Depois de um ano e meio de trabalho, finalmente apresentei
minha qualificação no mês passado. Uma amiga me perguntou quais foram as minhas
impressões deste exame e resolvi escrever este texto para compartilhar com mais
pessoas que passarão por essa experiência/etapa da dissertação.
Desconheço como é o exame de qualificação em outras
universidades e institutos da Unicamp. Apresentei o meu no Laboratório de
Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor/Unicamp), onde faço o curso de Mestrado
em Divulgação Científica e Cultural. O objetivo principal da qualificação é
apresentar o desenvolvimento da dissertação após um ano de trabalho.
Em geral sei que é preciso apresentar ao menos um capítulo
teórico iniciado e um capítulo mais empírico, que apresenta como a pesquisa
está tomando forma. Minha dissertação é uma análise da cobertura das revistas
Veja, Carta Capital, Isto é e Época do processo de privatização durante os dois
governos de Fernando Henrique Cardoso, entre 1995-2002.
Por conta do projeto, apresentei três capítulos parciais: um
sobre comunicação e economia, outro sobre jornalismo econômico e um terceiro
que é uma análise parcial de quatro edições das revistas Veja e Carta
Capital. Não tem como apresentar três ou
quatro páginas e dizer que está em andamento, óbvio, mas também não é preciso
que os capítulos estejam concluídos já.
Esses capítulos, ou melhor, este texto geral é analisado por
dois professores convidados. Eu escolhi uma ex-professora de Jornalismo (que
tive no Isca Faculdades e hoje dá aulas na Unimep e na PUC Campinas) e um
professor de História Econômica da Unicamp. Entreguei uma cópia do trabalho
impressa para cada um 20 dias antes da banca para que eles tivessem tempo de
ler e analisar o conteúdo.
No dia da apresentação, na minha visão, cometi um erro: quis
apresentar o todo do trabalho para os dois professores convidados e para minha orientadora.
O problema é: eles já leram, então pra quê apresentar tudo de novo? Este foi um
problema a partir do momento que excedi o tempo de 30 minutos de apresentação.
Então fica uma dica: apresente o básico dos capítulos teóricos e foque nas
análises, quando a pesquisa for quantitativa ou qualitativa.
Depois de apresentar veio a arguição dos membros da banca.
Algo que minha orientadora (Graça Caldas) falou desde o começo é: os
professores da banca vão fazer suas críticas ao trabalho, mas cabe a nós dois
aceitar ou não as sugestões deles. E é justamente isso que ocorre. Além de
elogios, os professores fazem sugestões muito importantes para a continuidade
do trabalho.
Um exemplo da participação da banca é a inclusão da teoria
organizacional no meu trabalho. A professora de jornalismo apontou que minha
defesa da manipulação da mídia ficaria vaga se eu não analisasse a organização
das empresas que estão por detrás das revistas. Ou seja, dizer que a imprensa
manipula a informação com base em uma ideologia X ou Y é vago uma vez que
qualquer construção de texto é um processo de manipulação de fontes, palavras e
informações. Sendo assim, não basta analisar o contexto social, econômico e
histórico para enquadrar uma revista como heterodoxa ou ortodoxa. A dica da
professora foi justamente voltar um pouco a atenção para essa teoria do
jornalismo que comentei e outras que podem me dar mais embasamento para afirmar
que a ideologia que está por detrás das
organizações interferem na forma como as notícias são construídas, vendidas e
interpretadas pelos leitores.
O professor de Economia da Unicamp, por sua vez, focou na minha
construção do contexto econômico. A principal crítica dele é que meu trabalho
estava superficial e precisava de uma síntese melhor. Por ser um trabalho
interdisciplinar que engloba comunicação, análise do discurso, jornalismo e
economia, percebo que é impossível aprofundar tanto quanto eu gostaria em todos
estes pontos. Por se tratar de um fenômeno econômico e do jornalismo
especializado nessa área não tem como deixar essa discussão sem uma mínima
atenção.
A arguição do professor foi pelo caminho da análise da
estrutura social que está por detrás dos eventos que ocorreram nos anos 1980 e
1990. Para ele, não basta apenas citar o que aconteceu neste período é preciso
se debruçar sobre a parte sociológica e as relações de poder também. Este
professor dá aulas que seguem exatamente o que ele arguiu na minha qualificação
– justamente por isso que o convidei para o exame. Contudo, há uma delimitação
de tempo e “espaço” para tratar do tema. Mas as colocações que ele fez era
exatamente o que eu queria ouvir e quero tentar incorporar no trabalho.
Enfim, após a arguição de cada um dos professores, tive um
tempo para responder ou me posicionar frente às sugestões e críticas. Foi mais
uma formalidade que um momento de discutir o que será incorporado ou não,
afinal isso só será definido em reunião com minha orientadora e não com os
membros da banca. Portanto, minha impressão é que o exame de qualificação é 30%
protocolo e 70% uma nova visão sobre o trabalho. Destaque para este último
ponto. A ansiedade de saber a opinião de dois novos professores sobre seu
trabalho é muito interessante. Ouvir elogios e mesmo as críticas também.
Espero que tenha sido claro. ;)
Boa sorte para quem vai passar pela qualificação. Logo
escrevo sobre a defesa da dissertação, mas ainda tenho mais um ano para
trabalhar, então let’s go!
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