O resultado do primeiro turno da eleição deste ano foi preocupante, porém, mais que compreensível. Contra todos os discursos de alerta sobre o Bolsonaro, as pessoas estão votando no candidato por acreditar que ele é a melhor opção para acabar com a CORRUPÇÃO no Brasil. Existe, infelizmente, aqueles que compactuam com outras ideias do candidato, principalmente as de misoginia, racismo e homofobia, porém, não é possível afirmar que os 46% de eleitores de ontem são homofóbicos, misóginos e racistas - pelo menos prefiro acreditar que não.
A questão é a seguinte: como disse, é compreensível que as pessoas estejam votando no Bolsonaro com a esperança de acabar com a corrupção e a violência no Brasil, mas qual é o custo disso? Bolsonaro não propôs uma reforma política - na entrevista no Jornal Nacional, por exemplo, ele disse que todos os grandes gastos prescindiriam de assinatura e aval dele (isso é sufiente?); na questão da violência, "bandido bom é bandido morto", a solução seria concentrar traficantes na favela e descer bala neles, porém, e os inocentes naquele lugar? Se você mora em uma região não violenta e não dominada pelo tráfico, é fácil apoiar essa medida, não é? Quando o candidato foi questionado sobre os inocentes que estariam na favela, ele disse que retiraria eles de lá antes da ação; quando questionado mais uma vez sobre a morte de inocentes por balas perdidas e a impossibilidade de simplesmente "tirar os inocentes da linha de fogo", ele não respondeu nada.
Além desses dois pontos principais da campanha, que convenceu 46% dos eleitores, o problema central é o preço e o que o candidato traz consigo em um possível mandato. Ele promete empregos transformando o país em uma economia liberal, fazendo coro e dando ouvidos apenas aos empresários com os quais ele conversou. O preço disso é a perda de inúmeros direitos trabalhistas arduamente conquistados em uma economia periférica e refém de uma política econômica internacional que apenas beneficia o aumento do lucro por meio do uso de mão de obra barata (ou seja, sem direitos) em países subdesenvolvidos - isso significa que vamos continuar (e retroceder) no caminho da autonomia econômica.
Por fim e o que mais preocupa a esquerda, é a esteira, o véu dessa noiva conservadora, ou seja, todo o discurso de ódio contra negros, mulheres e homossexuais, além de uma provável ditadura militar, que vem junto com esse combate à corrupção e à violência. Esse discurso é propagado pela ignorância. Ele fala muito do "kit gay" e que não quer que um pai de família chegue em casa e veja o filho de 6 anos brincando com uma boneca - percebe a ignorância nisso? Além de deturpar um projeto de conscientização sobre a sexualidade (que não quer incentivar ninguém a transar ainda na infância, MUITO menos "virar gay"), ele propaga um preconceito e reforça a imagem da "família tradicional" com valores ultraconservadores enraizados.
Quanto à ditadura militar, pra ele é passado e não se deve mexer nisso - veja a entrevista do candidato no RodaViva. Dívida com negros? Passado. Tudo é passado e precisamos olhar para o momento atual. O problema, porém, é que esse passado continua enterrado e, no lugar de vir à tona para conscientizar a população a não repetir erros do passado, Bolsonaro prefere manter enterrado e manter o povo na ignorância para aparentemente deixar o caminho aberto a um novo controle militar na política brasileira. Fazer coro com esse candidato sobre a Ditadura Militar e apoiar essas ideias só ressalva o tamanho da ignorância, da falta de conhecimento sobre História e o poder e eficiência que um projeto como "Escola Sem Partido" tem na conjuntura brasileira.
Para terminar, um recado: esquerda não é só PT; esquerda não é corrupção do PT. Esquerda política e econômica é uma linha de pensamento e de ação que favorece a vida do trabalhador e da sociedade. É incoerente e extremamente inocente acreditar que o liberalismo e o capitalismo vão te ajudar a colher frutos bons no futuro. Isso é uma ilusão: pode até aumentar o emprego, mas o custo disso vai ser alto demais e aumentar a desigualdade de renda existente no Brasil (ou seja, 1% vai ficar ainda mais rico e o resto vai se fuder mais ainda).
Para terminar (2): se você votou no Bolsonaro e eu, um amigo ou qualquer gay, mulher ou negro sofrer algum por ódio na rua no governo desse fascista, eu vou fazer questão de ir até onde você estiver, olhar nos seus olhos e simplesmente dizer: "Esse sangue também está nas suas mãos!"
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