quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

"Limite é ignorado com trote violento"

Psicólogo avalia que trauma pode ser grande com muito estresse
12 fev. 2009


Toda brincadeira tem seus limites. O trote que o jovem de Iracemápolis recebeu nesta semana passou as barreiras de uma boa recepção e foi parar no 1º Distrito Policial de Leme. Humilhação e estresse intenso - como vivenciados pelo estudante - podem gerar sérios traumas psicológicos, segundo análise de psicólogo ouvido ontem pelo Jornal de Limeira.

Na tarde de ontem, o revendedor de medicamentos veterinários Bruno César Ferreira, de 21 anos, que foi vítima do trote violento em Leme, na segunda-feira, foi ouvido na delegacia do município. O delegado Fernando Teixeira Bravo ouviu o rapaz e dois acusados de participação no ato. Após abrir inquérito para apurar o caso, um participante já teria sido indiciado até a tarde de ontem.

O psicólogo Herivelto Zuccaratto, 47, explica que todo ser humano tem dentro de si instintos agressivos por motivos de autodefesa e proteção. "O que disciplina esses instintos são a razão e a educação que a pessoa recebe durante seu desenvolvimento", diz o profissional. De acordo com ele, algumas pessoas ignoram esses limites e, quando estão em grupo, acabam dividindo a responsabilidade dos atos com os companheiros. "Eles colocam para fora essa agressividade que existe por conta de problemas durante a sua formação. Em grupo, um desperta o instinto no outro", comenta.

Aqueles que estão na posição superior podem se tornar violentos. Já quem está sendo humilhado pode ficar com problemas psicológicos. Zuccaratto diz que algumas pessoas conseguem administrar suas dificuldades pessoais. Algumas podem ter tendências para desenvolver a Síndrome do Pânico, por exemplo, e situações de extremo estresse, como o que passou o jovem de Iracemápolis, desencadeiam traumas psicológicos. "Uma pessoa pode enlouquecer se tiver tendência para isso", exemplifica.

O psicólogo diz que os trotes nas faculdades têm relações com ritos de passagens, assim como as de tribos indígenas, onde garotos passam de adolescentes para adultos. "Passar por isso é um ato de bravura, coragem e aceitação", comenta. É quase como uma regra. É preciso passar pelo trote para ser aceito no local.

Além de apontar como consequências os traumas que as pessoas ficam após passar por situações como essa, muitos acabam reproduzindo o que passaram. O psicólogo diz que, assim como as crianças que retribuem uma agressão que sofreram, os bixos acabam por fazer o trote também com os próximos estudantes. "Alguns podem até fazer coisas piores", diz Zuccaratto, que ainda conclui: "toda brincadeira deve ser mantida no campo da brincadeira. Essa já passou disso faz tempo".

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