quinta-feira, 20 de outubro de 2011
A balada das ideias
O encontro era inevitável, mais cedo ou mais tarde os dois se encontraríam e dali poderia sair uma relação de amor ou ódio. Mesmo que na balada agitada de autores e conceitos, o contato superficial é mais que suficiente para se entender um pouco o que se passava dentro da sua cabeça. Por mais que a aparência física dele não seja das mais agradáveis e sua idade também não corresponda com as preferências das garotas, ele é uma das figuras mais ilustres, se não for a mais ilustre, desse evento de ideias e ideologias.
Em uma conversa regada de termos antigos mas nem por isso incompreensíveis, uma mentalidade ou uma visão de mundo pode ser transformada de maneira radical, porém não deixará de ser uma visão hoje em dia, nada além disso. Como fundo musical um remix bate estaca de Geraldo Vandré, essa conversa superficial rende várias reflexões que ficam no papel, ou nos blogs, na rede.
Marx realmente desperta sentimentos antagônicos. Ou o estudante de economia, no meio dessa balada agitada que é sua graduação, passa a adorá-lo ou o odeia e se agarra às pernas do capitalismo com toda a força possível, exalta o mercado e tatua uma gigante letra K nas costas seja contornado por tribais ou no estilo maori.
Apesar da grande barba e pelo simples detalhe de ser do século XIX, esse alemão muito famoso com certeza despertaria enormes paixões naquelas menininhas cults ou faria boas amizades com o pessoal que gosta de uma boa discussão filosófica. Aqueles que estão esperando um empurrão para se revoltar contra o sistema que domina o ocidente cego pelo lucro e pelo dinheiro, Marx dá, com suas palavras, a ferramenta perfeita: a indignação.
“A burguesia, onde conquistou o poder, destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Rasgou sem compunção todos os diversos laços feudais que prendiam o homem aos seus ‘superiores naturais’ e não deixou entre homem e homem outro vínculo que não o frio interesse, o do insensível ‘pagamento em dinheiro’. Afogou a sagrada reverëncia da exaltação religiosa, do entusiasmo cavalheiresco, da melancolia sentimental do burguês filisteu nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca e, no lugar de um sem-número de liberdades legítmas e duramente conquistadas, colocou a liberdade única, sem escrúpulos do comércio. Numa palavra, no lugar da exploração velada por ilusões políticas e religiosas, colocou a exploração seca, direta, despudorada, aberta”
Para não deixar o receptor indignado só com a burguesia, símbolo máximo do capitalismo nas suas palavras no Manifesto do Partido Comunista, Marx coloca outro integrante desse conflito como sujeito da oração: “O proletário torna-se um mero acessório da máquina, e dele se exige apenas o manejo mais simples, mais monótono e mais fácil de aprender”. Mesmo numa balada seria impossível não relacionar as palavras de Marx escritas há pouco mais de 160 anos com a realidade de hoje. Qualquer semelhança é mera coincidência... as máquinas mudaram, mas parece que a forma de exploração do proletariado é ainda a mesma. Sem uma chave de fenda nas mãos, o proletário, em seu Tempos modernos, agora só pressiona os atalhos CTRL+C e CTRL+V infinitamente...
Mas uma coisa é fato, até mesmo os estudantes que não vão abraçar o capitalismo como único e melhor sistema econômico e se identificam completamente com as ideias de Marx devem acabar se frustrando em algum passo do caminho... Pode até ser que esse estudante ainda espere a revolução final do capitalismo, quando a propriedade burguesa for abolida e, por meio da política, os proletários usem a corda dada pelos burgueses e enforquem essa classe exploradora.
Ok, ok... enquanto as luzes vermelhas piscam incessantemente, o globo de espelhos gira, uma travesti vestida de Tia Sam faz caricatura dos hegemônicos e alguns pensadores convencem, são convencidos, indagam e indignam, a balada do curso continua. Provavelmente veremos Marx numa have mais profunda, de horas e horas de leitura e questionamentos. Até lá vale usar o básico e questionar o que realmente pensamos sobre capitalismo e comunismo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário