Não diria para fecharmos os olhos e imaginar a cena, porque as máquinas fotográficas estão por ai e ninguém quer sair assim em uma foto, ainda mais no álbum da formatura. Mas este é um momento em que estaríamos sentados no sofá da sala, na cadeira da varanda ou no canto mais aconchegante da casa. Em frente a uma TV, ouvindo o rádio ou lendo um jornal e revista. No virar das páginas ou passagem dos blocos nos deparamos com uma reportagem mais que especial.
Alguém fez uma pesquisa da história de cada um e colocou ali em imagens ou palavras. Na maioria delas terão alguns elementos básicos que vão se repetir. Os primeiros passos depois de arrastar o joelho por toda a casa, os primeiros doces e as primeiras primeiras coisas que todos experimentamos.
Algumas são mais marcantes. Um uniforme no qual o shorts combina com a camiseta e a lancheira pendurada no ombro. Na época onde os passos eram curtinhos. Caminhando em direção ao portão olhávamos para trás animados ou tristes. Estamos indo para escola! Que conquista. Novos amigos, professoras... vamos escrever, vamos ler, vamos aprender! Lembra? É o primeiro dia da primeira série. Foi o primeiro sentimento de liberdade. Pode ter sido difícil se separar da mãe ou do pai. Deixá-lo dentro do carro ou no portão de casa e rumar para um ambiente novo e diferente.
Alguns anos já se passaram, é óbvio. Poucas são as chances que temos para olhar para trás. Essa é a reportagem da nossa vida. Afinal, agora somos aptos a fazer uma reportagem com todos seus elementos, suas técnicas, arte e ciência, como já disse um dos estudiosos que lemos há exatos quatro anos atrás.
O que colocariam nesse texto, ou nessas imagens e sons? O primeiro dia de aula no ensino médio. As baladinhas da adolescências. Namorados ou namoradas. Ou então, as manifestações políticas que cada um participou, especialmente aquelas que a experiência é superior à maioria de nós.
Seja lá quais foram os principais acontecimentos e depoimentos que cada um iria encontrar nessa reportagem, uma retranca ou capítulo seria igual para todos. O título poderia ser “Os melhores anos de nossa vida”. Afinal, a época da faculdade é vista assim por muitos.
Essa turma de jornalismo que hoje está aqui com a beca e capelo passou quatro anos juntos. A maioria deve se lembrar ainda do primeiro dia de aula. A ansiedade de ver quem estará sentado naquelas carteiras. Quem seriam os professores, os livros que teríamos que ler e as notícias que iríamos escrever. E com certeza se lembram daquele trote. Farinha voando de todo lado, tinta guache no cabelo e na orelha. A festa dos calouros quando estávamos andando pela faculdade conhecendo as instalações.
É pessoal. Naquele dia parecia que uma eternidade ainda estaria pela frente. Seriam 47 meses. Textos, textos e mais textos. Sem dúvida alguma, o xérox da faculdade foi mais visitado até que a cantina. Filas enormes, senhas que demoravam para chegar, e dinheiro, haja dinheiro para todas aquelas fotocópias.
Acima de tudo isso, todas as conquistas que juntos conseguimos. No primeiro ano era teoria atrás de teoria, papers e termos complicados na aula de economia, datas na história da comunicação entre várias coisas. Tanto que de lá para cá o número de alunos diminuiu. Alguns desistiram mesmo, mas infelizmente a situação financeira de alguns não colaborou para eles estarem aqui na frente, sentados do nosso lado. Mas estão no coração de seus amigos que sentiram as perdas ao longo dos novos semestres com a lista de chamada menor.
E o nosso primeiro jornal? As matérias preto no branco. Finalmente sentindo um pouco do que realmente é ser jornalista. Uma emoção digna de relato. Aquele tablóide em nossas mãos, distribuindo pela faculdade. Assumindo o papel dos jornaleiros-jornalistas. “Ei, vejam o que produzimos! Fui eu quem escrevi isso aqui. Extra, extra. Leia, é legal!”
Seria bom se tudo fosse só glórias. Mas a glória nossa de cada dia é feita com o sacrifício de nossas escolhas. Provas, provas e mais provas. Conceitos, termos, técnicas, nomes, teorias... e se não bastasse, nossa vida pessoal ainda. Aqueles que viajaram todos os dias para ir até a faculdade. Seja ônibus, van, moto, a pé, carro. Cada um da forma como podia, como conseguia, com o jeitinho que dava. Podemos até reclamar que foi difícil e complicado, mas foram esses desafios que nos formaram. Foram aqueles primeiros textos, as primeiras teorias que colocaram a base para o profissional que cada um é hoje.
Mas muita coisa boa fica tatuado em nossa memória também. Quem não jogou voley ou futebol na quadra? Alguns se arrebentaram, estragaram calças, ralaram o joelho. É, acho que podemos dizer que demos o sangue na faculdade sim! Do nosso jeito, mas demos. Eram intervalos que todos se uniam na quadra ou na arquibancada. Na torcida ou dos dois lados da rede. Ali não havia divergências nem estresses. E o melhor, não havia computadores travando! Pagemakers lerdos. A brisa era natural e no rosto e não do ventilador que não vencia o calor, ainda mais naquele estúdio de rádio que era quase uma sauna privativa dos cursos de comunicação.
E o temido TCC? Que medo dessa sigla quando o terceiro ano estava pra acabar. É um terror feito até mesmo pelos professores. Ainda mais por nós mesmos. Um bicho de 20 cabeça. Literalmente um enigma: decifra-me ou te devoro. Mas foram trabalhos elogiados. Todos com notas acima da média. Uma produção ímpar. Ai também, cada um pulando suas próprias barreiras para ouvir, depois de um ano inteiro, ou melhor, quatro anos, aquele última nota. O veredicto final. O sinônimo de dizer: parabéns, você é jornalista.
Um reconhecimento que é fruto da dedicação de vários professores. Sem a cobrança e os famosos deadlines, ou datas limites para entrega de trabalhos e matérias, nada teria graça. E as gírias? Vamos amarrar? E o São Paulo mais uma vez campeão. Shiiiiiu. Cada um com suas particularidade que nos faziam sorrir e estimulava o pensamento crítico que um jornalista deve ter perante a sociedade e os acontecimentos. Uma responsabilidade sem igual. Cada um com suas afinidades, devemos muito a esses professores que estavam ali, todas as noites dividindo suas experiências e conhecimentos, preocupados com a formação de mais uma leva de jornalistas, o futuro da imprensa.
Além deles, não há um colega ou amigo em toda a sala que não tenha feito parte do crescimento pessoal do outro. Seja por meio de brigas ou abraços. Ajudaram na reflexão pessoal, no apoio para seguir em frente e não desistir do sonho de estar aqui hoje, todos juntos nos formando, aproveitando o nosso dia e de mais ninguém.
Somos nós os vencedores. Foram amizades e laços fortes construídos durante esses anos. Primeiras impressões que se desmancharam, confidencias trocadas e o apoio de verdadeiros amigos que conquistamos durante o curso de jornalismo. São lembranças e amizades que o tempo vai demorar para apagar. Não são lançadas ao vento a fim de se perderem entre as memórias de cada um. Esses dias ficarão marcados para sempre na reportagem que cada um lê de sua própria vida.
Essa pauta não tem fim. Os caminhos, suítes ou desdobramentos deste texto são diversos. Cada um agora irá seguir o seu próprio caminho. Somos como barcos que estavam ancorados. Agora prontos para ganhar a imensidão do mar.
Sucesso para nós.
Um comentário:
Simplesmente, lindo!
Não tem como não ver um filme passando na minha cabeça (e lá se vão 23 anos da minha formatura!).
Mas, são textos assim que fazem a emoção aflorar e lembrar as escolhas que fizemos.
Alex, obrigada por esse momento.
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