quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Próximo ao desenvolvimento, a antiguidade prevalece

Matéria especial sobre a região da avenida Campinas. É nessas horas que aproveitamos para tirar algumas curiosidades. Vivo nessa região há 22 anos (toda minha vida) e sempre quis ver o interior de algumas casas. Então... só unir o útil ao agadável.

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Casas antigas ostram sinais do tempo na avenida Campinas
17 dez. 2008

Próximo ao desenvolvimento do fim da avenida Campinas com seu shopping, escola e supermercado uma casa quase engraçada. Quase não tem teto, parece não ter nada. Diferente da cada de Toquinho e Vinícius de Moraes, esta casa tem chão, tem telhado e paredes. A primeira impressão é de que seria uma casa normal, mas na realidade esta casa resiste ao tempo e a modernização da cidade.

Seu morador, o pedreiro Paulo César Maezi, de 46 anos, mostra seu interior. As postas de madeira sem maçanetas e fechaduras que hoje são convencionais, são iguais aquelas usadas nas construções antigas. As janelas também mostram os sinais evidentes de que o tempo passou por ali e deixou suas marcas. Alguns vidros quebrados e uma moldura como uma casa de pesqueiros, num sítio afastado, que sem preocupação nenhuma com violência e invasões mantém uma estrutura simples, só um teto contra a chuva, sem nenhum conforto. E este é o principal problema apresentado pelo pedreiro, a falta de conforto. Em tempos modernos, quando casas arejadas, com forro e pisos frios surgem em vários bairros da cidade, Maezi convive com ratos que entram pelas frestas das portas e teto, além de problemas com o barulho causado pelos trens e da movimentação da avenida.

A casa azul de paredes com a tinta descascando é uma das residências antigas que a avenida Campinas ainda abriga. Após o viaduto Laércio Corte, sentido Centro, a casa de Maezi é uma das primeiras que chama a atenção para o estilo antigo e até abandonado. Reformar está fora de cogitação. Não é tanto por conta dos vínculos afetivos que tem com o lugar - já que o pedreiro nasceu naquele mesmo local e mora lá até hoje -, explica o pedreiro. "Se tiver que reformar a casa compensa muito mais derrubar e construir outra", exclama. Maesi só não faz o que diz por conta da falta de dinheiro. O encanamento de ferro aparece no chão de terra batida e o banheiro, assim como antigamente, só do lado de fora da casa.

Sua moradia está localizada em um terreno que passou de geração em geração. Seu avô Emílio Maezi, quando chegou da Itália, comprou terras extensas na região. Tão extensas que o quarteirão onde o neto mora é basicamente um clã da família italiana. Sua casa tem 19 metros de frente e 119 de fundo. Começa na avenida e acaba próxima à linha do trem. O terreno grande, ao qual Maesi se refere com brilho nos olhos por conta do tamanho, fica um pouco salgado na hora de pagar o Imposto Predial Territorial Urbano, o IPTU. "São quase R$ 8 mil por ano de imposto, muito caro", reclama. E não é só o Paulo Cesar Maezi que herdou um bom pedaço de terra. Seus vizinhos, e parentes, também têm terrenos parecidos , com até 29 metros de fachada.

MAIS ANTIGUIDADES
Além da casa de Maezi, Laura Maria do Nascimento, 38, e sua mãe Ermínia do Nascimento, 79, também moram em uma casa das casas antigas da avenida. Ao contrário da casa de Maezi, o lugar onde Laura e Ermínia moram é rosa. A fachada mostra logo de cara que a construção é realmente antiga. Como todas as épocas têm suas tendências, a casa alugada por elas tráz próximo ao telhado a data da construção do prédio: 1901, início no século 20. A casa também é de família tradicional da cidade. As iniciais junto da data mostram quem foram os primeiros moradores do local. "A casa era do Paschoal D`Andrea e hoje moramos aqui", revela a mulher.

A arquitetura rústica condiz com o interior da casa. As portas nos mesmos moldes da casa de Maezi, duas tábuas juntas por pequenas vigas e janelas antigas, de madeira e quatro vidros. Laura diz estar ali por necessidade, preferia morar em uma casa mais moderna. "Estranhei quando cheguei aqui, parecia uma casa de assombração, mas acabei me acostumando", diz. Ela já mora ali há dois anos e nesse tempo pintou as paredes, batentes das portas e mexeu no telhado. Apesar do último reparo ser mais por necessidade que vaidade, as goteiras na cozinha e outros cômodos a forçaram a dar um jeito nos defeitos que as telhas apresentaram. Já as paredes, pintadas de branco e azul escuro mostram que os cuidados com a aparência ainda são tomados. Na parede um quadro da Santa Ceia e os sofás cobertos com panos laranjas demonstram que conforto é algo também desejado pela família Nascimento.

E no meio de tantas expectativas para a região, Maezi e Laura continuam em suas casas à moda do início do século passado vendo o desenvolvimento passar e esperando condições melhores para confortos melhores.



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