O assunto do momento é a matéria publicada na edição de janeiro da Piauí sobre a relação do presidente Lula com os jornais, feita por Mario Sérgio Conti.
Sabe o que eu acho? Isso é inveja desse povo que não tem assessores e contatos importantes como o Lula tem. Li a matéria da Piauí assim que chegou em casa e me ative muito mais à narração e ao fato de o presidente se informar diretamente da fonte que a parte em que diz que tem azias.
Lembro que um dos teóricos que estudam o jornalismo certa vez disse que os jornais têm como público alvo o governo, não os leitores. Fazem a crítica através da informação e principalmente nos editoriais simplesmente com o objetivo de serem lidos pelos governantes do país onde vivem. Agora vem a revista e diz que, se o objetivo desses formadores de opinião era criticar o governo Lula a ação é falha por que quem deveria não lê os jornais.
Como ficam aqueles que se entusiasmam frente ao computador com palavras ritmadas e escolhidas em uma lista feita durante leituras de clássicos da literatura, as palavras mais sofisticadas e complexas para dizer uma simples frase. Mordem a língua, estralam os dedos, suam e se levantam na hora que sua obra de arte está finalmente posta nas palavras do editorial. Pra quê, se o Lula não le? É dar com os burros n'água, e bonito ainda.
Essa repercussão toda que a matéria do Mário Sérgio Conti está na mídia, na minha opinião é exagerada demais. Ler um livro é uma coisa, absorver as palavras, o estilo, perceber como os personagens se relacionam entre si e como são colocados na narrativa do autor. Agora, se eu tivesse a meu dispor o telefone do presidente Evo Morales, Hugo Chavez, Felipe Correa e demais chefes de Estado, secretários, ministros e tudo o mais, pra quê leria os jornais? Um telefonema e se tem direto da fonte a informação dos lados da notícia. Problema no gás? Liga para o presidente boliviano, o presidente da petrobrás e talvez o melhor economista do Brasil que os três darão um panorama completo de como está a situação, quais os caminhos que pode tomar e como isso afeta o Brasil e ponto, mais completo que muita matéria que dá voz só a um dos lados da notícia.
E um detalhe adicional, quantos jornais devem falar sobre o presidente? Quantas revistas semanalmente dão uma nota, capa ou páginas e mais páginas de matérias e críticas ao governo? E quantos minutos as televisões destinam ao noticiário político-nacional? O presidente precisa ficar lendo jornal o dia inteiro ou trabalhar?
Reforço que não sou pró-Lula, mas contra repercussões, a meu ver, sem sentido e sem fundamentos. Esses dias um colunista do Estadão quis tanto criticar o presidente que se perdeu nas palavras e brincou de gangorra entre ser contra ou a favor do que a matéria trouxe.
Não quero ser pretencioso a ponto de dizer que ele está errado no seu texto, mas minha opinião é diferente da que expressou. Roberto DaMatta que escreve para o Caderno 2, e nesse espaço disse o seguinte:
"Vejam bem, há contradições triviais. O padre pecador, o ateu crédulo, o professor ignorante, o médico hipo-condríaco, o economista pobre, o pastor malandro, o jornalista venal, o desembargador corrupto, o policial cri-minoso e o político sem caráter. Mas todos leem! Todos se informam por meio de amigos e auxiliares, mas não abandonam o contato direto com a fonte: esse foco indispensável ao conhecimento do mundo. Esse mundo feito de representações codificadas, de palavras e algarismos articulados numa determinada intenção e estrutura. Estivesse eu dizendo o que digo por meio de rimas, o efeito seria diferente. É por causa disso que eu não posso me conformar com um presidente que não lê."
1. Será que todos leem mesmo? Eu duvido...
2. "Todos se informam por meio de amigos e auxiliares, mas não abandonam o contato direto com a fonte: esse foco indispensável ao conhecimento do mundo." O que é esse foco indispensável? O Jornal? Pode ser que no Brasil ainda esteja com a credibilidade alta, mas nos Estados Unidos a populaçõa já não confia mais tanto nos seus jornais. E de qual jornal estaria falando? Será que o jornal merece mesmo o título de "foco indispensável ao conhecimento do mundo" frente a tantos jogos de interesse e posições políticas mascaradas? Claro que com suas seções e divisões o jornal consegue falar de todas as partes do mundo e trazer as causas e consequências, histórias e desdobramentos. Mas uma coisa aprendemos em jornalismo: conversar com as fontes, com os lados da notícia e tudo o mais, apurar, averiguar, checar, comparar e finalmente relatar. O que o presidente diz que faz? Ele só não relata...
Sei lá... acho que é exagerado demais criticar tanto uma fala tão rápida do presidente como foi a que deu para o jornalista da piauí.
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