terça-feira, 18 de agosto de 2009

VIDA REAL - Impressões de uma sessão (completa)

Acho que não poderia estrear uma coluna em melhor hora. Sou repórter do Jornal de Limeira e editor da coluna de Variedades. Mensalmente estarei neste espaço. Esta semana fui escalado para cobrir a sessão ordinária da Câmara de Vereadores. Apesar de política não ser o meu forte nem a principal área de interesse, assistir a uma sessão acabou sendo até que divertido. Com a ajuda da assessora de imprensa da Câmara, Junia Mariano, fui compreendendo alguns dos trâmites e vocabulário usados pelos parlamentares durante as votações de projetos, moções, questões de ordem entre tantas outras palavras que só quem acompanha frequentemente ou trabalha no local sabe.

Apesar de a Casa ter todo seu regimento e protocolo, algumas situações independem de conhecimento prévio para entender o que se está passando atrás daquelas mesas do plenário. O mais engraçado foi presenciar algumas discussões entre os vereadores. Por um momento até pareceram crianças brigando por motivos banais. O caso que mais fez o público rir foi a discussão entre o presidente da Câmara, Eliseu Daniel (PDT), e o petista Ronei Martins. No seu primeiro ano de casa, Ronei ainda deve estar se acostumando com toda a complicação e burocracia que há dentro do sistema Legislativo municipal. Exemplo disso é a convocação de uma audiência pública para tratar sobre uma tarifa social de energia elétrica. "É preciso lembrar ao vereador Ronei que só quem pode convocar audiências públicas é o presidente da casa", explicou Eliseu após o vereador anunciar a reunião que fará.

O divertido mesmo foi ver Eliseu discutindo com Ronei sobre o tempo de mandato de cada um deles. "Estou no meu nono ano de vereador e não falo isso para desqualificar ninguém", disse o pedetista. "Mas desqulifica", retrucou o vereador da oposição. "Mas eu tenho e você não tem", disse Eliseu nervoso. Com o clima esquentando, o presidente da sessão, César Cortez (PV), pediu suspensão dos trabalhos para os nervos se acalmarem. Ainda com o microfone aberto e sendo orientado por outros parlamentares sobre sua postura, Eliseu soltou: "Então manda ele ficar quieto".

O que ficou visível para quem assistia à sessão foi o racha entre os dois partidos. O assunto que gerou toda a discussão foi a carta entregue pela Guarda Municipal com denúncias de corrupção e irregularidades na corporação. Em seu discurso, Ronei relembrou os planos de governo do prefeito Silvio Félix (PDT) e foi repreendido pelos colegas da Casa por ter usado o assunto para fazer "politicagem", conforme definiu Eliseu em defesa ferrenha das ações de Félix para com a Guarda nos seus cinco anos de governo. "Quando o interesse é atacar o prefeito e não discutir os problemas da guarda eu não concordo", disse.

NA BRIGA

Também na briga, Elza Tank criticou o petista por sua atitude no plenário. Ela, que tentou pedir questão de ordem durante a votação da moção de apelo proposta por Eliseu ao prefeito Silvio Félix (para abrir canal de comunicação com os guardas grevistas), foi impedida de usar a palavra por que já havia opinado sobre o assunto - quem lembrou foi Ronei. Quando chegou sua vez de justificar o voto negativo à moção, Elza desabafou. Nervosa e em um discurso inflamado, o que é típico da vereadora, ela falou que Ronei queria ser o "salvador da pátria". "Tenho um recado do prefeito para os guardas municipais, mas vou falar fora da Câmara porque o vereador Ronei não quer ouvir a minha voz", disse. Ficando vermelha, Elza ainda tropeçou nas palavras. Ao pedir permissão para o presidente da sessão para que o cinegrafista a acompanhasse até o exterior da Casa, a parlamentar gaguejou: "Queria que o cinema... cine... ai não sai, é isso aí mesmo". Depois de sua fala, enquanto outros parlamentares, inclusive Ronei, justificavam seus votos, Elza se sentou ao lado de um guarda municipal na plateia. Com os olhos marejados, Elza foi monossilábica quando questionada se estava muito nervosa: "Ô".

SUPERELZA

Já do lado de fora, a recepção dos guardas municipais deve ter acalmado a vereadora. Um dos servidores inflou o ego de Elza: "A senhora consegue (negociar com o prefeito a incorporação de hora dos grevistas), a senhora tem poder e a gente que dem 20 anos de carreira sabe disso". Apesar do momento de glória frente aos guardas, Elza deixou escapar que as denúncias não deveriam ter sido divulgadas da forma como os guardas fizeram. "Vocês não deveriam ter feito a denúncia, era sigiloso", disse em conversa com a roda de guardas a céu aberto. No plenário, ela e outros vereadores governistas afirmaram que o prefeito não sabia do teor da denúncia. Já longe dos microfones e questionada pelos servidores sobre o porquê da afirmativa de desconhecimento do prefeito, ela deixou claro que a prefeitura estava tentando abafar o caso. Questionada sobre o caso, Elza fez uma parada dramática, suspirou e indagou: "Por que eu sofro tanto?"

DEFESA

A defesa que os vereadores da situação fazem de Félix é incrível e não afeta somente Martins. Um requerimento de Paula Hachid () que pedia a prefeitura o orçamento e os gastos feito pelo Centro de Promoção Social Municipal (Ceprosom) foi duramente barrado pela vereadopra Elza Tank (PTB). Hachi justificou seu pedido dizendo que "tem dificuldade em ver como estás endo aplicado o plano de ações, especialemte na parte financeira, e o orçamento destinado ao Ceprosom". Elza, dizendo que Hachid conhece o presidente da autarquia (Dionísio Gava Júnior), pediu uma revião do requerimento e que os parlamentares votassem contra a aprovação do requerimento "pela desconfiança e pelas palavras que foram usadas no" documento. O requerimento, como definiu Martins ao defender o pedido de Hachid, é o principal instrumento que os vereadores dispõe para fiscalizar o Executivo. "Se o vereador é impedido de fazer o requerimento ele é impedido de fiscalizar. Se o requerimento não traz nenhum constrangimento, aprovemos", disse. O documento foi rejeitado por oito votos a cinco.

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