domingo, 1 de novembro de 2009

Cultura no interior - artistas, se mostrem


Há cerca de três meses, até hoje não sei a quantidade de dias ou semanas exatas, fiquei responsável pela editoria de Cultura e Entretenimento no jornal onde trabalho aqui em Limeira. Uma página que até aquele dia era preenchida com algumas fotos de uma das baladas da cidade, notas sobre artistas globais que se banhavam em Ipanema ou Copacabana, ou ainda que tinham sido flagrados aos beijos com desconhecidos ou outros artistas. A editoria falava mais dessas "futilidades" na minha opinião) que valorizava o que acontece aqui no interior.

Apesar de não gostar das notinhas de artistas desse nível - banhos de praia, beijos e separações -, percebi neste tempo que estou a frente da edição da página que é o que alguns leitores mais gostam de ler. Em conversa com uma das funcionárias do jornal, perguntei a ela se estava gostando dos assuntos que estavam sendo publicados nas páginas que estava coordenando e ouvi e vi uma expressão de insatisfação com a falta de notinhas sobre a vida sexual e amorosa de pessoas que se tornam referência e espelho para mulheres e até homens que abrem o jornal ou compram determinada revista só para saber se aquela "celebridade" dormiu bem ou não.

Em uma trilha oposta, percebi uma segunda dificuldade (a primeira era ter que colocar informações sobre esses artistas): o que há para se cobrir na área cultural em Limeira? Uma pergunta básica e necessária quando pensamos em valorizar o noticiáio desta editoria. Posso estar completamente errado nas observações e apontamentos, mas o que precebo é que artistas acabam se escondendo na cidade. Não saberia dizer se é por uma inércia de não valorização de seu trabalho por parte da imprensa local, do próprio público da cidade ou por conta da cultura na qual a cultura da cidade está incluída.

As informações que nos chegam todas as semanas vêm geralmente atreladas à publicidade e promoção de instituições particulares. Dificilmente um artista, quer seja da área de artes plásticas, cênica, musical ou qualquer outra, nos envia um e-mail se divulgando ou comentando sobre uma nova coleção, um novo trabalho que está lançando. É praticamente um trabalho de captação de fontes e caça de assuntos para serem revelados aos demais limeirenses.

Nesses meses que estou na editoria conheci algumas pessoas que desenvolvem trabalhos bem interessantes em Limeira e não são conhecidos pela grande maioria da população. Limeira possui basicamente duas escolas de artes públicas, uma municipal e outra estadual, e escolas da rede pública e particular que incentivam a produção artística de seus alunos. Além da questão de a divulgação dessas atividades serem a essência de meu trabalho no jornal, pensamos no porquê de ter essa divulgação. Muitas pessoas quando questionadas sobre a importância da arte para as suas vidas comentam que a dança, as artes plásticas ou a música trazem uma "paz de espírito", ou funcionam como "terapia" - principalmente para pessoas da terceira idade. Mesmo com uma vida 'corrida' e cheia de compromissos diários, muitas pessoas deveriam reservar um tempo na agenda para desenvolver alguma atividade cultural. Além dos benefícios que todos citam, a arte ajuda a questionar a vida. Divulgar a arte, portanto, mostra questionamentos de terceiros sobre a visão que cada um tem sobre o mundo e sobre a coletividade e modernidade na qual estamos inseridos.

Sem essa visibilidade dos artistas da cidade, a sobrevivência no meio fica cada vez mais difícil. Em peças (poucas) de teatro e apresentações de dança que participei no teatro da cidade pude perceber que o público que comparece é geralmente a família de quem está no palco. Dificilmente vemos pessoas fiéis ao teatro, seja qual apresentação estiver em cartaz. Exemplo disso foi uma peça de uma professora de dança da Unicamp, na qual levei algumas alunas para assisterem o estilo desenvolvido pela docente e dançarina. Além de mim e das minhas sete alunas da noite de sexta-feira, daria para contar em no máximo seis mãos quantas pessoas estavam na plateia assistindo o espetéculo que misturava dança contemporânea, música clássica tocada por um cravo (nunca tinha visto um cravo na vida) e um DJ - uma proposta superinteressante e uma montagem bem legal. Sem querer ser exagerado, muito menos bairrista, senti vergonha pela cidade no momento final em que os artistas se despediram do público. Mesmo se todos os presentes se esforçassem para aplaudir e fazer barulho de aprovação, as palmas fariam eco nas paredes cinzas do Teatro Vitória - isso porque a peça era gratuita.

O mesmo acontece com grupos da cidade. Pai, mãe, tio, tia e amigos - esse é geralmente o público da cidade que prestigia o que os artistas locais têm para apresentar. Não saberia dizer se é por preconceito por produções de casa ou por uma falta de interesse enorme, mas o fato é que é consenso entre boa parte dos artistas da cidade, principalmente aqueles que querem seguir carreira nas áreas que escolheram, que Limeira não fornece futuro artístico. É uma pena...

Por isso artistas... se divulguem. A arte pode beneficiar indiretamente mais pessoas por meio da divulgação e da informação que ela gera. É um desafio...

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