terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A crise chegou na latinha

Setor encolhe com redução do valores pagos pela indústria
25 jan. 2009


Os efeitos da crise econômica mundial são definidos por empresários como uma reação em cadeia. Se não bastasse a indústria automobilística e de autopeças sentir os reflexos dos problemas dos Estados Unidos nos últimos três meses, a última ponta dessa cadeia também está passando apertado. Os catadores de materiais reciclados e aqueles que realizam o serviço de triagem também estão sentido reflexos da crise.

Plástico, papel, papelão, alumínio e ferro são os materiais que chegam diariamente através de um caminhão na Cooperativa de Reciclagem de Limeira (Coopereli). São os mesmos materiais retirados de escolas e algumas empresas após a sua utilização e destinados à reciclagem. Se pegar latinhas na rua e em festas movimentadas antes era visto com bons olhos, hoje a situação não está mais a mesma.

O valor do quilo dos principais produtos vendidos para empresas que reciclam para a produção despencou. O alumínio, que antes era comercializado por R$ 3,50 o quilo, hoje é vendido por no máximo R$ 1,50. Papéis em geral, de R$ 0,14 passou para R$ 0,05 - o mesmo preço do ferro, que antes era vendido por até R$ 0,32. O último da lista, o plástico passou de R$ 1,15 para R$ 0,50.

A catadora Eva Conceição de Souza, 50 anos, que trabalha na cooperativa do Jardim Aeroporto, faz do trabalho de coleta e venda desses materiais a sua renda doméstica. Além dela e do companheiro, a cooperativa ainda gera renda para mais nove pessoas, dessas quatro estão afastadas no momento. O número de trabalhadores é até grande, mas na hora de repartir os lucros, a equipe grande recebe um valor pequeno - ainda mais em tempos de crise.

"Nós já chegamos a conseguir tirar um salário mínimo cada um com as vendas dos reciclados, mas em dezembro vendemos só R$ 176,00 e isso é dividido entre todos os trabalhadores", afirma. Se não bastasse a crise, a época de férias escolares diminui ainda mais o volume de materiais que a cooperativa recebe. "Das escolas vem de tudo, por que eles têm alimentação e tudo mais", comenta Eva.

Segundo o tecnólogo em saneamento básico, Milton Kogi Nishida, 44, o problema da redução dos preços se deu principalmente por causa da crise. Nishida diz que o ferro e o alumínio sofreram desvalorizaram por conta da situação das matelúrgicas e do setor automobilístico; o papel e papelão teve o preço reduzido por conta do grande volume de exportações que reduziu a demanda por embalagens produzidas em território nacional e o plástico tem influência direta do preço do petróleo, que caiu mais de 50% - o barril chegou a valer US$ 150.

PROBLEMAS
A catadora ainda revela um certo desconforto com a administração municipal. "A prefeitura usa essa cooperativa para mostrar para as outras pessoas quando veem na cidade. Porém, já pedimos ajuda para consertar os puxadinhos que temos aqui e para pagar os nossos materiais e o telefone, mas não conseguimos", reclama. Eva mostra que no terreno há umas coberturas feitas de brasilite e de madeira para dar cobertura aos recicláveis. Um deles está caindo e, apesar dos pedidos para conserto na prefeitura, não é tomada nenhuma providência.

Além do problema com a prefeitura, a catadora ainda reclama da falta de incentivo municipal para a área de reciclagem. "Existe uma lei federal feita pelo presidente que destina o material reciclado para as cooperativas. Deveriam fazer uma lei municipal para mandarem esse material para nós e ter a coleta seletiva nos bairros", diz. A falta da coleta seletiva que Eva comenta é visível até no comportamento dos moradores do mesmo bairro onde a cooperativa está. "Tem um senhor que joga todo o material no lixo comum e nós vamos lá e pegamos", exemplifica.

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