quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Em busca de um contato

Essa matéria estava procurando há algum tempo para postar aqu no blog. Foi umas que eu mais emocionei até hoje ao fazer. O texto, se não me engano, ficou maior, mas foi um pouquinho podado... normal.

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Familiares de presos vivem rotina em dias de audiência
26 abr. 2008

Sexta-feira à tarde, dia de audiência no Fórum de Limeira, localizado na Rua Boa Morte, no Centro. São 18 detentos, todos acusados de crime de associação para o tráfico de drogas. E com um agravante: acusados de fazer parte do Primeiro Comando da Capital (PCC). Do lado de fora, dez veículos da Polícia Militar e Guarda Municipal bloqueiam o trecho da Rua Santa Cruz ao lado do prédio, usado para entrada e saída dos presidiários, e o trecho frontal, na Boa Morte.

Em meio à mobilização policial, um grupo de mulheres e crianças chama a atenção. Com os olhares voltados para além das grades verdes da praça do Fórum, elas esperam avistar pais, maridos e amigos na saída das audiências a caminho de um dos quatro camburões estacionados no local. Estão ali para matar a saudade e dar força - ainda que à distância - para suportarem a difícil vida na prisão.

A dona de casa Aline de Almeida Brito, de 22 anos, espera ao lado da filha de três anos o momento em que Diego Roberto Pedroso, vulgo "Mercadão", sairá do prédio. Ela é esposa de Pedroso. Apesar das visitas semanais feitas na cadeia onde o marido está, a dona de casa acompanha todas as audiências do lado de fora, na calçada. Faz cinco anos que Pedroso está preso. Neste tempo, foram três audiências. Além da filha que a acompanhava, Aline e Pedroso são pais de mais duas crianças com menos de três anos. Os dois pequenos estavam na creche.

CARTAS
Um barulho ao longe chama a atenção de todos que aguardam na calçada. Alarme falso. As portas de um dos camburões foi aberta, mas ainda nenhum preso saiu. Quando Aline deu à luz a filha mais velha, Pedroso estava livre. Com a garotinha com 20 dias de vida, o pai foi preso. Ela cresceu conhecendo o pai atrás das grades.

Finalmente o portão se abre. Mulheres e crianças se juntam contra a grade, nas pontas dos pés, para ver quem já passou pelo juiz. Pedroso sai com as mãos algemadas, acompanhado de policiais. "Diego, me escreve "tá", te amo, vai com Deus!", grita Aline. "Tchau pai! Vai com Deus! Eu "tô" com saudades!", diz a filha. Antes de entrar no camburão, Pedroso faz um coração no ar com os dedos, manda beijos para a esposa e filha e diz que também as ama e sente saudade.

O carro em que Pedroso será transportado para a cadeia não tem janelas, só aberturas para ventilação. Assim que o veículo começa a sair do Fórum, Aline e a filha correm para a esquina das ruas Boa Morte e Santa Cruz. Do interior do camburão, Pedroso continua gritando que ama a família. A esposa pede cartas e a filha repete o pedido.

Nestas ocasiões, as ruas em torno do Fórum são consideradas áreas de alta periculosidade. Por conta disso, são fechadas ao trânsito. O bloqueio é feito para evitar tentativas de resgate, já que quadrilhas ainda estão soltas. A presença de familiares e amigos é certa quando há audiências no local. A saudade sempre fala mais alto e o desejo de dar força aos detentos justifica horas de espera.

O carro sai em disparada e Aline espera para ver um amigo antes de voltar para casa.

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