Setor encolhe com redução do valores pagos pela indústria
25 jan. 2009
Os efeitos da crise econômica mundial são definidos por empresários como uma reação em cadeia. Se não bastasse a indústria automobilística e de autopeças sentir os reflexos dos problemas dos Estados Unidos nos últimos três meses, a última ponta dessa cadeia também está passando apertado. Os catadores de materiais reciclados e aqueles que realizam o serviço de triagem também estão sentido reflexos da crise.
Plástico, papel, papelão, alumínio e ferro são os materiais que chegam diariamente através de um caminhão na Cooperativa de Reciclagem de Limeira (Coopereli). São os mesmos materiais retirados de escolas e algumas empresas após a sua utilização e destinados à reciclagem. Se pegar latinhas na rua e em festas movimentadas antes era visto com bons olhos, hoje a situação não está mais a mesma.
O valor do quilo dos principais produtos vendidos para empresas que reciclam para a produção despencou. O alumínio, que antes era comercializado por R$ 3,50 o quilo, hoje é vendido por no máximo R$ 1,50. Papéis em geral, de R$ 0,14 passou para R$ 0,05 - o mesmo preço do ferro, que antes era vendido por até R$ 0,32. O último da lista, o plástico passou de R$ 1,15 para R$ 0,50.
A catadora Eva Conceição de Souza, 50 anos, que trabalha na cooperativa do Jardim Aeroporto, faz do trabalho de coleta e venda desses materiais a sua renda doméstica. Além dela e do companheiro, a cooperativa ainda gera renda para mais nove pessoas, dessas quatro estão afastadas no momento. O número de trabalhadores é até grande, mas na hora de repartir os lucros, a equipe grande recebe um valor pequeno - ainda mais em tempos de crise.
"Nós já chegamos a conseguir tirar um salário mínimo cada um com as vendas dos reciclados, mas em dezembro vendemos só R$ 176,00 e isso é dividido entre todos os trabalhadores", afirma. Se não bastasse a crise, a época de férias escolares diminui ainda mais o volume de materiais que a cooperativa recebe. "Das escolas vem de tudo, por que eles têm alimentação e tudo mais", comenta Eva.
Segundo o tecnólogo em saneamento básico, Milton Kogi Nishida, 44, o problema da redução dos preços se deu principalmente por causa da crise. Nishida diz que o ferro e o alumínio sofreram desvalorizaram por conta da situação das matelúrgicas e do setor automobilístico; o papel e papelão teve o preço reduzido por conta do grande volume de exportações que reduziu a demanda por embalagens produzidas em território nacional e o plástico tem influência direta do preço do petróleo, que caiu mais de 50% - o barril chegou a valer US$ 150.
PROBLEMAS
A catadora ainda revela um certo desconforto com a administração municipal. "A prefeitura usa essa cooperativa para mostrar para as outras pessoas quando veem na cidade. Porém, já pedimos ajuda para consertar os puxadinhos que temos aqui e para pagar os nossos materiais e o telefone, mas não conseguimos", reclama. Eva mostra que no terreno há umas coberturas feitas de brasilite e de madeira para dar cobertura aos recicláveis. Um deles está caindo e, apesar dos pedidos para conserto na prefeitura, não é tomada nenhuma providência.
Além do problema com a prefeitura, a catadora ainda reclama da falta de incentivo municipal para a área de reciclagem. "Existe uma lei federal feita pelo presidente que destina o material reciclado para as cooperativas. Deveriam fazer uma lei municipal para mandarem esse material para nós e ter a coleta seletiva nos bairros", diz. A falta da coleta seletiva que Eva comenta é visível até no comportamento dos moradores do mesmo bairro onde a cooperativa está. "Tem um senhor que joga todo o material no lixo comum e nós vamos lá e pegamos", exemplifica.
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