sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Por favor, posso falar com você um minutinho? Só um minutinho vai? (Vai pra *%*&¨*&¨*)

Tudo começa quando o repórter se prepara para sair à rua. Se tiver um santo padroeiro dos jornalistas que precisam de fontes legais, que apresente logo, certeza que colocarão a maior estátua desse santo na entrada/saída do jornal. Mil missas serão rezadas e todos serão devotos à ele, ou ela. Como ainda não encontraram um, Deus é quem sempre é solicitado para ajudar na caça da fonte perfeita.

Um trabalhador, no meio ou final da tarde começa a subir a rua. A presa é avistada. Avalia-se o ânimo da pessoa. Ombros caídos e cara desanimada, sinal de cançaso. Muito provável que a quarta geração de sua família será xingada pelo repórter, na cabeça do repórter, claro. Ele se aproxima. O repórter sorri, diz boa tarde. Os mais experientes já jogam a pergunta logo de cara para tentar prender a pessoa e barrar seus passos. Se o passo da fonte em potencial estava rápido demais, olhar para cima, para o relógio e distante, a pressa está mais que declarada. Logo vem a frase mais amada por quem precisa de uma fonte: "Agora não posso, estou com pressa!"

"É só um segundinho, não dura nem cinco minutos..." com uma voz já de "por piedade, me ajude", diz o repórter. Tudo tem duas possibilidades, a fonte parar ou repetir a mesma frase. A segunda é a mais desejada, mas festejada e mais aplaudida pelo repórter. Finalmente um colaborador, falará sua opinião e ajudará com o que for preciso (com quase tudo). Mas, dependendo do horário e do local, a primeira opção, repetir que está com pressa, predomina.

É fato: saída do emprego e centro da cidade por volta das 16h30 todos estão com pressa, todos estão voltando para casa, ou têm que se preparar para a faculdade ou sabe-se lá o que. Ouvir essa frase remoe os sentidos por dentro. A face ainda expressa um sorriso, mas é só ver as costas dessa pessoa que os olhos se fecham, a testa franze, a boca entorta e por dentro... por dentro melhor não falar nada. Mas cabe aí uma constatação para toda e qualquer fonte, vale a lei do interesse. As fontes só dizem quando estão com bom humor, tempo e acima de tudo isso quando tem algum interesse na matéria. Exemplo típico são políticos e empresários. Quando o céu está limpo todos saem para ver o sol, mas quando algumas nuvens, de fumaça, começam aparecer, olhando para os lados o repórter pode constatar que está no meio de um deserto, ou em um labirinto. Os caminhos sempre estão fechados, as fontes estão sempre em reunião e a matéria precisa sair amanhã. Para isso há uma solução-vingança: "A tia foi procurada para dar sua opinião sobre o assunto, mas não foi encontrada". Problema de quem?

Ao receber um fora como os que entregadores de panfletos, funcionários de financiadoras e de escolas de informática, a saga continua. O jornal te hora pra fechar, as fotos precisam estar na pasta certa e a matéria já pronta no arquivo exigido. Próximo...! Depois de alguns nãos, a persistência é mais forte. A fonte fala o nome, fala a idade, fala a profissão, fala até a cor da cueca se a matéria for sobre isso. Tudo muito bom, tudo muito bem. Até oralmente a pessoa descobre que o repórter estava há vinte minutos procurando alguém que soltasse a língua.

Nessas horas o ideal é estar acompanhado do fotógrafo. A fonte não tem escapatória é falando que é fotografada. Não tem tempo de pensar. Seu nome? Clic. Concorda com a lei?? Clic, clic. Tudo garantido, pronto. Estando sozinho nem tudo está pronto. Por mais que a fonte tenha dado ótimas declarações, entenda do assunto e contribuirá para uma matéria completa e redonda, uma foto pode estragar tudo. A câmera pode até estar escondida debaixo do caderno. A fonte vê a caneta sendo substituída por um instrumento retangular, pequeno, perigoso. "Nãaaaaaao! Foto não, estou fedido..."

Aaaaaaaaaa.... paciência. Próximo...!

Um comentário:

Rodrigo Piscitelli disse...

Meus Deus, isto deve ser algum "Comunidade" que eu pedi. Faz parte, meu caro. A gente aprende com isso, pode acreditar.