quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Minha qualificação da dissertação...

Depois de um ano e meio de trabalho, finalmente apresentei minha qualificação no mês passado. Uma amiga me perguntou quais foram as minhas impressões deste exame e resolvi escrever este texto para compartilhar com mais pessoas que passarão por essa experiência/etapa da dissertação.

Desconheço como é o exame de qualificação em outras universidades e institutos da Unicamp. Apresentei o meu no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor/Unicamp), onde faço o curso de Mestrado em Divulgação Científica e Cultural. O objetivo principal da qualificação é apresentar o desenvolvimento da dissertação após um ano de trabalho.

Em geral sei que é preciso apresentar ao menos um capítulo teórico iniciado e um capítulo mais empírico, que apresenta como a pesquisa está tomando forma. Minha dissertação é uma análise da cobertura das revistas Veja, Carta Capital, Isto é e Época do processo de privatização durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso, entre 1995-2002.

Por conta do projeto, apresentei três capítulos parciais: um sobre comunicação e economia, outro sobre jornalismo econômico e um terceiro que é uma análise parcial de quatro edições das revistas Veja e Carta Capital.  Não tem como apresentar três ou quatro páginas e dizer que está em andamento, óbvio, mas também não é preciso que os capítulos estejam concluídos já.

Esses capítulos, ou melhor, este texto geral é analisado por dois professores convidados. Eu escolhi uma ex-professora de Jornalismo (que tive no Isca Faculdades e hoje dá aulas na Unimep e na PUC Campinas) e um professor de História Econômica da Unicamp. Entreguei uma cópia do trabalho impressa para cada um 20 dias antes da banca para que eles tivessem tempo de ler e analisar o conteúdo.

No dia da apresentação, na minha visão, cometi um erro: quis apresentar o todo do trabalho para os dois professores convidados e para minha orientadora. O problema é: eles já leram, então pra quê apresentar tudo de novo? Este foi um problema a partir do momento que excedi o tempo de 30 minutos de apresentação. Então fica uma dica: apresente o básico dos capítulos teóricos e foque nas análises, quando a pesquisa for quantitativa ou qualitativa.

Depois de apresentar veio a arguição dos membros da banca. Algo que minha orientadora (Graça Caldas) falou desde o começo é: os professores da banca vão fazer suas críticas ao trabalho, mas cabe a nós dois aceitar ou não as sugestões deles. E é justamente isso que ocorre. Além de elogios, os professores fazem sugestões muito importantes para a continuidade do trabalho.

Um exemplo da participação da banca é a inclusão da teoria organizacional no meu trabalho. A professora de jornalismo apontou que minha defesa da manipulação da mídia ficaria vaga se eu não analisasse a organização das empresas que estão por detrás das revistas. Ou seja, dizer que a imprensa manipula a informação com base em uma ideologia X ou Y é vago uma vez que qualquer construção de texto é um processo de manipulação de fontes, palavras e informações. Sendo assim, não basta analisar o contexto social, econômico e histórico para enquadrar uma revista como heterodoxa ou ortodoxa. A dica da professora foi justamente voltar um pouco a atenção para essa teoria do jornalismo que comentei e outras que podem me dar mais embasamento para afirmar que a ideologia que está por detrás  das organizações interferem na forma como as notícias são construídas, vendidas e interpretadas pelos leitores.

O professor de Economia da Unicamp, por sua vez, focou na minha construção do contexto econômico. A principal crítica dele é que meu trabalho estava superficial e precisava de uma síntese melhor. Por ser um trabalho interdisciplinar que engloba comunicação, análise do discurso, jornalismo e economia, percebo que é impossível aprofundar tanto quanto eu gostaria em todos estes pontos. Por se tratar de um fenômeno econômico e do jornalismo especializado nessa área não tem como deixar essa discussão sem uma mínima atenção.

A arguição do professor foi pelo caminho da análise da estrutura social que está por detrás dos eventos que ocorreram nos anos 1980 e 1990. Para ele, não basta apenas citar o que aconteceu neste período é preciso se debruçar sobre a parte sociológica e as relações de poder também. Este professor dá aulas que seguem exatamente o que ele arguiu na minha qualificação – justamente por isso que o convidei para o exame. Contudo, há uma delimitação de tempo e “espaço” para tratar do tema. Mas as colocações que ele fez era exatamente o que eu queria ouvir e quero tentar incorporar no trabalho.

Enfim, após a arguição de cada um dos professores, tive um tempo para responder ou me posicionar frente às sugestões e críticas. Foi mais uma formalidade que um momento de discutir o que será incorporado ou não, afinal isso só será definido em reunião com minha orientadora e não com os membros da banca. Portanto, minha impressão é que o exame de qualificação é 30% protocolo e 70% uma nova visão sobre o trabalho. Destaque para este último ponto. A ansiedade de saber a opinião de dois novos professores sobre seu trabalho é muito interessante. Ouvir elogios e mesmo as críticas também.

Espero que tenha sido claro. ;)


Boa sorte para quem vai passar pela qualificação. Logo escrevo sobre a defesa da dissertação, mas ainda tenho mais um ano para trabalhar, então let’s go!

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