segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

"Quer comprar uma bala?"

Quem sabe se fazendo denúncias como as desta matéria a situação não mude...

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Em período de férias escolares, crianças vendem doces no Centro
21 dez. 2008


Depois do término das aulas, enfim, as férias chegaram. Após passar tantos dias estudando e sob o olhar dos professores, inspetores e demais funcionários das escolas municipais e estaduais, algumas crianças agora são vigiadas por outro tipo de profissional - os fiscais da prefeitura.

Com o período de descanso, algumas crianças vão para a rua, mas não para brincar. Elas saem com caixas de balas nas mãos atrás de conquistar o próprio dinheiro. Este é o caso dos primos W.L.S.S., de 10 anos, e J.H.S.B., 9. Em uma tarde comum, os dois sobem e descem as calçadas das praças Toledo Barros e Coronel Flamínio Ferreira (Praça do Museu) vendendo pacotinhos de balas que compraram por R$ 5 em uma das lojas do Centro.

W. está ali pela primeira vez. O garoto diz que insistiu para seu pai deixá-lo acompanhar o primo mais novo. "Fiquei pedindo até que ele deixou", disse. Já J. está acostumado com o "serviço". O garoto conta que durante o ano, enquanto ainda está na escola, ele participa das aulas. No período oposto, porém, vai para a praça. O objetivo? Vender balas.

Quando são questionados sobre o porquê que estão ali vendendo as balas, os dois dizem quase em coro: "para ganhar nosso dinheiro". O mais experiente, J., é quem explica como é o trabalho. Ele fala que seu pai dá R$ 5. Com esse dinheiro, ele compra a caixa de balas e começa a vender. No final do dia, segundo o garoto, ele consegue arrecadar até R$ 50. Chegam a vender duas caixas das guloseimas e, com o dinheiro, compram sorvetes. J. garante que seu pai sabe o que ele está fazendo. W. também.

VISTA GROSSA
Enquanto o Jornal de Limeira conversava com os dois garotos, o fiscal da Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Luís Carlos Batistel, aproximou-se para abordar a reportagem e as crianças. O fiscal questionou os garotos sobre seus pais e onde estavam vendendo as balas. O mais novo disse ser filho de um dos camelôs da Praça do Museu e que ele e o primo só estavam vendendo os doces na praça.

Batistel, então, comenta que as crianças não poderiam vender nos semáforos, mas acaba as deixando partir. Para o Jornal de Limeira, o fiscal revela que não consegue fazer muita coisa em relação aos menores. Sua atuação é voltada aos comerciantes ambulantes que atuam sem o cadastro da prefeitura. Ele depende também da Guarda Municipal, que o ampara nas apreensões realizadas. "A gente acaba não apreendendo as crianças para não criar atrito com a sociedade", cita.

Ele explica que a prática é ilegal, mas atua somente com a conscientização das crianças na esperança de que elas parem com as vendas. "A maioria vem só uma vez e logo desiste. Quando vamos conversar com os pais delas, eles alegam que trazem as crianças para o Centro para não as deixar vulneráveis nas ruas dos bairros onde moram", relata o fiscal.

A justificativa feita por Batistel é confirmada pelo pai de J. - o camelô Joanito de Souza Brito, 38. Brito diz que dois de seus cinco filhos estão nas praças vendendo balas e encara a situação como uma diversão para as crianças. "Isso não é um trabalho. É uma diversão, pois não preciso que meus filhos vendam doces para sobreviver. Tenho quatro casas e um bom carro". Ele conta que mora no bairro Ernesto Kühl e para não deixar seus filhos na rua e em contato com a violência local, os traz para o Centro. "Não são só meus filhos que vendem balas no Centro. Vi mais de 20 crianças vendendo Até gente grande vende", exalta-se.

Quanto ao rendimento, Brito fala que as crianças conseguem faturar somente R$ 10. Esta informação, porém, é contestada pelo seu irmão e outros camelôs. "As crianças conseguem tirar mesmo uns R$ 50, mas a maior parte do dinheiro fica com ele", denuncia José Brito de Souza, 30. Souza é pai da criança mais velha, W., e afirma que só deixou o garoto acompanhar seu primo, mas não autorizou que ele saísse vendendo as balas para os pedestres. "Eu acho isso exploração infantil. Sou totalmente contra colocar criança para vender doces".

Na Praça do Museu, W. e J. oferecem os doces para as pessoas que esperam os ônibus nos pontos. Sorrindo, eles correm até seus pais após constatar que a reportagem tinha conversado com eles. Mesmo tendo como uma diversão a venda das balas, as crianças, seus pais e o fiscal sabem que o trabalho infantil é proibido por lei, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), mas ficam na esperança de que isso acabe no próximo dia.

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