domingo, 9 de setembro de 2012
"Ensaio sobre a lucidez" e o oportunismo político limeirense
E se em outubro 83% dos votos dos brasileiros de todo o país forem votos brancos? Engraçado parar para pensar nesta possibilidade, mas será que isso algum dia aconteceria de verdade no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo dito democrático?
Este é o tema do livro "Ensaio sobre a lucidez" do escritor português José Saramago, uma boa leitura para este ano eleitoral. Apesar de o livro ser tão incrível como qualquer outra obra do autor, a mensagem que ele passa, sinceramente, não parece ter tanto efeito na realidade.
O livro é praticamente uma continuidade do "Ensaio sobre a cegueira" e usa, em uma boa parte da história, o mesmo grupo de seis cegos, uma mulher com visão perfeita e o famoso cachorro das lágrimas. O papel deles no livro é servirem de bode expiatório para o governo, marionetes muito bem usadas pelo poder político para tentar justificar o motivo da descrença geral na "festa da democracia", como muitos brasileiros e partidos daqui definem as eleições - não vou dizer o final, claro, e quem quiser saber se a tática do governo deu certo ou não tem que ler o livro.
Este é o quarto livro que leio do Saramago. Com exceção de "A viagem do elefante", este, o "Ensaio sobre a cegueira" e "As intermitências da morte", têm um certo padrão de como as coisas se desenrolam. Posso estar forçando a barra ao falar do padrão, mas acho que é esta a palavra, afinal, nos três livros um acontecimento anormal assola um país (voto em branco ou lucidez, cegueira branca e a imortalidade, respectivamente), a população é isolada e o oportunismo da população é aflorado com conflitos e situações que beiram a falta de humanidade, como no célebre ensaio da cegueira.
A questão que captei desta obra do Saramago é o poder de manipulação do governo, ou de maneira mais ampla, da política. Até onde um político pode ir para defender seu cargo em nome da segurança e da paz nacionais? Indo além, um outro questionamento que pode ser levantado com o livro é: o povo seria mesmo capaz de votar em branco da forma como Saramago colocou?
Olhando as campanhas políticas deste ano em conjunto com as pesquisas dos principais candidatos à prefeitura de Limeira, por exemplo, a resposta é clara: NÃO, o povo seria incapaz de votar em branco. O motivo é simples, a meu ver: o povo mal consegue avaliar as propostas e a vida dos candidatos, quiçá será capaz de avaliar a possibilidade de se manifestar contrário ás opções que lhe é dado nas urnas. (Vide a eleição de Tiririca! em 2010)
Todos os anos, pelo menos em Limeira, as opções de voto pouco mudam. Um dos candidatos está concorrendo pela zilhonésima vez e deve acreditar que, assim como o ex-presidente Lula, mais cedo ou mais tarde ele vai conseguir entrar para o comando do poder Executivo. Os boatos sobre o candidato são sempre muito negativos, além disso, quem olha para a cara dele e o ouve falar por mais de meio minuto já enxerga um candidato totalmente incapaz e despreocupado com a real situação limeirense.
Tenho que concordar com um professor de Formação Econômica do Brasil que, usando o texto de Raimundo Faoro ("Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro", de 1976), afirmou que política no Brasil só serve para atender a interesses próprios dos políticos. O texto citado mostra como as características dos portugueses lá do século XVI e a forma como eles administraram sua colônia brasileira influenciaram no que o brasileiro é hoje e na forma como fazemos política por aqui. Estou fazendo o resumo mais simplista e superficial possível, afinal li apenas um capítulo do livro, mas fica claro como as relações políticas são permeadas por favores e camaradagem, não há um comprometimento ético com a população, apenas uma preocupação superficial com o que o bolso do político e de seu partido precisa e deseja.
Em Limeira parece não ser muito diferente dessa origem portuguesa de mais de 500 anos. Apesar de parecer ser intrínseco à política municipal e até nacional, os "favores" dessa estrutura patronal, se refletem muito claramente na forma como vereadores, deputados e senadores se estruturam entre esquerda, direita e centro; oposição, situação e neutros (não sei qual seria a definição); partido da esquerda (PDE), partido da direita (PDD) e partido do centro (PDC), para usar as definições de Saramago. Pra mim ficou claro isso ao lembrar como a finada vereadora limeirense Elza Tank defendia o prefeiro Silvio Félix com dentes e unhas das investigações e ataques dos vereadores petistas (oposição) quando estes queriam exercer seus papéis e investigar as contas públicas.
A meu ver, a política limeirense passa por um momento que desmistifica aquele velho ditado que diz que brasileiro não tem memória. A cassação do prefeito Silvio Félix está ai nas campanhas e na cabeça dos limeirenses, porém, parece que está provocando um efeito totalmente adverso e levando esses eleitores a talvez escolher uma emenda pior que o soneto. A meu ver, os eleitores parecem que estão, mais uma vez, caindo nas promessas falsas, comendo o pão e assistindo ao circo eleitoral de uma forma totalmente cega, sem nenhuma lucidez. INFELIZMENTE é a política e a manipulação de mentes de experts em campanha política e comunicação de massa dando as cartas mais uma vez neste jogo sujo chamado eleição municipal!
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Um comentário:
Li os dois livros do saramago: Ensaio sobre a cegueira e Ensaio sobre a lucidez. Para mim, foram essenciais para a minha construção de visão de mundo. Infelizmente, eu nunca votei branco. Talvez porque eu ainda seja ingênua o suficiente para acreditar que ainda há pessoas honestas e que realmente anseiam por um país, um estado, uma cidade, uma vida melhor!!!
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