terça-feira, 15 de novembro de 2011

Experiência derivada, integrada e paranormal

[texto sem revisão]

Nas últimas semanas minhas atividades fora do trabalho e longe da UNicamp se resumem a estudar cálculo. O penúltimo mês do ano, praticamente o último do semestre, e as últimas semanas antes da prova são alguns dos fatores que pesam muito na hora de escolher entre a cama e o livro de James Stewart. Mesmo com tantas contas para fazer e conceitos para entender, resolvi dar uma pausa no último sábado e sair um pouco de casa, em Limeira, para fazer algo diferente.

O programa já estava pré-definido: ir ao shopping de Piracicaba para pagar a fatura de uma compra feita nessas lojas de rede que insistem em prender ao cliente às suas unidades e não facilitam a vida de quem precisa comprar a prazo no cartão da loja. Enfim, para não ficar só com um programa carregado de obrigação e sem muita diversão decidimos, eu e meu amigo com quem divido o quarto em Campinas, o Bruno, assistir a algum filme. Entre A casa dos sonhos, Atividade Paranormal 3 e 11-11-11 resolvemos ir pela data cabalística, já que iríamos assistir esse filme dia 12 de novembro. Além disso, o trailer de Atividade Paranormal 3 me pareceu assustador demais, principalmente a parte em que duas garotinhas estão num banheiro escuro e chamam pela Bloody Mary. Dá arrepios de lembrar a cena.

No fim, o que era para ser diversão acabou numa grande decepção. O filme 11-11-11 é uma porcaria. A história é até interessante, mas os demônios que aparecem no filme perdem fácil para os monstros do Hoppy Hari da noites do horror e perdem também para aquela casa do drácula, no mesmo parque de diversão, que aliás é uma atração patética. O fato é que quando meu celular marcava 23h11 quando saímos do cinema. O mesmo horário que estava registrado no comprovante de pagamento do estacionamento do shopping: 23h11 ou 11h11.

Quando mostrei esse detalhe ao Bruno o único comentário dele foi "ai credo". Coloquei o comprovante na carteira e viemos embora. Nada anormal, lógico, era só um filme e bem mal feito ainda. Não era anormal, porém, até alguns minutos atrás. Agora são 4h da manhã de quarta-feira, dia 16 de novembro. Como não é mais novidade, estou madrugando e estudando cálculo. Desde domingo estou com o estômago ruim e vem piorando nos últimos dias. Em Limeira, das vezes que fui ao banheiro na madrugada de sábado para domingo a luz do banheiro oscilava por alguns segundos antes de acender por completo. Isso só me lembrava a Bloody Mary do trailer de Atividade Paranormal 3, um arrepio passava pela espinha e se espalhava por todo o corpo, mas além disso aquilo era apenar um problema elétrico.

Hoje, há cerca de vinte minutos fui ao banheiro e, contrariando o hábito entrei nele com a luz apagada e só depois de fechar a porta acendi a luz. Como o Bruno está dormindo, todas as luzes estão apagadas, exceto minha luminária da escrivaninha, e tento fazer o mínimo de barulho para não acordá-lo e para não perturbar o síndico do prédio que mora bem embaixo do nosso apartamento. Enfim, quando entrei no banheiro escuro mais um daqueles arrepios passou pelo meu corpo quando acendi rapidamente a luz, mas ela não oscilou. Olhei rápido para o espelho, com medo, mas não tinha nada lá. Um alívio momentâneo para resolver a discussão interna de meu estômago com a janta de ontem. Levei o livro de cálculo para fazer um exercício porque achei que iria demorar, mas era alarme falso.

Levantei, apaguei a luz e abri a porta em silêncio para voltar ao meu lugar estudar. Quando abri a porta algo muito mais forte que um simples arrepio passou pelo meu corpo. Quando dei o primeiro passo para fora do banheiro e olhei em direção à escrivaninha e à janela que estava com uma fresta aberta para entrar um ar me deparei com quatro dedos, iluminados pela luz da luminária, empurrando uma das partes da janela. Mudo e ainda com o arrepio forte no corpo, fiquei congelado olhando para a janela. Meus olhos deviam estar arregalados e a boca totalmente aberta. Senti a língua e os olhos secarem rapidamente, mas mantinha a respiração muito lenta para não fazer barulho algum.

Minha janela tem duas partes fechadas e uma de vidro. Todas correm e costumo deixar o lado que fica perto da escrivaninha um pouco aberto e o outro lado com a parte de vidro para iluminar a sala. Enquanto os dedos que pareciam de uma mão apodrecida pelo tempo e com algo que parecia sangue no lugar das unhas abria a janela num ritmo muito lendo e inaudível, pelo vidro vi por duas vezes algo que parecia uma asa. Parecia uma asa porque não era nada parecido com as asas de morcedo e também não tinha nada a ver com uma asa de penas de pássaros. Não tinha penas e nem era fina e quase translúcida como a dos mamíferos voadores.

Os dedos soltaram a janela muito devagar e no lugar deles vi surgir o perfil de um rosto masculino tão podre e feio quanto os dedos. Primeiro a ponta do nariz, alguns cabelos negros balançando com o vento lá de fora entraram pelo vão da janela e logo vi um olho. Aquele ser horrível olhava firme para a escrivaninha. Era tão incomum como todo o resto, mas não era nem vermelho e nem todo branco. Seu olho era de um roxo muito forte, praticamente da mesma cor do meu porta canetas e dos outros acessórios que tenho na mesa.

De repente o Bruno se mexeu no colchão no meio da sala. O olho daquele ser passou da escrivaninha para o resto da sala e logo em seguida encontrou os meus olhos. Nessa hora senti quase que minha alma parecia sair do corpo como se escoasse por um ralo no meu pé. Senti muito frio. Ele franziu a testa, forçou sua visão em mim. A luz da luminária apagou por um milésimo de segundo. As luzes do centro de Campinas fizeram o mesmo logo em seguida. O olho sumiu entre uma piscada de luz e outra e ao mesmo tempo um vento muito forte balançou a janela.

Com a alma de volta no meu corpo olhei para a janela de vidro, depois espiei pela porta da cozinha para ver a janela da lavanderia. Parecia não haver mais nada do lado de fora. Olhei para a janelinha do banheiro, que estava fechada, e também não tinha nenhum vulto. Ainda com a boca e com os olhos secos, andei devagar para a escrivaninha e para a janela. Ouvi um cachorro que parece ser de porte grande latindo em algum lugar da região. Espiei pela janela de vidro, sem abríla. Nada. Espiei pela fresta aberta da outra parte da janela. Nada também.

Pisquei o olho. Minha boca voltou a salivar, engoli. Muito devagar toquei a parte da janela que estava aberta. O metal estava gelado. Comecei a abrí-lo de forma bem lenta. Em pé, com o braço esticado, dois dedos na janela, meus olhos variavam o foco entre o espaço aberto e a parte de vidro da janela. Acho que abri uns trinta ou quarenta centímetros. Me aproximei. Ainda com a cabeça dentro do apartamento tentei espiar para todos os lados possíveis. Aparentemente não havia nada. Comecei a colocar a cabeça para fora, ainda olhando para todos os lados. O vento frio da madrugada gelou meu rosto. Minha boca e garganta já estavam secas mais uma vez. Coloquei toda a cabeça para fora da janela, olhei para os pontos mais pertos do meu prédio. Não havia nada em nenhum dos lados. Nada no térreo, nem em cima do prédio. Comecei a olhar para o horizonte de prédios do centro da cidade. Nos prédios próximos do Cotuca, nos prédios que estavam na direção das avenidas Orozimbo Maia e da Benjamim Constant... nada. Um pouco menos assustado olhei para o prédio onde fica o relógio do Itau. O símbolo do banco e as estrelas da marca não são mais exibidos há uns dias. Era 4h10... 15º... ele ficou apagado por uns segundos. As luzes do centro piscaram por um milésimo de segundo mais uma vez. Não tirei o olho do relógio e quando tudo estava aceso mais uma vez o relógio marcou 4h11... 11º.... e em cima dos números brancos do relógio havia um homem em pé. O que eu pensei ser uma asa, devia ser uma capa de tecido preto, estava preso na cabeça daquele ser, voando com o vento. A luz da minha escrivaninha e a tela do computador apagaram também numa fração de segundos. Olhei para dentro do quarto assustado e tão rápido quando virei a cabeça para dentro voltei ela para a direção do relógio do Itau eis que bem na minha frente, parado do lado de fora da janela estava aquele ser podre de cabelo preto e olhos roxos olhando bem no fundo dos meus olhos. Acho que desta vez minha alma desceu ou subiu tão rápido para um mundo paralelo que deve ter levado todo meu sangue e meus sentidos junto. Devo ter ficado mais branco que a folha de sulfite onde resolvia os exercícios de cálculo. Congelei por um segundo. Ele olhou no meu olho direito, depois no esquerdo, voltou a encaram meu olho direito e caiu muito rápido. Um buraco negro se abriu no lugar da garagem do meu prédio, no térreo e no subsolo. De lá uma labareda de fogo roxo subiu por três metros e aumentou muito rápido chegando até o quarto andar do meu prédio, um abaixo do meu, enquanto aquele ser caia dentro daquele buraco. O buraco se fechou e uma chama roxa sumiu com o vento gelado que veio até meu rosto.

Com a boca aberta olhei do chão para o relógio do Itau. Lá marcava 4h11... 11h... apagou e no lugar da hora apareceu uma mensagem me deu o mesmo arrepio que senti quando entrei no banheiro: "ESTUDE STEWART!!!!!!!!! By Hell´s Stuart!!!!!!!!!"