Recuperação. Esta é a palavra mais usada mês a mês quando dados sobre a economia dos municípios ou do país são divulgados. O Ministério do Trabalho e Emprego divulgou hoje o balanço do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Limeira voltou para os números negativos na variação entre as admissões e demissões no emprego formal nos setores da economia da cidade. Apesar de o número ser pequeno e negativo (- 0,05%), uma mudança positiva ocorreu em uma das atividades econômicas que mais sofreu desde o começo da crise econômica mundial, a indústria de transformação.
O número na indústria de transformação já vinha se recuperando desde dezembro de 2008. No último mês do ano passado, só esse setor foi responsável por 1.108 demissões em limeira. Enquanto esse número grande de carteiras de trabalho recebiam baixas, apenas 241 trabalhadores foram admitidos. Essa divergência nos números gerou o fechamento de 867 postos de trabalho no município. De dezembro em diante, a curva do emprego na cidade começou a sentir uma inclinação em direção aos números positivos, alcançada só em junho deste ano.
No mês passado, Limeira perdeu 32 postos de trabalho. A variação negativa é resultado do confronto entre os 2.312 funcionários admitidos contra os 2.344 demitidos nas indústrias da cidade. Seguindo a queda, o setor de serviços, que durante a crise foi um dos menos afetados na cidade, também registrou perdas. Foram fechados 34 postos de trabalho com carteira assinada nessa área em junho deste ano. Em maio a variação foi positiva. Naquele mês foram criados 190 postos de trabalho no setor. Desde novembro, este é o quinto mês (considerando março, mês que teve apenas um posto de trabalho fechado no setor) que o balanço fecha negativo para serviços. Em dezembro de 2008 o setor perdeu 316 postos de trabalho.
No acumulado desde o começo de 2009 o emprego em Limeira continua negativo. Foram fechados 1.080 postos formais de trabalho desde o primeiro mês do ano – uma variação de – 1,65%.
BALANÇA COMERCIAL
Além das perdas no mercado de trabalho, a balança comercial de Limeira também sofreu com todas as complicações da crise econômica. O setor de automóveis, o mais afetado nos Estados Unidos, fez vítimas também no Brasil e na cidade. Os números do primeiro semestre do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) revelaram que em seis meses a balança comercial do município teve grandes perdas. O setor de autopeças - representado em Limeira pelas multinacionais ArvinMeritor e TRW -, expôs no começo da crise econômica, em outubro de 2008, que os pedidos vindos do exterior registraram quedas. O argumento foi usado como justificativa para as demissões no setor e a redução da jornada de trabalho da linha de produção.
Comparando os números do primeiro semestre de 2009 com o de 2008 é possível constatar que o setor de bens intermediários deixou de exportar 31,3%, o que corresponde a US$ 47,46 milhões. Na outra mão do consumo internacional, as importações também caíram. A diferença entre os mesmos períodos foi de quase 20%. Apesar das perdas, a balança comercial de Limeira continua positiva. A diferença entre o montante de compras e vendas para o exterior ficou em US$ 20.684.698, ou seja, Limeira vendeu mais que comprou.
ANÁLISES
Analisados em conjunto, os levantamentos dos dois ministérios mostram que a possível recuperação da economia limeirense ainda é tímida e frágil. Apesar de variação negativa no emprego ser pequena em junho, os números mostram que ainda não está estabilizado as perdas de postos formais de trabalho na cidade. Pessoas ligadas aos setores econômicos da cidade tomam cuidado ao esboçar suas análises para a cidade.
HISTÓRIA:
Indústria: De salvação a perdição
Segundo estudiosos da economia nacional, a crise de 1929 não teve uma recuperação tão rápida. A indústria que hoje sofre os principais reflexos da crise com as quedas de exportações e redução do quadro de funcionários, na época em que a bolsa de Nova Iorque fez suas vítimas pelo mundo, no final da década de 1920 e início da de 1930, foi uma das responsáveis pela recuperação e estagnação da renda do País.
Ainda dependente da agricultura, a economia brasileira do final da década de 1920 estava em grande expansão econômica principalmente pela exportação dos produtos primários produzidos no país. A época é das grandes fazendas de café, com suas crises internas e no exterior, e a industrialização do país ainda ganhava espaço e se fortaleceu com toda a problemática no cenário internacional. Segundo Annibal Villanova Villela e Wilson Suzigan, “a Revolução de 1930 e a Grade Depressão contribuíram para robustecer as classes urbanas, levando, assim, ao declínio gradual do poder da classe agrária, principalmente dos produtores de café”. Naqueles anos, a indústria foi responsável pela estagnação da economia nos anos após a crise de 29 – efeito positivo para o contexto da época. “Se a produção industrial não tivesse substituído a agricultura de exportação como setor dinâmico da economia, teria havido queda da renda per capita ao invés de apensa estagnação”.
A balança comercial registrou queda nas importações e exportações nessa época. Como explica Wilson Cano, no período de 1929-1933 a dominância que as exportações exerciam sobre a determinação do nível e do ritmo da atividade econômica do país passou para segundo plano. “A parti desse momento, seria a indústria o principal determinador do nível de atividade econômica de atividade”, diz.
O que houve no Brasil após a crise de 1929 foi a integração da indústria nacional. Uma “saída para dentro”, nas palavras de Cano. As indústrias passaram a importar matéria prima de estados vizinhos. Com as complicações no comércio exterior, houve uma substituição das importações. As taxas de câmbio ficaram mais cara para aqueles produtos com similares nacionais. A medida adotada pelo governo diminuiu a ociosidade de produção do Brasil. Com um precedente de imigrações e crescimento da população urbana, as indústrias encontraram um momento ideal para aquecer a produção com a demanda interna.
“A contenção dos novos investimentos industriais, de maneira geral, deu-se pelo violento corte das importações e, no caso da maior parte das indústrias de bens de consumo não durável”, explica Cano.
ATUALIDADE
O que as avaliações e a história mostram são cenários diferentes nas duas crises que o mercado brasileiro passou, mas as experiências servem para novas estratégias. Enquanto a agricultura perdia espaço e a salvação foi a integração da indústria na década de 1930, hoje se diz que a crise tem um futuro ainda nebuloso, apesar de já ter mostrado suas piores garras e a indústria, agora, foi a responsável pelo sono conturbado da classe assalariada.
Numa era ainda mais capitalista, a luta atual é pelo aumento do crédito às indústrias e para a população como um todo. A tática agora é fomentar o consumo, estratégia defendida por especialistas que analisam as taxas básicas de juros que estão em queda.
Li certa vez que uma política keynesiana também ajudaria o país a sair da crise. Em 1936, o economista que John Maynard Keynes publicou o livro Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda. Na publicação o estudioso defendeu o seguinte: “O longo prazo é um guia enganoso para as situações presentes. No longo prazo todos estaremos mortos. Os economistas se propõem uma tarefa muito fácil e inútil se em épocas de tempestade eles apenas puderem dizer que, quando o temporal tiver passado, o oceano estará calmo”. A crítica de Keynes era pelo aumento das despesas do governo em obras públicas.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal, é apontado como um investimento que segue a linha de Keyne. Investir em obras públicas, segundo os especialistas, fomenta o consumo interno. Gerar emprego é gerar renda para a população. Em entrevistas sobre a situação da Construção Civil com as desonerações do Imposto sobre Produtos Industrializados, o setor é sempre apontado como o temômetro da economia. Se ele é tão importante assim para a economia, porque Limeira não segue a tendência nacional e investe o que recebeu do Programa?
Segundo o balanço estadual de dois anos do PAC, Limeira tem uma verba de cerca de R$ 13 milhões reservadas para obras de saneamento e habitação. Mas até agora não usou nem metade.
Em entrevista recente ao Jornal de Limeira, o secretário municipal de Habitação, Antonio Custódio de Oliveira, comentou que já foram encaminhados cinco projetos residenciais para a Caixa Econômica. Eles ainda estão sob análise do banco para a liberação e início das obras. Oliveira comentou que os próximos passos serão dados pelo banco que fica responsável pela contratação da construtora e todos os trâmites burocráticos para por em prática o projeto Minha Cassa, Minha Vida na cidade.
Outros projetos também estão empacados pelas burocracias do poder Executivo e financeiro. Um deles, o Saneamento Para Todos, que terá a maior verba destinada pelo PAC. Ele conta com um repasse de cerca de R$ 10 milhões, mas não apresentou nenhum avanço em Limeira.
Com todo esse cenário, onde está o interesse do poder público em ajudar as classes mais pobres e a economia do município? Um aquecimento no setor de construção mobilizaria outras áreas da economia, inclusive a de autopeças.
A história mostrou que num momento de crise a indústria nacional se integrou para, pelo menos, garantir uma estagnação da economia dos anos seguintes a 1929. Com uma globalização tão forte e presente no mundo moderno, o tempo agora é de se voltar mais uma vez para dentro e aquecer o consumo dos limeirenses para voltar a mobilizar todos os setores da economia e garantir uma curva de emprego e da balança comercial em uma inclinação positiva para os próximos meses.
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