sexta-feira, 2 de abril de 2010

Vida Universitária: do batismo ao diploma

Texto feito para a Revista VU (www.vidauniversitaria.com.br)em fevereiro de 2010

Tudo começa com algumas brincadeiras de criança ou uns meses antes da inscrição no vestibular. Algumas pessoas já sabem o diploma que querem pregar na parede desde pequenas, enquanto outras dividem seus pensamentos entre duas ou mais opções, mas todos que se matriculam num curso do Ensino Superior sabem que estão entrando em uma nova fase: a vida universitária. São trabalhos, livros, resumos, professores, prazos de entrega, provas, testes, xérox, biblioteca, grupos de estudo e responsabilidades de um lado e festas, azaração, vida independente, república, balada, cerveja, paqueras, saídas, ficadas, gargalhadas, fofocas, roncos e diversão do outro.

A Vida Universitária une o melhor de dois mundos em uma idade na qual a maioria dos estudantes está com hormônios e agitação à flor da pele. Apesar de um momento em que tudo se torna novo de novo, a responsabilidade dos estudos se funde com o sentimento único que um universitário sente durante quatro ou cinco anos. Sentimento de mudança que engloba muita correria, pouco dinheiro, novas amizades, contatos profissionais, visão de mercado, perspectiva de futuro e uma quase estratégia de guerra para se dar bem na carreira escolhida.



Hoje fiosioterapeuta formado pela Faculdade Anhanguera e estudante de uma especialização na Unicamp em Campinas, Rogério Bernardo, de 31 anos, já passou pela experiência. A estudante de Gestão de Agronegócios da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp em Limeira, Lucinéia Aparecida Vicelli, 22, está no segundo ano dessa vida. E a bixete do curso de Administração do Isca Faculdades, Franciele Fernandes, 19, acabou de conhecer alguns dos professores e colegas dos próximos oito semestres de estudos. Apesar de estarem em níveis de experiência diferentes, os três fazem coro quando definem a vida universitária como um momento de independência, amadurecimento e preparação. Resumindo nas palavras de Bernardo: “Uma das melhores fases da vida, que vale qualquer esforço”.


O batismo dessa vida parece ser o famoso trote, época em que as papelarias devem vender ainda mais as tintas guaches. Franciele, que passou pela mãos dos veteranos de seu curso achou a sensação maravilhosa. “É estranho porque a atenção parece que é toda para você. Fiquei supersuja de tinta mais foi muito divertido e saudável, além disso é um jeito fácil de ter contatos com pessoas que ainda não conhecemos”, conta a bixete. Contatos esses que devem durar pelo menos 48 meses. Além de todo o esforço para acompanhar as aulas e estudar em horários antes inimagináveis, a vida em um curso superior é um dos momentos para se fazer grandes amizades. “Acredito que pelo fato que você vai passar no mínimo quatro anos na faculdade, as amizades que você faz tem um peso maior, tanto com professores como com os amigos de classe”, opina. “É possível fazer amizades verdadeiras e que mesmo a distância e os compromissos da vida moderna serão sempre lembradas”, completa Lucinéia.

Além dos amigos das salas de aula, outros universitários ainda encontram a independência que tanto sonharam: a república. Uma nova casa, mobiliada ao gosto dos habitantes, convivência com gente que nunca se viu antes, compras, limpeza e arrumação. Algumas vezes a fórmula universitário mais universitário parece resultar em festa. Apesar de estudantes enxergarem a vida universitária como um momento de pura diversão, as responsabilidades que a matrícula em uma instituição de ensino superior traz exige cautela na hora de “encher o pote”. Bernardo, que entrou na faculdade aos 26 anos, já não era mais atraído pela vida boêmia que acompanham essa vida. “Quando entrei na faculdade estava muito focado em estudar e poder aprender o máximo possível, já possuía maturidade para separar o que realmente precisava e podia esperar, além disso festas e bares já não me atraíam mais”, relembra.

O foco do fisioterapeuta o levou para dois congressos e a um simpósio em apenas dois anos. Aproveitando esses anos nos quais são permitidos erros, elogiados os acertos e incentivadas as experimentações dentro da faculdade, Bernardo entrou para o projeto de iniciação científica da faculdade. Em 2007 participou do Congresso Internacional de Iniciação Científica (Conic) em Sorocaba, e em 2008 da nova edição do mesmo evento, em Botucatu e no Simpósio Internacional de Iniciação Científica da Universidade de São Paulo. Andando por qualquer faculdade, seja ela pública ou particular, os quadros de aviso sempre exibem umas cartas ou outro de prêmios e concursos. São apenas quatro anos para experimentar o leque de possibilidades de cada profissão e as notas no final de cada semestre servem como medida para a coragem de inovar ou a inércia de esperar o papel chamado diploma. Fazer um curso superior não é uma folha de sulfite com dois lados e totalmente descartável depois de se rabiscar todo o espaço branco. Vida universitária pode ser um rolo enorme de papel pronto para ser trabalhado e depois guardado na gaveta chamada aprendizado.


Conselho de quem já passou pela vida universitária:

“Use sua consciência, seja racional; é como comprar um carro, o carro do seu sonho que você demorou quatro anos juntando dinheiro e trabalhando muito e na hora que você vai buscar ele está riscado. Você levaria assim mesmo? Você pode ir à festas, mas depois das aulas, se vai programar nunca marque perto de provas principalmente, e não se engane: quatro ou cinco anos passa voando na faculdade quando você perceber estará acabando.” Rogério Bernardo, fisioterapeuta



Luxo ou privilégio?




Rogério Bernardo esperou um bom tempo para conseguir realizar o sonho de fazer um curso superior. Depois de acabar o Ensino Médio, ele precisou trabalhar para conseguir dinheiro e finalmente se matricular na faculdade. “Na época estava com 26 anos, meus pais são pessoas humildes que sempre valorizaram o trabalho e princípios de honestidade, mas não possuíam recursos para me ajudar nos estudos”, conta. Então Bernardo começou a trabalhar no comércio de Limeira para conseguir ajudar em casa e só depois começou “seu sonho”.

Assim como ele, várias pessoas se matriculam em um curso de ensino superior anualmente. Olhando para as faculdades no primeiro semestre de cada ano, a maioria dos estudantes são jovens recém-saídos do terceiro ano do Ensino Médio que não dão nenhuma pausa na considerada “vida escolar”. De acordo com o Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) o número de estudantes que ingressaram na chamada “vida universitária” em 2008 – data do último balanço disponível no site do Ministério da Educação (MEC) – foi de 1.505.819.

Apesar de o número parecer ser grande, ele não corresponde ao total de vagas disponíveis naquele ano. Há dois anos, as instituições de ensino superior do Brasil ofereceram 2.985.137 vagas. A conta entre ingressos e vagas disponíveis mostra que a quantidade de vagas ociosas, ou seja, aquelas que não foram ocupadas pelos estudantes foi de 1.479.318, quase metade da oferta. Ainda seguindo os cálculos que as estatísticas do Inep disponibiliza, 5.534.689 pessoas se inscreveram em vestibulares nas instituições brasileiras. O censo do Inep considera nesses números as graduações presenciais e a distância de faculdades públicas e privadas.

Ainda de acordo com os dados da instituição, o número de estudantes do Ensino Superior em 2008 era de 5.080.056. E um dado curioso que o censo apresenta é que de todos os estudante que iniciam essa “vida universitária”, somente 57,3% concluem o curso. Os dados sobre 2009 começaram a ser colhidos junto das instituições de ensino em janeiro e o resultado ainda não estava disponível no site do Inep. Os números mostram que, apesar de as faculdades existirem aparentemente “aos montes”, o número de estudantes que tentaram e não conseguirem entrar em algum curso superior naquele ano é grande e tende a aumentar. Com tudo isso vai a pergunta: curso superior é luxo ou privilégio? Como você encara ele? Conte para nós no portal da Revista VU acessando www.vidauniversitaria.com.br


Números



2.985.137 foi o número de vagas oferecidas nos vestibulares para 2008

5.534.689 pessoas concorreram essas vagas

1.505.819 conseguiram passar e ingressaram em alguma graduação

1.479.318 vagas ficaram ociosas

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