quinta-feira, 9 de julho de 2009

Um ano de servidor público...

Em uma época da faculdade quando a gente questiona se aquela profissão é a que realmente queremos seguir em nossa vida, as dúvidas abrem espaço para outras alternativas e deixa brechas para outros amores tentarem falar mais alto. Isso aconteceu comigo no terceiro ano da faculdade de Jornalismo. De saco cheio de algumas disciplinas e sem muita paciência para esperar por mais três semestres, houve um tempo em que quase tranquei o curso para estudar e prestar vestibular na Unicamp para o curso superior em dança. (Graças a Deus não fiz isso mesmo)

Desde criança dançar sempre foi uma atividade que me agrada. Porém, comecei a dançar tarde. Com 14 anos me matriculei no curso de sapateado no Centro Cultural. Fiz um ano de aulas, que considerava até há pouco tempo o cúmulo do básico, com a professora Nina (hoje sei a difuldade de trabalhar com crianças da idade que eu tinha). Depois de algum tempo parado, por conta do Ensino Médio e os cursos técnicos que fiz nesse período, voltei a dançar, em uma academia particular. Já estava cursando Jornalismo e o que voltou como um hobbie virou uma segunda profissão.

Cerca de seis anos depois das primeiras aulas no Centro Cultural e as brincadeiras nos corredores com os sapatos de plaquinhas de metal, resolvi prestar um concurso da Prefeitura de Limeira para a vaga de professor de dança. O concurso foi feito em 2007. No ano seguinte, quando deveria ser convocado, eleições. Foram pelo menos seis meses conversando com secretários e outros funcionários e acompanhando a situação do processo até que em julho de 2008 finalmente foi publicado no Jornal Oficial meu nome. Não vou lembrar a data exata dessa publicação, mas me recordo bem da pressa e da correria para conseguir assumir o cargo o quanto antes. O anúncio saiu no jornal na sexta. No mesmo dia agendei os exames que precisavam e consegui os documentos do edital. Na segunda-feira preenchi todos os papéis na Secretaria de Administração e na terça já era um funcionário público efetivo.

Um ano depois, apesar de pouco tempo, é possível relatar como é estar no poder Executivo, pelo menos em parte dele. No departamento onde trabalho, o Centro Cultural (que une a Escola de Cultura e Artes, Museu e Biblioteca), grande parte dos funcionários é comissionado. Dos professores então, só conheço dois concursados (um deles sou eu). Apesar de esse fato não parecer ter tanta relevância num primeiro momento, na minha opinião é um dos principais motivos pelo qual a escola e o local não é mais forte e atuante do que poderia ser.

Há, entre os funcionários efetivos e comissionados, algumas diferenças claras de comportamento e visão da máquina pública. O clássico é o medo de retaliações e de denúncias das irregularidades do local. Comissionados parecem ter medo de abrir a boca, afinal o contrato pode ser recindido a qualquer momento. Um deles que começou a falar além do que deveria foi demitido. O que está errado deve permanecer no silêncio. Por conta disso as denúncias geralmente são anônimas. Abrir a boca é sinônimo de transferência. Não falo só do departamento onde trabalho. Conversando com mais funcionários públicos as mesmas situações são relatadas.

Errado é ser submisso. Respeitar a hierarquia de cada local de trabalho é sempre fundamental, mesmo sabendo que algumas vezes não é a competência que nomeia chefes, mas sim as famosas costas quentes na política. Funcionários concursados e efetivos deveriam sim questionar, discutir e denunciar, afinal foi por mérito próprio que esses funcionários conquistaram o posto em que estão. Porém, nem sempre isso ocorre.

Enquanto um funcionário efetivo se cala, um comissionado tenta sempre abafar a situação. Dia desses estava conversando com uma funcionária da escola sobre o caso envolvendo uma das salas da escola e o boletim de ocorrência que cita meu nome e uma outra comissionada passou do nosso lado e pediu para entrarmos em uma das salas para que as mães de alunas que estavam perto não ouvirem o assunto. Abafar por quê? O que tem de errado conversar na frente de mães ou de qualquer outra pessoa?

Uma das coisas que o poder público deveria priorizar, em todas as situações, é a transparência. Das contas aos processos internos. Com excessão do que corre sobre segredo de justiça, tudo deveria estar disponível de forma fácil para a população conferir e cobrar. A fornalha que move essa máquina é o dinheiro dos contribuintes. O resultado final é sempre noticiado e bem divulgado pela mesma máquina. Mas e o processo de produção? A população tem conhecimento das duas pontas – a entrada do dinheiro e a aplicação dele (ou de parte dele).

Se todos os funcionários do poder executivo fossem concursados, provavelmente não haveria tanta impunidade e corrupção como há no meio. Do auxiliar geral até o superintendente. O serviço feito por profissionais que sejam formados para atuar na área que escolheram melhoraria e muito a qualidade do atendimento da população.

Secretários até vai, são os braços políticos do prefeito, mas não há tanta necessidade em nomear diretores e os inúmeros cargos que há no poder público. Isso faz com que a corrida eleitoral seja garantia de emprego para toda uma equipe que puxa o saco do comandante. Essa garantia de emprego, pode se tornar também garantia de roubos, de ameaças e de silêncio de quem já está há anos concursados ou escolheu do trabalho no setor público uma forma de garantir a vida.

No final... em um ano conquistei a amizade de alunas, me aproximei de quem já adimirava como profissional e ganhei um boletim de ocorrência de graça.

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