quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Entendendo o passado...


Para aqueles que estão se preparando em um cursinho pré-vestibular e já se inscreveram no exame para tentar uma vaga no curso de Ciências Econômicas da Unicamp, duas palavras: não desista! Quer seja um ano inteiro, apenas um semestre ou algumas noites de dedicação para se preparar para ingressar neste curso, cada segundo é muito bem recompensado quando você entra na graduação e se depara com o mundo que você acabou de pisar. A Unicamp é única e tremendamente estimulante.

Apesar de não ter todo o tempo que realmente gostaria para me dedicar a todos meus afazeres e às minhas paixões, vou tentar relatar como é esta formação ímpar pela qual estou passando nas salas do Instituto de Economia da Unicamp. Sei que deveria ter feito isso desde o primeiro semestre, mas ainda não completei a minha adaptação à rotina de trabalhar em horário comercial, estudar no período noturno e abrir mão das horas de sono para ler os textos que são solicitados.

Hoje mesmo estava estudando um texto da disciplina de História Econômica Geral II, ministrada pelo professor Eduardo Barros Mariutti. Portanto vou escolher este tema para começar a relatar um pouco de como é ser um graduando da Unicamp. Observo que já escrevi alguns textos aqui que usei de conceitos de outras disciplinas mas, pela enésima vez, vou tentar dar mais um propósito ao meu blog além de ser meu espaço pessoal e meu portfólio de artigos e reportagens.

Muito mais que história...

Para quem se identifica mais com a área de humanas que de exatas, o curso de História Econômica Geral I e II é excelente. Abrindo um parênteses aqui, é notório que o curso de economia une uma diversidade de gostos e objetivos muito interessante. Por ser um curso da área de humanas mas com uma base em exatas muito forte, convivemos com o desespero daqueles que se arrepiam com fórmulas e cálculos mais complexos e, ao mesmo tempo, com aqueles que tremem na base com a quantidade de textos de história, por exemplo, e se perdem nos conceitos e ideias chaves dos autores.

Fechando o parênteses e pegando nele um gancho, esse curso de história é ministrado em dois semestres e só é possível descobrir a quantidade de autores com os quais temos contato se tivermos uma memória excelente ou se consultar a ementa dos dois cursos! O mais estimulante deste curso é justamente essa pluralidade de fontes e informações que temos que ler, analisar e refletir para entender todas as facetas de como se construiu a história pela ótica economia.

Como estou com a ementa do curso História II bem na minha frente, consigo listar aqui os autores que visitamos para ententer os movimentos políticos e econômicos dos séculos XIX e XX: Éric Hobsbawm, Giovanni Arrighi, Carlos Alonso Barbosa de Oliveira, Barrington Moore Jr., Geoffrey Barraclough, Peter Gowan, José Luis Fiori e Robert Cox. São oito nomes, mas alguns deles temos que ler capítulos de quatro ou dois livros diferentes. É muita coisa sim, principalmente para aqueles que, como eu, precisam trabalhar para se bancar fora de casa e ainda encontrar tempo para conseguir dar conta do recado! (risos)

Porém, não deve existir outra forma de ter uma formação pluralista sem visitar vários autores durante o curso. Neste primeiro bimestre, entre agosto e setembro, foi indicado para a turma ler os cinco primeiros autores, que totalizam sete textos diferentes.

O tema destas aulas começa nos conflitos sociais da Europa com a revolução francesa muito bem explicada por Éric Honsbawm no livro “A Era das Revoluções” e estamos terminando a discussão com o mesmo autor, porém no livro “A Era dos Impérios”. Começamos nossas discussões na França na segunda metade do século XVIII e estamos terminando na formação dos Estados Unidos e a queda da Inglaterra como hegemonia econômica do século XIX.

Se você não gosta de história já imagino a expressão que deve ter feito, mas para quem gosta de debates como estes as aulas são excepcionais! Apesar de terem como base os fatos históricos, as explicações do professor vão além das entrelinhas e tenta esclarecer os movimentos políticos, intelectuais e econômicos que estavam por detrás dos acontecimentos. O texto que li essa madrugada, “A Guerra Civil Americana”, de Barrington Moore Jr., é um exemplo claro dessa descrição das aulas. Em momento algum do texto o autor fala o que foi a guerra, quais foram as estratégias de ataque, de defesa, e etc. temas que são abordados no Ensino Médio e nos cursinhos. Neste capítulo o autor questiona quais foram as causas desse conflito, expõe a questão da escravatura norte-americana e todas as consequentes discussões políticas e econômicas que ela gerou.

Realmente eu não imaginaria nunca ler, por exemplo, que a “escravatura nas plantações do Sul não constitui um grilhão econômico para o capitalismo industrial. Se algo se pudesse dizer, seria o contrário; ela ajudou a promover o desenvolvimento industrial americano nas suas fases iniciais” (p. 116). O máximo que discussões sobre a Guerra Civil Americana e sobre escravidão que temos contato antes de um curso como este é simplesmente referente aos fatos, números e consequencias.[Vale ressaltar para os desavisados e leitores que adoram fugir do contexto que não apoio e nem aprecio a escravidão!]

E entender como a Inglaterra conquistou sua hegemonia mundial naqueles séculos? É fascinante realmente entender a ascensão e queda de impérios como foi esse caso. Entender como a Inglaterra se desenvolveu e ao mesmo tempo deu a corda para ser enforcada; e como ela influenciou os outros países que estavam ainda no berço do desenvolvimento industrial a evoluírem e até a superarem seu poderio naval e mesmo industrial. Nestes dois meses vimos como os bancos de investimento surgiram, qual o movimento da agricultura comercial para a indústria, como o algodão foi a base de economia norte-americana quando o país ainda estava se industrializando e como se dá a formação de capital de investimento, capital comercial, como são aprimorados os meios de transporte e etc...

É muita coisa e tudo isso será cobrado na prova da próxima terça-feira, dia 5 de outubro. E vale uma confissão, a melhor parte disso é que não adianta decorar nada, é preciso entender os movimentos gerais e particulares para conseguir conectar os cinco autores e os conceitos dos sete textos e refletir sobre esses fatos de uma maneira crítica bebendo nos autores para construir a argumentação mais sólida possível.

Para quem está se preparando para ingressar no mesmo curso que eu escolhi, fica ai uma boa orientação sobre como vão ser suas provas de história. Na verdade essa é a tendência de quase todas as provas. Aqui não basta decorar a fórmula e aplicar os valores dentro das variáveis, é preciso ir além do resultado da equação e entender como ela afeta o comportamento do gráfico. Mas esse assunto já é sobre a matéria de cálculo, porém serve de exemplo de como até as exatas exige interpretação.

Dicas


Quem gosta de história e em especial textos com enfoque político e econômico que ultrapasse a simples narração dos fatos, quero fazer uma excelente indicação: Eric J. Hobsbawm. Ele escreveu uma série de livros chama as “Eras”, são quatro volumes que são uma análise histórica do século XIX e o começo do século XX. Só para dar um gostinho de como o autor vai além da simples descrição, selecionei um trecho do prefácio do segundo livro, “A Era dos Capitais”:

“O livro pode ser lido independentemente, desde que os leitores se lembrem de que ele não trata de um período fechado que pode ser separado do que vem antes ou depois. História não funciona assim. Mesmo assim, ele não deveria pedir do leitor nada além de uma introdução geral adequada, pois é deliberadamente dirigido ao leitor não especializado. Se os historiadores devem justificar os recursos que as sociedades devotam a seus estudos, por menores que sejam, não deveriam escrever exclusivamente para outros historiadores.” (p. 15)

Como disse são quatro livros: “A Era das Revoluções”, “A Era dos Capitais”, “A Era dos Impérios” e “A Era dos Extremos”. Os vestibulandos que passarem para segunda fase do vestibular da Unicamp, depois de fazer as provas, poderiam muito bem começar a ler. São fascinantes, fáceis de entender e com uma leitura muito simples. Lógico que as aulas de história ajudam muito a entender os movimentos que estão por detrás do que Hobsbawm descreve, mas, com ou sem orientação do professor, esta é uma leitura que vale a pena. Neste segundo curso de História Econômica estamos usando três dos quatro livros, o único que não foi solicitado foi o segundo, de onde tirei a citação acima porque estou quase acabando de ler e estava aqui do meu lado.

Bom... acho que deu para dar uma introdução bem básica de um dos cursos que temos em Ciências Econômicas. Vou tentar encontrar mais tempo para escrever mais sobre os outros cursos e também colocar resumos que fiz das matérias do primeiro semestre, bem como deste. Escrever e estudar são minhas paixões, vou tentar unir as duas para algo que seja produtivo para alguém =).

Já são 4h30, ainda teria que ler um trecho do Manifesto Comunista de Marx e Engels para amanhã a noite, mas vai ser impossível! (risos)

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