sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Fotografias pensadas e intertextualidade nas imagens


Oficina Cultural Carlos Gomes abre exposição sobre fotografia contemporânea
por Alex Contin

Entre imagens pensadas, coloridas ou monocromáticas, pelo menos cinco fotógrafos e expositores registraram algumas fotos na inauguração de mais uma exposição na Oficina Cultural Regional Carlos Gomes. No começo da noite de ontem, o professor de fotografia e oficineiro Rogério Entringer e seus alunos apresentaram o resultado da oficina de Técnicas e Teorias na Fotografia Contemporânea. O curso que durou cerca de dois meses, entre setembro e outubro deste ano, concluiu suas atividades com 15 alunos, a maioria fotógrafos e artistas plásticos.

Encontros de amigos e familiares, ou pessoas desconhecidas em rodas de conversas eram suficientes para registrar com as várias lentes, objetivas e flashes o momento em que todos se reuniram para observar a intertextualidade nas fotografias ali expostas. Por intertextualidade das imagens produzidas como resultado da oficina coordenada por Entringer, entende-se, um pensar a foto ao apertar o disparador da câmera fotográfica. Segundo o próprio oficineiro, a proposta trazida por ele da Europa e dos Estados Unidos é inédita na região. “As fotografias são propositais e fazem diálogo com outras artes como o cinema, a música, a artes plásticas e a escultura”, define. No texto de apresentação da mostra, Entringer explica:

"O fazer fotográfico hoje é conceito, referências e intertextos. Tende se destacar da mesmice proporcionada pela abundância de imagens na velocidade do mundo contemporâneo e global. Diante disso, só há a possibilidade de ir para frente, experimentar, expectador transformado em participador, o fotográfico como proposições de práticas ou descobertas apenas sugeridas em aberto, na qual a invenção de um click propõe uma outra invenção em quem observa a imagem. Assim surgiu a mostra, produções e intertextos com a literatura musical, história da arte e da fotografia, artes plásticas, cinema, teatro entre outras esferas."

Nenhuma imagem, conforme explica o professor, é feita ao acaso e sem um propósito. Uma das imagens que estão expostas na sala dois Palacete Levy até o dia 24 deste mês chama atenção não só pela cor, mas pela construção da fotografia. Um modelo na pose da escultura “O pensador” de Salvador Dali, sentado em um vaso sanitário que faz referência ao urinol de Marcel Duchamp e comendo uma banada coberta de tinta azul que, além de lembrar as artes plásticas e a arte pop de Andy Warol. Além dos três artistas que o fotógrafo Nelson Shiraga usou como referência para sua imagem, outros ainda constavam em uma única fotografia dentro de um banheiro revestido por azulejos cor-de-rosa.


A arquiteta e artista plástica Paula Pittia usou o cubismo analítico para fazer seu auto-retrato

“A idéia é o subjetivo, destacar as imagens pensadas e fazer com que o observador também pense ao olhar as imagens expostas uma vez que a fotografia hoje em dia é banal”, critica e explica Entringer. As aulas, assim como o próprio nome da oficina revela, trouxe a teoria e a prática deste “novo jeito de fazer fotografia”. Artista plástica e arquiteta limeirense, Paula Pittia, tem três fotos expostas no local. A primeira faz uma desconstrução de seu auto-retrato relembrando o cubismo, e as outras duas trazem fotografias de pássaros que juntos formam imagens de borboleta. Para a artista, que também é professora de História da Arte, a idéia de integrar fotografia e artes plásticas foi interessante. “Trabalho com arte há 15 anos e no ultimamente me interessei mais pela arte contemporânea e comecei a trabalhar com algumas fotografias nos meus últimos trabalhos, por isso a oficina foi bem útil pra mim”, comenta.


Cacá Dominiquine: "a oficina muda muito a forma de ver a fotografia"

Já a fotógrafa de Campinas, Cacá Dominiquini, expõe dois auto-retratos. Se você já ligou o timer da câmera fotográfica, saiu correndo, fez pose, arrumou o cabelo e falou xis, Cacá parece ser especialista. Nas duas imagens que fazem parte da exposição da Oficina Carlos Gomes, Dominique utilizou como elemento intertextual a música da rockeira baiana Pitty, Admirável Chip Novo, para retratar um momento em que passou por uma “desconfiguração de seu sistema” após o nascimento de sua filha, e na segunda as imagens as pin-ups serviram de inspiração e referência para a foto que Cacá fez sentada em uma escada. “Fiz a oficina para buscar mais referências para meu trabalho e também para enriquecê-lo”, diz.

A noite de lançamento também contou com a presença de fotógrafos limeirenses que foram conferir o resultado. Entre eles J. B. Gimenez e J. F. Pacheco. Na opinião dos profissionais, a exposição contribui para a cultura da cidade e traz um novo olhar para as fotografias que hoje está sem um sentido definido e qualquer pessoa com uma máquina digital pode fazer. “As fotos ampliam a percepção das pessoas, fotografar dá um novo olhar para quem fotografa”, fazem coro.

Coordenador da Oficina, Robson Trento, comenta que este é mais um resultado dos cursos que o projeto mantido pelo Governo do Estado realiza em Limeira. “Esse não é só um trabalho de fotografia, mas sim um trabalho nas artes visuais que também forneceu para os alunos um aprofundamento teórico sobre o tema”, diz.
A exposição deve ficar aberta ao público até o dia 24 de novembro. Até lá é possível passar pelo prédio rosado do Largo da Boa Morte e treinar o subjetivo nas imagens expostas pelos alunos de Entringer.

Entringer, em seu texto, conclui:

"Diante disso tudo se pode concluir que o resultado do processo ensino-aprendizagem nessa oficina foi a produção de imagens que evidenciam a fotografia como sendo signos que representam linguagens, e que relacionam o fazer fotográfico a um caso de devir, sempre inacabado, sempre em via de fazer-se, e que extravasa qualquer matéria vivível ou vivida."




ENTRE ATOS

Quem esteva na abertura da exposição


Paula Pittia, Mariana Alcantara, Roberta Fioroni, Daniele Siqueira e Caca Dominiquine


J. B. Gimenez, J. F. Pacheco e Alessandra Ferreira


Robson Trento, Nicolina Petto e Lizete Pittia

3 comentários:

Nelson Shiraga disse...

Obrigado pelo texto, Alex!

Paula Pittia disse...

Olá Alex!!!!
Ficou muito boa a reportagem!!
Parabéns e obrigada pelo prestigio!!
Abraço Paula Pittia

Paula disse...

Olá Alex!!
Parabéns pela reportagem... e obrigada pelo prestigio!
Abraço Paula Pittia