domingo, 2 de outubro de 2011
I want your mind!
“Temos um destino a cumprir, um “destino manifesto” sobre todo o México, sobre a América do Sul, sobre as Índias Ocidentais e o Canadá. As ilhas de Sandwich são tão necessárias para o nosso comércio oriental quanto as ilhas do Golfo para o ocidental. As portas do império chinês devem ser derrubadas pelos homens de Sacramento e do Oregon, e os arrogantes déspotas japoneses, inimigos da cruz, serão iluminados nas doutrinas do republicanosmo e da lei do voto. A águia da república pousará no campo de Waterloo, depois de traçar seu vôo entre os desfiladeiros do Himalaia ou dos montes Urais e um sucessor de Washington ascenderá ao trono do império universal”
O trecho acima foi escrito pelo jornalista e comerciante de algodão norte-americano James Dunwoody Brownson DeBow, em 1850 na sua revista DeBow’s Magazine. O trecho acima faz parte de um texto de outro autor, o historiador britânico Geoffrey Barraclough, no livro “Introdução à história contemporânea”, publicado pela primeira vez em 1964. Barraclough usa este trecho do artigo do jornalista norte-americano para mostrar a mentalidade expansionista dos Estados Unidos no meio do século XIX, momento no qual o país começa a se projetar mundialmente.
O texto faz parte do curso de História Econômica II da graduação de Ciências Econômicas da Unicamp. A primeira metade deste curso se volta inteiramente a todos os movimentos políticos econômicos entre a Revolução Francesa de 1789 até o momento em que Estados Unidos e Rússia se tornam os dois “flancos” que concentram o poder nas últimas décadas do século XIX. É um texto interessante para verificar como o mundo passa de um sistema europeu de equilíbrio de poderes para uma política mundial bipolar.
As palavras de DeBow são um bom tema para se refletir sobre o papel dos meios de comunicação e, principalmente dos artigos opinativos nos jornais e revistas. DeBow, de acordo com uma pesquisa rápida no Wikipedia, foi um jornalista do Sul dos Estados Unidos que carregava as bandeiras do expansionismo do modelo econômico daquela região do país e da independência do Sul em relação ao Norte do país.
Como já foi mencionado, o texto foi escrito em uma época em que, ao que se parece, os ânimos começaram a ficar acirrados no mundo. Ele foi publicado em um momento que a Europa perdia sua importância vital no pensamento político internacional. Depois de partilharem a África como um bolo de cenoura com cobertura de chocolate, os europeus em seu expansionismo em busca de novos mercados e territórios olham para o Chá Verde que está sobre a mesa chamado Ásia. Mas, como diz Barraclough, o desejo por aquela região não era exclusividade dos europeus. Além das potências do velho continente havia outras três crianças de olho na bebida: Rússia, Japão e Estados Unidos. A Ásia, portanto, se tornara o palco dos conflitos internacionais e desvia o eixo da política que sempre foi, até então, centrado na Europa.
“O meio é a massagem”
Com esse cenário e com o trecho de DeBow ainda na mente é interessante refletir como um editorial ou um artigo opinativo reflete a opinião de uma elite capitalista ou influencia toda uma população. Deve haver infinitos estudos sobre a importância desses textos sobre o público leitor, mas escolhi dois aos quais tive acesso durante minha formação só para embasar minha argumentação. O primeiro, mais conceitual, é do jornalista (também norte-americano) Fraser Bond, extraído do livro de José Marques de Melo, “Jornalismo Opinativo” (2003). Segundo Bond, o jornalismo tem como razão de ser quatro funções: informar, interpretar, orientar e entreter. E sobre elas ele ainda diz: “Desde os primeiros tempos, o jornalismo tem procurado influenciar o homem. (...) O jornal esforça-se abertamente por influenciar seus leitores através de seus artigos, editoriais, caricaturas e colunas assinadas” (p. 28).
Posso estar errado, mas eu tenho a impressão que poucas pessoas pensam nessas palavras com todo o cuidado quando resolvem escrever um editorial ou uma coluna. Olhe as palavras de DeBow mais uma vez: “...e os arrogantes déspotas japoneses, inimigos da cruz, serão iluminados nas doutrinas do republicanismo e da lei do voto”. É de parar a leiturar e pensar “po$$@!”. Acredito que eu não tenha interpretado errado essas palavras, mas elas nos parecem mais atuais que nunca para a realidade americana e à “American Life”. Afinal não são eles que estão promovendo a democracia lá pela região da Líbia... promoveram a mesma ideia no Afeganistão...
Ainda quero encontrar livros que me dêem base para fazer afirmações mais certeiras, mas tendo fortemente a acreditar que, sem a imprensa o imperialismo norte-americano não seria nada. Na verdade, qualquer forma de imperialismo deve passar pelos meios de comunicação hoje em dia. É neste ponto que entra um outro autor que escolhi: Marshal McLuhan. Encontrei perdido na minha estante de livros um publicação organizada por Stephanie McLuhan e David Staines que reúne 19 conferências e entrevistas desse estudioso que pensava a comunicação na década de 1960.
Entre essas conferências achei uma que se chama “O meio é a massagem”, feita por McLuhan em maio de 1966 em Nova York. A palestra dele é excelente! Fala sobre a vida com a tecnologia daquela época. A forma como as crianças de então eram educadas e como raciocinavam frente a tanta modernidade e etc. Mas o foco da minha leitura era sobre o que o autor falava sobre esse “o meio é a massagem” e, o que pude compreender, é que esse trocadilho com a expressão original “o meio é a mensagem”, é o fato de o meio pelo qual a mensagem é levada ao público ser pensado como algo que educa e edifica as pessoas.
“Um meio de comunicação cria um ambiente. Um ambiente é um processo, não é um invólucro. É uma ação e atuará sobre os nossos sistemas nervosos e nas nossas vidas sensoriais, modificando-os por inteiro.” (p. 129) É preciso complementar esse pensamento? Acredito que não...
O autor, nessa palestra se referia muito à arte e em certo ponto diz “A função da arte romântica ou da arte pitoresca era controlar os estados de espírito” (p. 129) e “A função da arte é ensinar a percepção humana” (p. 131). Forçando a barra, escrever não deixa de ser uma arte. Reforçar, em um artigo opinativo, a importância econômica da China para o comércio norte-americano seria então educar os leitores e criar neles um “ambiente” propício à disseminação desse ideal?
E os jornais por aqui?
Em um dos posts anteriores estava falando sobre a minha opinião da importância dos meios de comunicação. Estudando Barraclough para o curso de História da Unicamp encontrei esse tema mais que interessante para fazer novos questionamentos... O editorial de hoje em dia em jornais pequenos é pensado com o cuidado que lhe cabe? As vezes parece que aquele quadradinho reservado para a “opinião institucional” ou as colunas dos “jornalistas pensantes” são meras descargas de ódio político. Ataca-se o prefeito, a obra mal feita, o deputado que esqueceu a cidade, o contrato fraudulento, o vereador que traiu os eleitores... São pontos importantes? Fico realmente na dúvida sobre isso... o importante seria mostrar para a população a realidade, mas mais importante ainda é mostrar as causas, os desdobramentos.
Em uma crítica ao jornalismo econômico, o professor Wilson Cano, da Unicamp, se mostrou descrente com a qualidade desse gênero na imprensa brasileira. Ele comentou que os jornalistas não mostram de maneira clara as causas dos acontecimentos, só se atêm ao fato. “A economia é política e política é poder”, disse ele. E questionou: a quem interessa o acontecimento noticiado? Eu acrescentaria, com base no que ele falou, será que alguém pensa se as suas palavras interessam a alguém? Via e vejo umas colunas tão pífias. Cheguei até a fazer algumas assim e sinceramente me envergonho, mas a inexperiência era uma complicação relevante. Agora, ver que jornalistas que se dizem experientes escrevem críticas simples, sem mostrar possíveis soluções, a meu ver é perda de espaço... se esses jornais querem só vender e não informar, tirem esses artigos infundados e coloquem então mais um anúncio. Afinal espaço é dinheiro. Jogar pedras no sistema sem uma argumentação clara é perda de espaço se ela não vem acompanhada de causas claras e soluções eficientes.
Voltando ao imperialismo...
Me lembrei de um clipe sensacional da Madonna, feito em 2003: American Life. Além de pensar no jornalismo, o trecho de DeBow nos faz pensar também sobre a política norte-americana. Esse jeito coercitivo e imperial de impor, durante muito tempo, seus desejos e interesses sobre os outros países. Pelo o que me lembro, a versão do clipe American Life que escolhi para esse post foi censurado na época que foi lançado. Tanto que a cantora teve que fazer um outro clipe bem sem graça só com bandeiras no fundo e ela cantando no primeiro plano.
O clipe censurado tem uma ligação muito clara com o trecho do jornalista sulista norte-americano. Lembrei que no meio de todas as discussões sobre liberalismo econômico deste semestre na Unicamp, foi falado em certo momento que a economia levaria a paz ás relações dos países. Será????? O clipe responde.
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