quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Enade: uma questão de mercado?


A Unicamp aderiu ao Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e este ano o Instituto de Economia e os cursos de Gestão da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), também da Unicamp, em Limeira, passarão pela avaliação. Alunos concluintes, com um Coeficiente de Progressão (CP) acima de 0,8, ou seja, alunos que devem se formar este ano ou no primeiro semestre de 2013, deverão fazer a avaliação.

O assunto gerou algumas discussões interessantes entre professores e alunos. O primeiro fato a ser considerado é que a partir deste ano todos os alunos concluintes deverão ser avaliados e os alunos ingressantes só serão inscritos no exame, sem passar pela prova. O principal ponto positivo deste grupo mais amplo de avaliados é que as faculdades particulares não poderão mais selecionar os melhores alunos de cada curso para fazerem a prova. Portanto, ponto positivo para o Ministério da Educação.

Os boatos sobre o que ocorria com alunos de instituições de ensino superior particulares é revoltante. O mais recorrente é que algumas faculdades reprovavam alunos medianos ou ruins para impedi-los de ir para o último semestre e assim deixá-los de fora da avaliação. Vale ressaltar que são "boatos" e vou me basear neles para fazer minha crítica aos alunos das escolas públicas mais a frente. Além dessa reprovação, o que é ainda mais inaceitável é o fato de faculdades darem cursos preparatório para alunos que farão a prova e ainda garantir pontos extras nas médias finais de outras disciplinas.

Ok, vamos parar e refletir: o que é um curso superior? Qual o sentido de se ter um diploma? Cursos superiores viraram um verdadeiro mercado de diplomas! E o pior é que essas vendas são descaradas e muitas vezes essas faculdades não despejam profissionais realmente qualificados no mercado de trabalho! É uma ilusão vendida aos alunos, muitos deles de classe média ou baixa que trabalham duramente para conseguir pagar a faculdade com a promessa de ascensão social no final do curso. Além disso, preparam os alunos para uma rotina puramente prática sem desenvolver neles um sentimento crítico para com o mundo.

Afinal, quem foi que nunca ouviu a famosa frase de que um diploma pode mudar a vida de uma pessoa? Nada contra faculdades particulares, afinal minha primeira formação foi em uma, mas o problema é quando elas enxergam apenas o dinheiro dos alunos, veem em seus rostos um belo cifrão e não dedicam nenhuma porcentagem desses valores para a melhora da qualidade dos alunos.

Com o Isca Faculdades, onde me formei, foi exatamente assim. O ano que terminei minha graduação (2008) ficou marcado por um severo corte de gastos, ou seja, corte de doutores do quadro de docentes. No lugar deles contrataram profissionais que tinham apenas graduação ou especialização para dar aula aos alunos. É um absurdo a forma como a educação (até a educação superior) é tratada neste mundo capitalista!

Agora voltando a atenção para os alunos de escola pública. Criou-se um certo receio de que o exame fosse boicotado pelos alunos. Primeiro pelo simples fato de a data inicial da avaliação coincidir com um campeonato esportivo entre faculdades de economia; Segundo por questões políticas dos alunos. O primeiro fato não vou sequer discutir, já o segundo concordei com a opinião de uma professora que estava discutindo o assunto.

Segundo essa professora, os alunos de escolas públicas têm uma grande oportunidade de mostrar a qualidade do ensino público e quebrar de vez com esse mercado de peixes feito pelas faculdades particulares. Infelizmente eles não aproveitam a oportunidade. Ressalto que aqui não se trata de uma briguinha tosca entre instituições públicas e particulares. O assunto vai mais fundo: a luta é contra um mercado de diplomas que ilude uma grande parte da população com promessas de melhora na qualidade de vida e vendem cursos a preço de banana sem a qualidade necessária para realmente incentivar melhoras na educação em geral e melhoras na economia e nos avanços tecnológicos!

Podemos parar e pensar: de que forma é possível revolucionar o mundo com robôs e máquinas que apenas sabem mexer nas calculadoras, mal-gerenciar peões como se fossem capachos e tratar o ser humano com um nível de educação inferior com desprezo? Como é possível pensar o mundo de uma forma crítica se essa leva de profissionais que são vomitados no mercado de trabalho não conseguem enxergar além do seu próprio nariz e através do seu instrumental de trabalho? Falta, e muito, senso crítico para o mundo e começar quebrando o monopólio dessas instituições de ensino particulares é um bom começo para mostrar como o dinheiro compra um diploma, mas não garante qualidade crítica para pensar o papel social de um profissional com ensino superior.

PS: O Enade pode ter todos os seus problemas de formulação e avaliação, mas este não foi o foco deste texto!

Nenhum comentário: