Pude perceber hoje, por meio do Jornal da Cultura, a imagem que uma certa elite tem de discursos comunistas ou socialistas. Toda e qualquer afirmação que vá contra o livre mercado e todas as consequências que esse liberalismo excessivo tem para a economia e, principalmente, para a sociedade não é visto como bons olhos.
As notícias do Jornal estavam sendo comentadas por dois professores da USP: um de filosofia, Vladimir Safatle, e uma de Direito Internacional, Maristela Basso. Infelizmente assisti só os dois últimos blocos do jornal, mas pareceu que os debates estavam acalorados durante todo o telejornal.
Foi após uma reportagem sobre os problemas que o Brasil está enfrentando com o apagão devido à crise no setor de energia que minha afirmação do primeiro parágrafo ficou evidente. A reportagem mostrou alguns empresários de São Paulo que enfrentaram prejuízos por conta da falta de energia nos últimos meses, seguida por uma outra matéria sobre uma reunião com representantes das concessionárias de energia e as medidas tomadas pelas empresas para remediar os transtornos.
O comentário
Comentando que há um descompasso entre a visão dos usuários e do governo, o professor Safatle, entrou na discussão sobre o problema dos lucros exorbitantes das concessionárias, que enviam grande parcela do dinheiro para as matrizes e deixam de investir no Brasil. A professora de Direito Internacional até fez um certo coro com ele na crítica de falta de investimentos na rede nacional, mas defendeu o lucro das empresas como um 'direito adquirido'.
O problema do lucro
O debate se aqueceu mesmo quando o professor começou a aprofundar a discussão sobre o lucro comentando uma pesquisa feita (provavelmente pela USP) sobre o preço do automóvel brasileiro e os lucros exorbitantes desse setor enviados para o exterior o que daria um caráter até de "exploração". Foi ai que a professora proferiu a máxima liberal ao dizer que a fala do professor de filosofia era "um discurso comunista do passado".
Vendas e mordaça
A afirmação da professora Maristela - que posteriormente até se colocou conta o novo sistema de cotas para as universidades públicas paulistas por não se basear na meritocracia à lá Estados Unidos -, mostra o quanto o liberalismo parece cegar uma elite e uma pseudo-elite preocupada em sempre manter sua renda a qualquer custo.
Estamos numa sociedade totalmente baseada no consumo, quando cada indivíduo é tudo o que possui, mesmo sem conhecimento útil algum e pouco valor para uma educação de qualidade (como comentei em posts passados). Um consumismo exacerbado abre todas as oportunidades favoráveis para aumentar cada vez mais os lucros dessas empresas que fazem do parque industrial brasileiro um parque de diversão de renda fácil e exploração velada para todos.
Negar que há rendimentos excessivos e classificar um discurso que se preocupa com o grau de exploração da sociedade como "antigo", a meu ver, é negar totalmente o bem-estar e a qualidade de vida da grande massa da população e privilegiar aqueles poucos pertencentes à classe dominante que decide onde, como e quando o dinheiro deve ser aplicado. Decisões, inclusive, que têm até o poder de deixar uma economia na condição totalmente dependente não permitindo um desenvolvimento mais eficaz que depende de uma infraestrutura forte e confiável.
De todas as aulas de economia política e desenvolvimento econômico o que mais ficou de importante sobre esse "discurso comunista antigo" é que ele não serve apenas para defender um modelo de economia comunista ou socialista, ele serve também para mostrar aos capitalistas cegos e fanáticos que há um lado que é preciso ser pensado e este lado é a sociedade, os trabalhadores, a classe média baixa, os pobres, aqueles que passam fome, que não desfrutam de saneamento básico, saúde e educação com qualidade. Infelizmente estes temas são apenas políticos e entram nas agendas de debates apenas eleitorais. Quando não estão por detrás de votos e conquista de eleitores se tornam um empecilho "antigo comunista" soando como um mosquito irritante numa noite tranquila.
Em tempo: vale dizer que uma parte da crítica da professora Maristela foi extremamente justa quando ela falou que o governo não faz todos os investimentos com os tributos que arrecada. Mas o conjunto de suas palavras pareceu muito mais que se ela continuasse a falar defenderia a privatização até da administração pública para garantir a eficiência dos recursos.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Etanol, propaganda e consumismo
Não é sem motivo que estão chovendo propagandas sobre o uso do etanol combustível na televisão aberta brasileira. Um artigo do professor da USP José Goldemberg na página 2 do jornal O Estado de S. Paulo sobre a crise energética no Brasil deixa claro o que levou uma campanha tão forte para o público. Numa era em que ter automóvel parece ser muito mais uma necessidade social que real, a quantidade de carros circulando diariamente justifica a intensidade da campanha disparada pela União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).
No artigo do Estadão, Goldemberg mostra os problemas dessa crise e o dado mais expressivo é a queda da produção, que caiu de 27 bilhões de litros por ano para 22 bilhões em 2012. Uma queda como esta parece preocupar o setor e justificar muito bem a campanha. Todas as vezes que assisto a esses comerciais os vejo quase como uma lavagem cerebral. É fato que ultimamente o preço do etanol parece não compensar tanto frente ao da gasolina - motivo para a alta desse preço também é exposta no artigo e envolve os preços dos fertilizantes usados nas lavouras de cana. Mesmo assim, a campanha está lá e parece mostrar um outro lado do combustível... o lado da geração de empregos e movimentação da economia. O discurso do comercial é claramente de fundo econômico e pouco importa as "qualidades" do combustível renovável.
E o que mais me chamou a atenção é o público alvo desta propaganda que envolve até crianças. O vídeo que selecionei para ilustrar essa matéria é justamente um dos que mais vi circular na mídia nestas últimas semanas. O ator Lucio Mauro Filho convence a motorista a abastecer seu carro com etanol por meio das duas crianças do banco traseiro. As vezes é útil assistir aos comerciais pensando em quais são as mensagens e quais são os públicos às quais elas se destinam. No conjunto, os comerciais da Unica parecem atirar para todos os lados para tentar reverter a crise do setor.
Hábitos de consumo
Enquanto o setor de energia discute a crise, acho que um outro tema deveria ser revisto: os hábitos de consumo dos brasileiros. O que parece acontecer hoje é que as pessoas não têm mais carros porque precisam fazer longas viagens a trabalho ou precisam dele para transportar os filhos e tudo o mais, ou seja, necessidades reais.
Basta olhar um grupo de jovens que acabaram de sair da adolescência e contar quantos deles possuem seus carros próprios para comprovar que ter um carro é como um bilhete de aceitação social, uma forma de garantir a inclusão num grupo chamado "classe média em ascensão" que consegue ter este bem, não importa quanto dinheiro perca, quantos meses tenham que pagar e nem quantas oportunidades de investimento abrem mão apenas para poderem desfilar por ai com o tal 'possante'.
Já presenciei casos de parentes que não tinham sequer perspectiva de fazer um curso superior, mas investiam o dinheiro que não tinham para garantir um carro, mesmo que usado. A necessidade não era real, mas sim apenas para a pessoa poder se inserir neste tal grupinho.
Enquanto isso, nosso trânsito vai ficando cada vez mais atolado e complicado e não se dá a devida atenção a alternativas de transporte coletivo. Melhorar o transporte público, ressuscitar a malha ferroviária para passageiros, pensar na construção de metrôs em cidades com grande crescimento e melhorar aqueles que já existem na capital... pouco parece ser pensado nestes assuntos afinal na nossa sociedade consumista o individual está sempre acima do coletivo e o meio ambiente não passa de discurso da moda que vai e vem das pautas e das rodinhas de bate-papo.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Balé e tecnologia
Há tempos que não parava tudo para assistir a um vídeo de dança. Esta semana resolvi baixar alguns vídeos inspirado no programa do Cinemark com balés do Royal durante os próximos meses e me surpreendi com o primeiro que assisti.
"Alice no País das Maravilhas", uma produção do The Royal Ballet, coreografado por Christopher Wheeldon é uma produção excelente. Parei de acompanhar há um tempo, mas pelo jeito o balé clássico não é mais como antigamente. Esta produção de 2011 mistura muita tecnologia, efeitos de cena muito interessantes e vários toques de humor. A melhor parte é que incluíram um show de sapateado no meio, justamente o Chapeleiro Maluco (adoro sapateado).
Quando comecei a assistir fiquei intrigado para saber como fariam as transformações de tamanho da Alice e o que vi achei muito bem bolado. Com efeitos de projeção de imagens e uma caixa em foma de uma sala cheia de portas pequenas a produção do Royal conseguiu fazer a primeira bailarina Lauren Cuthbertson encolher e crescer no palco de uma forma muito criativa.
Os toques de humor são excelentes também. O balé consegue ser leve e bem coreografado e não compete com a tecnologia usada na apresentação, cada um no seu ritmo certo. Para quem gosta, é um vídeo que vale a pena assistir para sair um pouco daquelas produções de sempre.
"Alice no País das Maravilhas", uma produção do The Royal Ballet, coreografado por Christopher Wheeldon é uma produção excelente. Parei de acompanhar há um tempo, mas pelo jeito o balé clássico não é mais como antigamente. Esta produção de 2011 mistura muita tecnologia, efeitos de cena muito interessantes e vários toques de humor. A melhor parte é que incluíram um show de sapateado no meio, justamente o Chapeleiro Maluco (adoro sapateado).
Quando comecei a assistir fiquei intrigado para saber como fariam as transformações de tamanho da Alice e o que vi achei muito bem bolado. Com efeitos de projeção de imagens e uma caixa em foma de uma sala cheia de portas pequenas a produção do Royal conseguiu fazer a primeira bailarina Lauren Cuthbertson encolher e crescer no palco de uma forma muito criativa.
Os toques de humor são excelentes também. O balé consegue ser leve e bem coreografado e não compete com a tecnologia usada na apresentação, cada um no seu ritmo certo. Para quem gosta, é um vídeo que vale a pena assistir para sair um pouco daquelas produções de sempre.
"A imaginação econômica" (A Grand Pursuit)
Aproveitando o embalo nos posts, resolvi escrever sobre um livro que estou lendo: "A imaginação econômica: gênios que criaram a economia moderna e mudaram a história" de Sylvia Nasar. Não tenho a capacidade crítica de um especialista para criticar, mas achei que o subtítulo força um pouco a barra. No entando, o livro é bem interessante como uma obra para se olhar a economia política através dos bastidores.
Nasar não se foca apenas nas teorias de Marx, Keynes, Schumpeter e outros nomes fortes da economia, mas também vai traçando uma sequência cronológica de fatos das vidas destes e de outros autores aliando vidas pessoais, acadêmica e política de cada economista, acontecimentos na política e economia mundiais e as teorias propostas por estes grandes nomes da economia no contexto exato em que cada "imaginação econômica" ganha seus adeptos.
Ainda não sei ao certo, mas dizer de gênios que mudaram a história pareceu-me um pouco forçado demais, uma vez que alguns dos nomes que Nasar cita sequer passou pela boca de algum professor de Economia nestes dois anos de curso. Entretanto, como acabei de dizer, SÓ foram dois anos e História do Pensamento Econômico é uma matéria que tarta para chegar, portanto, minha crítica é totalmente infundada. Além disso, retomei a leitura apenas agora. Como comentei no post anterior, este semestre foi cheio o suficiente para ocupar uma grande parte do meu tempo.
Enfim, vale a dica para quem quer ler algo sobre economia que não sejam modelos, teorias e estatísticas. O livro de Nasar consegue traçar um tripé muito legal entre vida, contexto e teoria de cada autor e esses fatos ajudam muito a visualizar quais foram as influências que cada autor teve ao ter a tal ideia brilhante para suas teorias que "mudaram a história".
Para mais informações sobre o livro e sobre a autora, consultar o site da Cia das Letras.
Mais um semestre... mais um balanço.
Mais um semestre se vai e com ele volta aquela sensação de que eu não escrevi tanto quanto gostaria aqui no blog! E olha que assunto não faltou... Porém, de certa forma, acabei deixando de lado o blog de propósito para perseguir o objetivo de conseguir estudar com qualidade para todas as matérias. A meta de ficar com média 8 em todas as matérias chegou perto até agora, mas ainda faltam notas. O resultado positivo é que esse semestre foi realmente interessante...
Uma das matérias mais interessantes na qual me matriculei neste semestre foi Formação Econômica do Brasil I (CE491), com o professor Fábio Campos. Se minha memória não foi prejudicada com as noites em claro, devo ter publicado um texto aqui no blog sobre alguns dos temas dessa disciplina. O mais interessante, e até certo ponto, revoltante, é a do patrimonialismo brasileiro, essa herança de nossos colonizadores que parece não se desligar das classes que se mantém no poder até hoje. Junto a isso, toda essa estrutura de Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, que tanto é citado por Mino Carta em seus artigos no Carta Capital. Não é sem motivo que Carta vive se referindo à casa grande ou aos coitados da senzala, afinal, muito daquela ideologia arcaica ainda não foi superada por aqui.
Outras disciplinas interessantes foram, em conjunto, Macroeconomia 2 (CE472) e Métodos de Análise Econômica 3 (CE342). A primeira, com o professor Rogério Andrade, teve o objetivo de apresentar o tão conhecido modelo IS-LM e AS-AD na visão da Nova Síntese Neoclássica. Apesar de o curso não se descolar muito do manual Macroeconomia de Olivier Blanchar, tomar contato pela primeira vez com a construção desses modelos é muito interessante por permitir visualizar as importâncias de políticas fiscais (alterações nos gastos do governo ou nos tributos) e de políticas monetárias (quantidade de moeda que o Banco Central coloca em circulação na nossa economia) e como as duas se conversam e promovem o equilíbrio entre mercados é muito bonito. Porém, a realidade deste modelo ficou para outro momento (uma falha do curso, infelizmente). É perceptível que o modelo e a realidade não andam de mãos juntas por cima do arco-íris, mas vale usar os conceitos para pensar um pouco o que é feito pelo governo e o que é divulgado pela imprensa.
Pegando o gancho da imprensa (que vai render o próximo post/artigo) a segunda matéria que citei (Métodos 3) fez um esforço de construção dos "arcabouços teóricos", ou seja, as 'escolas' de pensamento dentro da economia que propiciaram a construção do modelo de metas de inflação brasileiro. A disciplina, ministrada pela professora Ana Rosa Sarti, mostrou a evolução dessas escolas da macroeconomia desde Keynes e os keynesianos, Friedman e o monetarismo, até os novos clássicos, síntese neoclássica e etc. O interessante de toda essa construção da disciplina foi verificar a importância que se dá à inflação no país e o quanto o Banco Central brasileiro persegue ou se distancia da teoria em favor da prática.
Além destas disciplinas, uma outra disciplina infelizmente deixou a desejar esse semestre: Microeconomia 2 (CE362). Na verdade, as duas matérias de microeconomia que foram ministradas este ano para nossa turma revela uma fraqueza da Unicamp: falta de professores. Sem tirar os méritos do aluno de doutorado que ficou responsável pelas duas disciplinas durante estes semestres, a questão que fica evidente é que a universidade precisa voltar a pensar na quantidade de professores que estão na ativa. A área de microeconomia do Instituto de Economia da Unicamp carece de professores, por conta disso, a atribuição de aulas se parece mais com um grande quebra-cabeças com muitas peças faltando e sempre se opta por peças coringas que são alunos de doutorado do instituto. Esta é uma ótima oportunidade de aprendizado para o aluno de doutorado, mas parece não haver a percepção de que, enquanto o doutorando aprende, o graduando desaprente, por assim dizer. Não houve este semestre um acompanhamento pelo professor responsável pela área do conteúdo que era passado aos alunos de microeconomia 1 e 2 (no período noturno). Durante os dois semestres o "professor" simplesmente copiava o conteúdo de alguns slides impressos que ele tinha em mãos, explicava pouco a teoria e um pouco mais a resolução dos exercícios - afinal, suas provas se resumiam à exercícios com números cabulosos e até com elaborações erradas de questões! Enfim... um pouco vergonhoso para uma universidade do tamanho e do gabarito da Unicamp (e parece que o problema não é só da economia).
Mais uma vez aproveitando o gancho, outra matéria que é o oposto daquilo que acabei de comentar foi Estatística para Experimentalistas (ME414), oferecida pelo Instituto de Matemática e Estatística. Até agora eu sinceramente não entendi se eu tive aula com um professor concursado e um aluno de doutorado ou se foram dois alunos de doutorado... o fato é que a preocupação destes dois professores (desta vez sem aspas) foi incrível. Esta é a segunda (ou terceira vez) que tentei aprender estatística, mas agora consegui entender todo o conteúdo com muita clareza - e o melhor: vi muita utilidade no que foi passado. Apesar da falta de interesse de grande parte dos alunos que estavam na sala apenas para registrar presença, os dois professores formaram uma excelente dupla e sempre se mostravam preocupados se todos estavam entendendo claramente a matéria. Foi um curso ótimo de exatas (por mais que eu odeie exatas!!).
E por fim, mas não menos importante, a matéria de Economia Política 2 (CE405) foi um intensivo dO Capital de Marx. Passamos pelos capítulos essenciais dos três livros da obra com o professor Sérgio Prado. Prado bem queria se aposentar e dar esta disciplina como a última de sua carreira, mas a falta de professores (de novo ela) o fez ficar por mais um semestre no instituto e ministrar História do Pensamento Econômico para outra turma, que não a minha. Apesar de seu jeito rabujento de ser, as aulas foram ótimas. O mais incrível foi sua preocupação com a qualidade de nossas leituras e de nosso aprendizado. O professor usava slides para condensar o conteúdo dos capítulos propostos e indicava as partes mais importantes para ler e se atentar. Provas condizentes com o conteúdo, correção justa e até um pouco de bom humor em algumas aulas garantiram uma visualização da principal obra de Marx muito satisfatória e, sinceramente, um pouco de tristeza por ser apenas neste curso que Marx foi visto com tanto aprofundamento. (Sei que existe uma disciplina eletiva do professor Plínio sobre Marx, mas esta não está no catálogo para o primeiro semestre de 2013, infelizmente).
Enfim... acho que deu para perceber que foi um semestre intenso. Fazer quatro créditos a mais que o normal não foi fácil, mas foi muito enriquecedor. Fica aquele desejo/sonho de não precisar trabalhar e me dedicar exclusivamente aos meus estudos, mas as férias estão ai, a pilha de livros me aguarda e nos próximos semestres talvez eu consiga realizar esse tão esperado sonho com a bolsa Fapesp e meu curso de mestrado =D
Vou tentar publicar no 4shared os arquivos de resumos e listas de exercícios das disciplinas aqui relatadas... quando eu fizer, coloco o link em um post.
Uma das matérias mais interessantes na qual me matriculei neste semestre foi Formação Econômica do Brasil I (CE491), com o professor Fábio Campos. Se minha memória não foi prejudicada com as noites em claro, devo ter publicado um texto aqui no blog sobre alguns dos temas dessa disciplina. O mais interessante, e até certo ponto, revoltante, é a do patrimonialismo brasileiro, essa herança de nossos colonizadores que parece não se desligar das classes que se mantém no poder até hoje. Junto a isso, toda essa estrutura de Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, que tanto é citado por Mino Carta em seus artigos no Carta Capital. Não é sem motivo que Carta vive se referindo à casa grande ou aos coitados da senzala, afinal, muito daquela ideologia arcaica ainda não foi superada por aqui.
Outras disciplinas interessantes foram, em conjunto, Macroeconomia 2 (CE472) e Métodos de Análise Econômica 3 (CE342). A primeira, com o professor Rogério Andrade, teve o objetivo de apresentar o tão conhecido modelo IS-LM e AS-AD na visão da Nova Síntese Neoclássica. Apesar de o curso não se descolar muito do manual Macroeconomia de Olivier Blanchar, tomar contato pela primeira vez com a construção desses modelos é muito interessante por permitir visualizar as importâncias de políticas fiscais (alterações nos gastos do governo ou nos tributos) e de políticas monetárias (quantidade de moeda que o Banco Central coloca em circulação na nossa economia) e como as duas se conversam e promovem o equilíbrio entre mercados é muito bonito. Porém, a realidade deste modelo ficou para outro momento (uma falha do curso, infelizmente). É perceptível que o modelo e a realidade não andam de mãos juntas por cima do arco-íris, mas vale usar os conceitos para pensar um pouco o que é feito pelo governo e o que é divulgado pela imprensa.
Pegando o gancho da imprensa (que vai render o próximo post/artigo) a segunda matéria que citei (Métodos 3) fez um esforço de construção dos "arcabouços teóricos", ou seja, as 'escolas' de pensamento dentro da economia que propiciaram a construção do modelo de metas de inflação brasileiro. A disciplina, ministrada pela professora Ana Rosa Sarti, mostrou a evolução dessas escolas da macroeconomia desde Keynes e os keynesianos, Friedman e o monetarismo, até os novos clássicos, síntese neoclássica e etc. O interessante de toda essa construção da disciplina foi verificar a importância que se dá à inflação no país e o quanto o Banco Central brasileiro persegue ou se distancia da teoria em favor da prática.
Além destas disciplinas, uma outra disciplina infelizmente deixou a desejar esse semestre: Microeconomia 2 (CE362). Na verdade, as duas matérias de microeconomia que foram ministradas este ano para nossa turma revela uma fraqueza da Unicamp: falta de professores. Sem tirar os méritos do aluno de doutorado que ficou responsável pelas duas disciplinas durante estes semestres, a questão que fica evidente é que a universidade precisa voltar a pensar na quantidade de professores que estão na ativa. A área de microeconomia do Instituto de Economia da Unicamp carece de professores, por conta disso, a atribuição de aulas se parece mais com um grande quebra-cabeças com muitas peças faltando e sempre se opta por peças coringas que são alunos de doutorado do instituto. Esta é uma ótima oportunidade de aprendizado para o aluno de doutorado, mas parece não haver a percepção de que, enquanto o doutorando aprende, o graduando desaprente, por assim dizer. Não houve este semestre um acompanhamento pelo professor responsável pela área do conteúdo que era passado aos alunos de microeconomia 1 e 2 (no período noturno). Durante os dois semestres o "professor" simplesmente copiava o conteúdo de alguns slides impressos que ele tinha em mãos, explicava pouco a teoria e um pouco mais a resolução dos exercícios - afinal, suas provas se resumiam à exercícios com números cabulosos e até com elaborações erradas de questões! Enfim... um pouco vergonhoso para uma universidade do tamanho e do gabarito da Unicamp (e parece que o problema não é só da economia).
Mais uma vez aproveitando o gancho, outra matéria que é o oposto daquilo que acabei de comentar foi Estatística para Experimentalistas (ME414), oferecida pelo Instituto de Matemática e Estatística. Até agora eu sinceramente não entendi se eu tive aula com um professor concursado e um aluno de doutorado ou se foram dois alunos de doutorado... o fato é que a preocupação destes dois professores (desta vez sem aspas) foi incrível. Esta é a segunda (ou terceira vez) que tentei aprender estatística, mas agora consegui entender todo o conteúdo com muita clareza - e o melhor: vi muita utilidade no que foi passado. Apesar da falta de interesse de grande parte dos alunos que estavam na sala apenas para registrar presença, os dois professores formaram uma excelente dupla e sempre se mostravam preocupados se todos estavam entendendo claramente a matéria. Foi um curso ótimo de exatas (por mais que eu odeie exatas!!).
E por fim, mas não menos importante, a matéria de Economia Política 2 (CE405) foi um intensivo dO Capital de Marx. Passamos pelos capítulos essenciais dos três livros da obra com o professor Sérgio Prado. Prado bem queria se aposentar e dar esta disciplina como a última de sua carreira, mas a falta de professores (de novo ela) o fez ficar por mais um semestre no instituto e ministrar História do Pensamento Econômico para outra turma, que não a minha. Apesar de seu jeito rabujento de ser, as aulas foram ótimas. O mais incrível foi sua preocupação com a qualidade de nossas leituras e de nosso aprendizado. O professor usava slides para condensar o conteúdo dos capítulos propostos e indicava as partes mais importantes para ler e se atentar. Provas condizentes com o conteúdo, correção justa e até um pouco de bom humor em algumas aulas garantiram uma visualização da principal obra de Marx muito satisfatória e, sinceramente, um pouco de tristeza por ser apenas neste curso que Marx foi visto com tanto aprofundamento. (Sei que existe uma disciplina eletiva do professor Plínio sobre Marx, mas esta não está no catálogo para o primeiro semestre de 2013, infelizmente).
Enfim... acho que deu para perceber que foi um semestre intenso. Fazer quatro créditos a mais que o normal não foi fácil, mas foi muito enriquecedor. Fica aquele desejo/sonho de não precisar trabalhar e me dedicar exclusivamente aos meus estudos, mas as férias estão ai, a pilha de livros me aguarda e nos próximos semestres talvez eu consiga realizar esse tão esperado sonho com a bolsa Fapesp e meu curso de mestrado =D
Vou tentar publicar no 4shared os arquivos de resumos e listas de exercícios das disciplinas aqui relatadas... quando eu fizer, coloco o link em um post.
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