interpretações" (KOSSOY, 2002, p. 47)

A partir daí, a fotografia é uma construção que começa desde a seleção do assunto até as infinitas interpretações que o receptor faz da imagem que tem diante de seus olhos. A fotografia e o fotojornalismo não escapam das discussões de subjetividade e angulação do produtor. A ação cultural de quem olha pelas lentes de uma máquina tem grande importância naquela documentação, mas é também a cultura do receptor que vai dar significação aquele quadro regitrado.

A partir dessa discussão foi proposto uma análise da fotografia que abre esse post. A fotografia de Micah Albert, foi premiada no World Press Photo. As análises foram as mais diversas numa turma que tem fotógrafos profissionais, historiadores e vários jornalistas com formações diferenciadas.

Eu enxerguei na primeira realidade um recorte da situação do Kenya que leva pessoas pobres a viverem entre o lixo, independente das condições climáticas do dia, buscando materiais reciclados para tentar sobreviver.

Porém, pendendo para a formação econômica e todo o discurso marxista e de desenvolvimento econômico, enxerguei na segunda realidade uma mulher que é fruto do capitalismo e do confronto de interesses que explodiram na Segunda Guerra Mundial e forçaram uma parcela da população africana, e até mundial, ao ostracismo  aumentando cada vez mais a divergência entre ricos e pobres. Apesar de ser jogada à margem do sistema e considerando que a economia trata a educação como instrumento primeiro e fundamental para transformação das bases da sociedade e da própria economia, a foto mostra a contradição entre o que o capitalismo produz (lixo e quem vive no lixo) e esse caminho essencial para o desenvolvimento e superação da pobreza e o que parece um caminho gigantesco e até impossível de ser trilhado.

Link da foto: http://www.worldpressphoto.org/awards/2013/contemporary-issues/micah-albert?gallery=6096

domingo, 21 de abril de 2013

Contradições entre o quê e quem fala


O jornalismo deste final de semana trouxe a contradição aos leitores de O Estado de S. Paulo e telespectadores do Globo Esporte. No primeiro, informações diferentes apareceram no editorial do jornal e na coluna da jornalista Suely Caldas, duas visões diferentes com caráter de informação em duas páginas da mesma edição. Já na televisão a contradição se dá entre a programação geral da emissora carioca e uma reportagem sobre a situação de um ginasta olímpico.

Vale parar um pouco depois de ler e assistir às reportagens divulgadas e televisionadas por estes veículos e contrapor as informações e a história de quem é que está falando.

No jornalismo esportivo

Parece ser senso comum que brasileiro gosta apenas de futebol. Afinal, qual é o esporte considerado paixão nacional e qual é o esporte que mais recebe espaço na cobertura do jornalismo esportivo? O futebol tem espaço garantido as quartas-feiras na programação da Globo e provavelmente sempre terá espaço quando precisar, vide as transmissões dos jogos da seleção brasileira. Sem querer ir contra essa paixão dos brasileiros pelo futebol, acho que colocar esse esporte ao lado de qualquer outro é humilhar esse qualquer outro quando se trata de medir a atenção que eles recebem na mídia.

Partindo dessa constatação é muito contraditório ver a emissora que deixou de transmitir as Olimpíadas de Londres de 2012 fazer uma reportagem no domingo pela manhã mostrando as situações precárias de treino de um ginasta olímpico, medalhista de ouro naquela competição. Ressalva: uma reportagem curtíssima se comparada com a que mostra vida de um jogador de futebol brasileiro que faz sucesso na Europa e tem até peruca loura que imita seus cabelos a venda no mercado. O ginasta da reportagem é Arthur Zanetti e a emissora mostrou como o atleta treina hoje em dia depois de ter recebido medalha de ouro em 2012.

A primeira reflexão é realmente a indignação de ver alguém que conquistou uma medalha importante para o Brasil ter que treinar sem as condições mínimas para tentar repetir o feito nas olimpíadas aqui no país. A segunda, no entanto, é ver que quem fala do problema, de certa forma, ajuda a criar o mesmo problema. Tenho a impressão de que se a Rede Globo tratasse a ginástica olímpica, o volei, o basquete, ou qualquer outro esporte com a mesma intensidade que trata o futebol, não só a visibilidade dessas modalidades aumentariam, mas também o volume de patrocínios que eles recebem. Pra mim a lógica parece fácil: visibilidade do esporte traz patrocínios que significa visibilidade para o patrocinador. Afinal, basta reparar nas quadras e nas camisas dos times de futebol: não são pequenas empresas que estão estampadas ali, são? E o que mais as empresas querem nessa lógica capitalista são grandes e exorbitantes lucros. “Pouco importa a forma como obtê-lo, mas se usar o esporte ajuda a promover a marca e traz algum reconhecimento à empresa, então usemos”, parece pensar o dono do dinheiro brasileiro.

Aqui ainda vale resgatar o texto publicado no Observatório da Imprensa do jornalista Thiago Forato: “A intenção da emissora é quebrar o monopólio?” (edição 706 de 7 de julho de 2012). Ao discutir a aquisição dos direitos de transmissão das Olimpíadas de Londres pela Rede Record, o autor diz algo que se parece verdade pura quando se trata de jogos olímpicos: “Entre novela e Olimpíada, certamente a emissora carioca escolheria a primeira opção, privando a maioria da população de acompanhar os jogos olímpicos.

No jornalismo econômico

A outra contradição está no jornalismo econômico. O editorial do jornal O Estado de S. Paulo traz, para variar, mais um ataque à presidente Dilma Roussef: “Dilmês castiço”. Quase no mesmo tom está o texto da colunista do caderno Economia & Negócios, Suely Caldas: “Autonomia do BC – agora vai?”. Apesar das semelhanças e dos ataques ao governo petista, os dois textos trazem duas interpretações sobre um mesmo assunto que geram informações diferentes.

Ambos relembram o desconforto gerado pela presidente no dia 27 de março quando ela falou sobre inflação em entrevista coletiva aos jornalistas que acompanhavam o encontro dos Brics (bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), em Durban, na África do Sul. Naquela ocasião as edições dos veículos anti-governo deram mais ênfase ao começo e ao final da fala da presidente e ignoraram todas as outras palavras da presidente sobre o esforço do governo contra a inflação. A interpretação das palavras de Dilma gerou alvoroço no mercado financeiro devido às expectativas quanto à Selic. Frente à repercussão a presidente convocou os jornalistas e disse que sua fala fora manipulada, sem dizer, no entanto, quem manipulou suas palavras.

Resgatado o cenário, o editorial do último domingo (21 de abril) O Estado de S. Paulo afirmou: “(...) Imediatamente, a declaração causou nervosismo nos mercados em relação aos juros futuros, o que obrigou Dilma a tentar negar que havia dito o que disse. E ela, claro, acusou os jornalistas de terem cometido uma ‘manipulação inadmissível’ de suas declarações, que apontavam evidente tolerância com a inflação alta – para não falar da invasão da área exclusiva do Banco Central.” (página A3 do jornal). Já a colunista Suely Caldas afirma: “Efeito imediato, a taxa de juros no mercado futuro despencou. Irritada, ela acusou agentes do mercado de manipularem suas palavras. Se tivesse ficado calada, nada disso teria acontecido, o mercado não teria motivo nem respaldo para criar volatilidade, instabilidade.” (página B2). Afinal, quem manipulou? Eu, leitor, fiquei confuso.

Essa contradição mostra diferentes olhares influenciados pela visão política de quem escreveu o texto. É teorizado que a formação profissional e cultural influencia na forma como o jornalista vê, avalia e escreve sobre um determinado assunto e como o jornal transmite as informações aos leitores. Teoria essa que quebra os discursos de objetividade. Essas visões ficam completamente expostas, claro, num artigo opinativo. O perigo, porém, está na forma como essas elas são usadas. A cobertura sobre a declaração da presidente no dia 28 de março foi extensiva. Quando o Valor Econômico deu apenas uma página, O Estado de S. Paulo publicou várias análises e entrevistas numa demonstração clara de desafeto com o governo e/ou com sua política econômica.

Como tentei expor no artigo anterior no Observatório da Imprensa (“Amanipulação e o jornalismo enviesado” de 9 de abril, edição 741) o jornalismo econômico está mais político que econômico. Um professor de economia da Unicamp me disse, na semana do dia 1º de abril, que os ataques ao governo estão intensos mostrando um uso político desse noticiário. Ele concorda que a Dilma não deveria ter respondido a questão do jornalista, mas não porque ela não sabe o que diz, mas sim porque qualquer afirmação que ela desse seria usada contra ela mesma, não no tribunal, mas na imprensa e, claro, nas eleições!

CONTIN,A. Alex. Contradições entre o quê e quem fala.Observatório da Imprensa (São Paulo), ed. 743. p. Digital, 2013. 

-----

Ilustração de como a Globo trata a Ginástica Olímpica:


Ou seja: não trata!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Etanol, propaganda e consumismo



 Não é sem motivo que estão chovendo propagandas sobre o uso do etanol combustível na televisão aberta brasileira. Um artigo do professor da USP José Goldemberg na página 2 do jornal O Estado de S. Paulo sobre a crise energética no Brasil deixa claro o que levou uma campanha tão forte para o público. Numa era em que ter automóvel parece ser muito mais uma necessidade social que real, a quantidade de carros circulando diariamente justifica a intensidade da campanha disparada pela União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).

No artigo do Estadão, Goldemberg mostra os problemas dessa crise e o dado mais expressivo é a queda da produção, que caiu de 27 bilhões de litros por ano para 22 bilhões em 2012. Uma queda como esta parece preocupar o setor e justificar muito bem a campanha. Todas as vezes que assisto a esses comerciais os vejo quase como uma lavagem cerebral. É fato que ultimamente o preço do etanol parece não compensar tanto frente ao da gasolina - motivo para a alta desse preço também é exposta no artigo e envolve os preços dos fertilizantes usados nas lavouras de cana. Mesmo assim, a campanha está lá e parece mostrar um outro lado do combustível... o lado da geração de empregos e movimentação da economia. O discurso do comercial é claramente de fundo econômico e pouco importa as "qualidades" do combustível renovável.

E o que mais me chamou a atenção é o público alvo desta propaganda que envolve até crianças. O vídeo que selecionei para ilustrar essa matéria é justamente um dos que mais vi circular na mídia nestas últimas semanas. O ator Lucio Mauro Filho convence a motorista a abastecer seu carro com etanol por meio das duas crianças do banco traseiro. As vezes é útil assistir aos comerciais pensando em quais são as mensagens e quais são os públicos às quais elas se destinam. No conjunto, os comerciais da Unica parecem atirar para todos os lados para tentar reverter a crise do setor.

Hábitos de consumo

Enquanto o setor de energia discute a crise, acho que um outro tema deveria ser revisto: os hábitos de consumo dos brasileiros. O que parece acontecer hoje é que as pessoas não têm mais carros porque precisam fazer longas viagens a trabalho ou precisam dele para transportar os filhos e tudo o mais, ou seja, necessidades reais.

Basta olhar um grupo de jovens que acabaram de sair da adolescência e contar quantos deles possuem seus carros próprios para comprovar que ter um carro é como um bilhete de aceitação social, uma forma de garantir a inclusão num grupo chamado "classe média em ascensão" que consegue ter este bem, não importa quanto dinheiro perca, quantos meses tenham que pagar e nem quantas oportunidades de investimento abrem mão apenas para poderem desfilar por ai com o tal 'possante'.

Já presenciei casos de parentes que não tinham sequer perspectiva de fazer um curso superior, mas investiam o dinheiro que não tinham para garantir um carro, mesmo que usado. A necessidade não era real, mas sim apenas para a pessoa poder se inserir neste tal grupinho.

Enquanto isso, nosso trânsito vai ficando cada vez mais atolado e complicado e não se dá a devida atenção a alternativas de transporte coletivo. Melhorar o transporte público, ressuscitar a malha ferroviária para passageiros, pensar na construção de metrôs em cidades com grande crescimento e melhorar aqueles que já existem na capital... pouco parece ser pensado nestes assuntos afinal na nossa sociedade consumista o individual está sempre acima do coletivo e o meio ambiente não passa de discurso da moda que vai e vem das pautas e das rodinhas de bate-papo.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Manipulação e poder: Orwell e Reed


Tumulto, manipulação, mais tumulto, calúnias e discussões... são essas palavras, com maior ênfase para a segunda da lista, que mais ressaltam nas leituras de "A Revolução dos bichos" de George Orwell e "Os dez dias que abalaram o mundo", de John Reed.

Nesta "maratona de leituras" pessoal, fiz questão de sequenciar dois livros com temas parecidos para ver abordagens diferentes de uma (quase) mesma realidade. "A revolução dos bichos" dispensa maiores comentários, mas ficou na minha estante de livros por alguns anos. Havia começado a ler quando comprei a obra, em 2009 (eu acho), mas logo parei. Retomei Orwell logo depois de ler "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago, semanas atrás. O outro livro, de Reed, ficou no escanteio da minha lista por um tempo maior. No primeiro ano da graduação de jornalismo, em 2005, foi apresentado à sala uma lista de livros-reportagens e "Os dez dias" estava entre as indicações. Me lembro que o assunto chamou a atenção, mas a leitura não me agradou muito e a troquei por "Por quem os sinos dobram" de Ernest Hemingway (que também indico).


De forma geral os dois livros falam sobre o mundo socialista da União Soviética: as revoluções socialistas feitas em novembro de 1917 (retratada por Reed) e uma crítica à política e aos desdobramentos dessas revoluções (Orwell). Na obra de Reed, os nomes dos políticos e personagens Russos e a falta de maiores apresentações deles no texto, na minha opinião, são o ponto fraco da obra de Reed para quem não estudou com profundidade essas passagens da história. Particularmente ficava um pouco perdido no começo da leitura por não saber o nome de todos os atuantes da revolução de novembro de 1917 (o próprio Reed escreve um resumo, praticamente um guia, mostrando os partidos políticos e outros grupos atuantes na Rússia. Além disso há ambientações no primeiro capítulo e também no prefácio). Porém, o objetivo do livro é narrar os acontecimentos de dez dias que mostram o antes, durante e depois da revolução e esse objetivo é cumprido com perfeição - não é sem motivo que John Reed foi considerado um dos melhores jornalistas dos Estados Unidos.


Já o livro de Orwell é sensacional. Uma revolução dos bichos com um caráter socialista facilmente perceptível é feita pelos animais da Granja Solar. Depois da tomada do poder, da divisão dos trabalhos por todos os animais e a divisão justa dos alimentos entre os trabalhadores, agora sem nenhum patrão, mostra o ideal das primeiras revoluções socialistas da Europa oriental. Os personagens foram muito bem elaborados e só ressaltaram ainda mais a crítica feita pelo autor aos desdobramentos da história socialista. Trótski, Stalin e o proletariado estão ali bem representados pelos bichos e as relações entre eles ao longo da história mostra bem como foi se desenvolvendo a política daquele país da revolução de 1917 até os anos posteriores a tomada do poder por Stalin. É até visível um pouco da ideologia econômica de Trótski, que tive contato na matéria de Desenvolvimento Econômico na Unicamp e foi o que me motivou a ler Orwell.

Obras (espero que minimamente bem) resumidas, volto ao tema principal e as palavras que escolhi: tumulto, manipulação, mais tumulto, calúnias e discussões... Percebi uma clara semelhança entre as obras de Orwell e Reed principalmente quando comecei a ler o livro do segundo autor. Reed mostra os debates políticos feitos na Rússia no decorrer da revolução de novembro; Orwell mostra o relacionamento entre os pensadores da revolução e o "proletariado", ou restante da bicharada. Mas o que é mais interessante é a forma como essas discussões eram feitas na URSS daquela época e a forma como essas ideias eram passadas para população.

A manipulação da classe mais baixa e com pouca educação é uma das maiores críticas de Orwell. Os animais da granja, ainda dotados de um mínimo de memória, são manipulados por um dos porcos do poder. "Mas não havia uma lei que dizia que animais não usariam moedas?", chegam a se perguntar os animais quando as leis do chamado animalismo começam a ser quebradas. Então logo surge Garganta, um dos porcos, para convencer que os animais devem ter simplesmente "sonhando" com isso, "nunca houve tal lei" (este é só um exemplo e não é extremamente fiel à história).

Já Reed, fiel aos fatos da revolução que presenciou, traz citações dos panfletos e artigos publicados nos jornais em circulação e a tentativa de influenciar a população é tão clara - aí com maior compreensão visto que é a direita criticando e atacando a esquerda que sobe ao poder.

Qualquer semelhança com a nossa realidade é mera coincidência, não? Ainda temos uma imprensa que se diz imparcial e justa, mas vale sempre ficar atento às reais intenções de cada reportagem e cada capa de revista porque, em alguns casos, a manipulação não é nenhum pouco velada pelos porcos do "poder da imprensa".

domingo, 4 de março de 2012

Histórias Cruzadas ("The Help"): será que ainda existe gente assim?


Acho que até ontem nunca havia entendido o que é realmente um filme “sensível”. As vezes acho exageradas algumas classificações e críticas de filmes, mas finalmente acredito que finalmente entendi o que é realmente um filme que merece esse adjetivo.

Neste último sábado, dia 3 de março, tirei o final da tarde, a noite toda e um bom pedaço da madrugada para assistir a alguns filmes. O primeiro, e o melhor da jornada, foi Histórias Cruzadas (“The Help”), seguido de Anjos da Noite (“Underworld – awakening”) no cinema e finalmente O artista (“The artist”). Por ter programado sair para o cinema às 19h não tive tempo de assistir ao final do Histórias Cruzadas. Faltavam os minutos preciosos que deixaram minha curiosidade aguçada.

Foram três filmes completamente diferentes um do outro. Histórias Cruzadas é um drama muito bonito, “sensível” e tocante. Anjos da Noite tem efeitos em 3D muito bons, alguns sustos e uma história bem legal. E finalmente O Artista é uma produção genial – mas particularmente eu votaria no Histórias Cruzadas para ganhar o Oscar de melhor filme e explico o porquê.

O filme é baseado no livro A resposta (“The Help” em inglês), da romancista Kathryn Stockett. Confesso que não gosto de ler romances, mas este tem um espaço garantido na minha lista lista de leituras. O ponto alto do filme é que ele nos faz pensar seriamente sobre o racismo. Entre risadas e cenas muito revoltantes ou emocionantes, é inevitável pensar “Como foi ou como é possível existir pessoas que pensam como esses homens e mulheres norte-americanas das décadas de 1950 e 1960?”. Claro que o racismo é anterior a essa data e infelizmente está presente até hoje naquele país e em muitos outros lugares do mundo, mas o que Stockett escreveu e o diretor Tate Taylor transformou em um belo filme, é “atemporal e universal” como diz a descrição do livro.

O filme é estrelado por Emma Stone que faz o papel da senhorita Skeeter, pela indicada ao Oscar de melhor atriz Viola Davis que interpreta a empregada negra Aibileen e pela ganhadora do prêmio de melhor atriz coadjuvante no Oscar 2012, Octavia Spencer que é Minny, outra empregada negra que parece não ter freio algum na língua – além de ser divertidíssima. As três personagens são o foco do livro de Stockett e não é tarde para dizer que a obra foi sucesso nos Estados Unidos ficando em primeiro lugar na lista de Best-sellers do jornal New York Times. É engraçado o livro ter alcançado tal notoriedade no seu país de origem porque o filme mostra justamente brancas racistas lendo um livro homônimo que conta a perspectiva das empregadas negras daquela época. Será que foi uma “sátira” ou uma crítica à sociedade norte-americana que gosta de ler seus próprios dramas atemporais?

Enfim... como estava dizendo, o filme marca muito por mostrar a história de Skeeter, Aibileen e Minny em uma sociedade simplesmente nojenta! Chega-se ao ponto de mulheres de famílias brancas proporem que hajam banheiros do lado de fora da casa especialmente para as empregadas negras por medo de pegarem as doenças da raça. Mas quanto a essa revolta, vale muito a pena assistir ao filme para rir com uma das passagens sobre banheiros e fezes! (muitos risos). E aqui vale muito incluir um comentário feito pela minha mãe: “Hoje ainda existe banheiros para empregadas em casas chiques. Parece que as coisas não mudaram muito.” Guardadas as devidas proporções temporais, é um grande absurdo ainda existir uma mentalidade tão ridícula como aquela relatada em Histórias Cruzadas.


Sinopse do filme:
Baseado em um dos livros mais badalados há anos e fenômeno n°1 em vendas de todos os tempos do New York Times, "Histórias Cruzadas", filme estrelado por Emma Stone ("A mentira") como Skeeter, com a indicada ao Oscar© Viola Davis ("Dúvida") como Aibileen e Octavia Spencer como Minny, mostra três diferentes mulheres extraordinárias no Mississipi durante os anos 60 que constroem uma improvável amizade devido a um projeto literário secreto que abala as regras da sociedade, colocando-as em perigo. De sua improvável aliança surge uma incrível irmandade, criando em todas elas a coragem para transcender os limites que as definem e a conscientização de que às vezes esses limites existem para serem ultrapassados, mesmo que isso signifique fazer com que todas as pessoas da cidade encarem os novos tempos. Intensa, cheia de pungência, humor e esperança, "Histórias Cruzadas" é uma história eterna e universal sobre a capacidade de criar mudanças.



Resumo de tudo isso que escrevi: o filme é maravilhoso!

sábado, 5 de março de 2011

O pop no dance - 12 mudanças para a versão brasileira [humor]



Sem deixar de lado sua raiz latina, a cantora Jennifer Lopez, em parceria com o rapper americano Pitbull, lançou o vídeo da nova música na última quinta-feira, dia 3 de março. O hit "On the Floor" já começa com um ritmo muito familiar para os brasileiros. Principalmente entre as pessoas com mais de 20 anos ou com uma vivência em lambada e forró, o hit de JLo lembra claramente a música "Chorando se Foi" do grupo Kamoa. A diferença é a batida de dance na música e claro, a letra como um todo... Parece que todas as cantoras pops internacionais apostam alto suas fichas no público que curte um "bate estaca", ou música "alpiste", ou o velho "putz-putz".

A música ficou muito boa. O clipe não ficou para trás... lembra alguns trabalhos antigos da cantora, afinal uma boate como cenário e várias personagens representadas por Jennifer não é novidade. A parceria com Pitbull, que também tem sangue latino - o rapper americano nasceu em Cuba e lançou seu primeiro álbum em 2002 - fortaleceu a posição da música nesse cenário bate estaca caribenho... Quem não se lembra de Pitbull, vai se recordar rapidinho quando ouvir a música "I know you want me (Calle Ocho)".

Agora deixando esse texto pretensioso de análise musical de lado, vou escrever o que me motivou a entrar aqui no blog... um "exercício de imaginação"... comecei isso no Facebook, mas resolvi trazer aqui para o blog para dar boas risadas. A brincadeira é o seguinte: imagine esse clipe sendo gravado no Brasil! Já sabe o que aconteceria? Vou listar minhas opiniões abaixo:

‎1º> JLo chegaria em um Uno 1000, cor vinho descascado e não em uma BMW...

‎2º> Ela não abriria uma caixinha da Swarovsk, seria da Pink Bijoux com um brinco de pedra rosa falseta...

3º> Ela não entraria numa boate chique... seria em um bailão de forró e lambada no meio da favela da Rossinha!

‎4º> De Jennifer Lopes (JLo), seu nome passaria a ser JLa, ou, Janette Lapada

‎5º> Ela não cantaria com o Pitbull, seria um Mc Cachorro Loco

‎6º> A roupa que parece uma segunda pele prateada com cristais seria feita de papel filme e papel laminado com tampinas de garrafa de cerveja coladas

‎7º> Seus brincos e acessórios seriam comprados no catálogo da Avon... fora o da Pink Bijoux que é mais chique

‎8º> No baile ela teria que estar sem calcinha para não pagar a entrada - imagine isso com a roupa de papel filme e papel laminado

‎9º> Janette Lapada subiria em um freezer de cerveja para dançar até o chão

‎10º> Outro figurino de Janette Lapada seria uma calça de oncinha, com um top de zebra e aplique no cabelo cheio de frizz, fios rebeldes e pontas 'dupras'

11º> Janette teria uma amiga drag, Bret Spérs

12º> A cena não acabaria bem... provavelmente o Capitão Nascimento apareceria na cena para mandar o Mc Cachorro Loco sair, colocaria Janete Lapada na cadeia por abuso do bom senso e da moral e ela se transformaria em 'Maili Cirus', no clipe "Can't Be Tamed" e se acharia a galinha mais exótica da américa!
 
Isso tudo porque a gente tem direito de rir de vez em quando... hahaha