domingo, 4 de janeiro de 2009

Ideia e minha cabeça coçando!

Hoje estou tranquilo, sem trema, mas vou começar a esquentar a comida no forninho elétrico por que não gostei da mudança da ortografia no nome de um dos eletrodomésticos que mais uso em casa. Micro-ondas, ficou muito feio!!!!

Enquanto todo mundo ainda está tomando conhecimento do que muda, o que cai e o que ficou ainda mais complicado que antes com esse novo acordo ortográfico, nós que trabalhamos na imprensa e lidamos com textos e mais textos todos os dias já temos que adotar - apesar dessa palavra lembrar algo paternal e não há, pelo menos de minha parte, muito sentimentalismo para com essas novas regras -, essa mudança linda.

Em artigo publicado no Estadão deste domingo, no carderno 2, o escritor João Ubaldo Ribeiro, pontuou algumas coisas que são verdades. Não vou transcrever o trecho exato de seu texto (está na página D3 de 4/1/09), mas ele diz que as pessoas começarão a ler "trankilo", por conta da expulsão do trema. Apesar de ser um pensamento um tanto quanto radical, pelo menos na minha opinião, Ribeiro não deixa de ter razão. Na escola aprendemos que "qui" se não vier com trema, não se pronuncia o u.

Estava escrevendo um e-mail agora há pouco com algumas sugestões e usei muito a palavra ideia. Cristo! Eu coço a cabeça de desespero (e não tenho piolho nem caspa) ao olhar para essa palavra sem seu acento. Era tão bonito... Apesar de concordar que a língua portuguesa (ou brasileira) ser bem complicada, depois que comecei a lidar cada vez mais com ela passei a adimirá-la e gosto muito de todos os seus acentos e pontuações. Claro que ainda tenho muitas falhas, o Google vive me corrigindo e o dicionário não sai do meu lado - sem contar as inúmeras vezes que recorro aos colegas de trabalho para dar luz aos brancos que de vez em quando surgem, mas eu não sou o único e com isso fico mais conformado.

Mas a questão é que acho muito bonito todos esses acentos diferenciais, não diferenciais, virados pra lá ou pra cá. E a crase então? "O evento será realizado às 18h". Tudo bem que ninguém mexeu ainda nela, e espero que não façam isso, mas, por mais complicada que possa parecer, esse risquinho virado para a esquerda ajuda muito em algumas frases. "Vou levar à casa de Anita", se a crase não existisse ai o sentido seria outro. Tudo bem que crase não é O acento e sim a junção de um artigo com uma preposição, mas do jeito que tudo está caindo, logo vão tirá-la da nossa ortografia. Tudo cai, menos o tomara que caia!

Quanto à palavra ideia, imagine a dificuldade que será ensinar uma criança que está aprendendo a ler. Dizer a ela que esse e não é o mesmo da palavra cabide ou de sereia, para ter uma escrita um pouco mais parecida com o exemplo. As duas palavras terminam com o ditongo aberto -ia, mas e aí?

"Não Joãozinho, esse e é mais aberto que o da mulher-peixe" (e esse hífen ai, existe?*), diz a professora. E o aluno, que já tem fama de ser um capetinha nas piadas, pergunta por quê? E o que a professora vai responder? "Por que o ministro da educação, Fernando Haddad, assinou e publicou a Resolução 17 no Diário Oficial da União no dia 8 de maio de 2008 que autorizou a adequação dos livros didáticos com o acordo ortográfico que tirou o pauzinho que tinha ai em cima da palavra, e não me pergunte mais nada, leia ideia com o e mais forte!"

É ai que entra aquele ditado: "Para quê facilitar se podemos complicar?"

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* Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, pondendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido - não tinha nada mais complicado pra escrever? Aposto que o autor desse texto ficou durante duas horas procurando as palavras mais difíceis para explicar que primeiro-ministro continua com hífen. ¬¬

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