Gostaria de provocar uma discussão. Até onde vai a ética de um funcionário público? Essa semana parei para pensar nesse assunto quando alguns assuntos envolveram o departamento no qual trabalho dentro da Secretaria de Cultura de Limeira. Além de jornalista sou também professor de dança concursado e dou aulas na Escola Municipal de Cultura e Artes (Emcea). A escola funciona no mesmo prédio do Museu Pedagógico "Major José Levy Sobrinho" que está interditado desde fevereiro de 2007 por conta das condições da estrutura física onde é exposto e guardado o acervo histórico.
Acontece que, apesar de terem preservado todos aqueles quadros, móveis e objetos que fazem parte da história de Limeira, e que ficam no segundo andar do prédio, crianças, adolescentes e adultos continuam frequentando normalmente o térreo do local. Lá são ministrados cursos de dança (jazz e ballet), teatro, violão e canto coral (são estes que me recordo e vejo todas as semanas). O problema está em duas das salas usadas principalmente pelos dois primeiros cursos listados.
Na sala 2, parte do teto era até sexta-feira coberto com um tecido preto para esconder um buraco que estava no madeiramento. Das seis luminárias que a sala possui, no máximo três funcionam - tem dias que só uma consegue ficar acesa a noite. Quando chove forte no Centro, a sala não ganha goteiras, mas sim cachoeiras e poças amareladas do teto. Todos os dias pela manhã, o linóleo da sala (material usado na dança para revestir o chão) fica cheio de bolinhas pretas - dizem que são fezes de cupim -; quando a faxineira estava em greve, as alunas faziam aulas em cima dessas bolinhas. Sem contar que um dos ventiladores está quebrado. Essa sala já foi filmada (em dias de chuva forte) e fotografada por mais de uma aluna. E na mesma sexta-feira do início do parágrafo, parte do madeiramento do teto caiu, deixando a sala fechada para as aulas.
Já na sala um, a situação é um pouco melhor. O teto está todo amarelado, mas está inteiro. Quando chove a sala também ganha cachoeiras, porém menores. Um dos ventiladores só não está quebrado porque no seu lugar só tem o cabo. O que tem de bom nela são as lâmpadas, a maioria funciona. E um buraco no chão foi tampado depois de uma aluna de cerca de oito ou nove anos ter enfiado a perna dentro.
Esse é o quadro de duas das salas do prédio também conhecido como Centro Cultural. As outras duas salas usadas por outros professores estão em melhores condições - pelo menos nunca ouvi dizer que têm goteiras. Existe dias da semana, principalmente segunda e quarta-feira, que a sala dois e um, recebem, no mínimo, cinco turmas de crianças (cada turma tem em média 20 crianças e adolescentes); nos outros dias o número de turmas é menor.
É possível se calar frente a uma situação como esta? Como fica um jornalista que convive com um caso como este e vê que a licitação para a reforma do local não sair e pior, as aulas continuarem a ser feitas normalmente no local a mando da direção da escola?
VOCÊ TEM MEDO DE QUÊ?
Certa vez, quando estava conversando com um dos funcionários (comissionado) da administração do local, ele me disse o seguinte: "você não pode ficar fazendo matéria no jornal sobre tudo o que você ouve aqui dentro". Será que não? Há um limite muito estreito, a meu ver, nesse caso. É preciso, sim, saber separar as duas funções: funcionário efetivo do jornalista. Mas jornalista é jornalista 24 horas (perdoem a repetição de palavras). Não cai (e espero não cair) na rotina daqueles profissionais que esperam a pauta chegar na mão ou aqueles funcionários públicos que se conformam com a situação em que estão inseridos, se calando para as não conformidades ao redor.
E outra coisa, uma escola de dança que lida com crianças carentes e lida com arte deveria ser fonte de excelentes pautas. Por que o medo de matérias sobre o que é ouvido dentro da administração? Um funcionário público deve ser ético o suficiente para assumir um cargo comissionado - deveriam inventar um teste para averiguar isso. Transparência deveria ser a palavra chave para todas as relações dentro do serviço público.
E até onde um comissionado iria para garantir o emprego? Com uma situação irregular ele se calaria ou colocaria a boca no mundo para denunciar? O que aconteceu com os cargos comissionados que sabiam da existência do tal funcionário fantasma que Félix nomeou? Na sexta-feira ele foi exonerado, no mesmo dia em que a matéria do Jornal de Limeira foi publicada. Em menos de horas os funcionários da administração se mexeram para conseguir aprovar a exoneração dele e de outros três comissionados. Indo além: e quem permitiu isso? O que aconteceu com aqueles que sabiam da existência da nomeação do tal fantasma e ainda defendeu a nomeação para um cargo que exige a presença diária do funcionário junto do poder Executivo?
É ai que volto ao título deste texto: onde está a ética dos funcionários públicos comissionados? É melhor saber responder isso antes de criticar a ética de jornalistas e jornais da cidade!
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