“Quando pega no bolso do motorista ele reclama”. A declaração é de um “funcionário” público que pertence ao alto escalão da Prefeitura de Limeira. A frase foi em resposta à um questionamento sobre a conduta de três agentes de trânsito que, na última segunda-feira, multaram e foram sarcásticos um motorista que estacionou seu carro sobre a calçada na Avenida Saudades, Centro.
Realmente ninguém gosta de multa. Além de ser uma despesa não planejada, ninguém sabe ao certo para onde vai o dinheiro que pagamos por cometer infrações no trânsito. É justo multar os errado. “Toda infração é passível de multa”, declarou o secretário de Transportes, Ítalo Ponzo Júnior ao Jornal de Limeira em uma matéria que fizemos sobre o segundo dia da Operação “Tolerância Zero”. Aqui está o ponto legal da coisa, afinal o Código de Trânsito Brasileiro está ai para garantir que o as vias públicas não fiquem piores do que já estão. Mas onde estaria a “compreensão”?
O caso da Avenida Saudades é digno de uma análise um pouco mais aprofundada. A via há alguns anos era um point de jovens. Assim como descrevi no post abaixo (“Limeira gira, gira, gira e não sai do lugar”), a Avenida Saudades era um desses carroséis limeirenses de jovens que não tinham o que fazer na noite da cidade. O “problema” causado por esse público foi resolvido com placas proibindo o estacionamento de veículos nos horários que costumavam se tornar o ponto de encontro deles.
Se a noite a avenida era dos jovens, durante o dia a via é do comércio. Acho que a Avenida Saudades é uma das mais bonitas da cidade. Bem arborizada, com um canteiro central simples, mas verde, calçadas largas e bastante sombra. Além de ser a principal via para os dois cemitérios que existem na região central, a avenida também é um dos poucos lugares da cidade que ainda sustentam alguns bares e a única boate de Limeira, além de ter lojas chiques de móveis, a cabeleireira mais cara da cidade, uma das escolas mais conceituadas e um prédio residencial muito bonito e uma igreja (que tem em todo canto nessa cidade...).
Moradores e principalmente clientes desse espaço comercial que a Saudades abriga estavam acostumados com as vagas para estacionar os carros sobre as calçadas. Apesar de alguns carros atrapalharem de vez em quando a passagem de pedestres, uma delimitação no solo até foi pintada para deixar claro os espaços de quem anda com os pés e quem se desloca sob rodas. Segundo um gerente de uma das lojas da via, um agente de trânsito que havia o orientado a pintas as linhas no chão e a colocar cones no final de cada vaga para que nenhum veículo invadisse o passeio público.
Como tudo entra em um movimento inercial, só uma força contrária impede o deslocamento de algumas coisas, até no cotidiano das pessoas. Eis que a Secretaria de Transportes lança uma operação, já apelidada de “Tolerância Zero” (apesar de o titular interino da pasta dizer que não gostou do apelido) para intensificar a fiscalização e os famosos laranjinhas, como são conhecidos os agentes aqui em Limeira, chegaram multando proprietários de veículo que, da noite para o dia, estavam irregulares no local. Um dos multados conversou comigo e contou que além de não conseguir escapar da multa a tempo – ele chegou a tempo ao lado de seu carro que estava sobre a calçada, mas o agente de trânsito foi intransigente – ainda teve que aguentar o sarcasmo dos laranjinhas. O tal motorista até anotou os nomes dos três agentes que lavraram a multa e deixou o papel na sua mesa de trabalho.
A Avenida das Saudades, além de ser o último passeio de quem vai descansar no cemitério, é também uma das avenidas usadas para se chegar até o passo municipal. E na prefeitura, como é óbvio, é onde fica a secretaria dos transportes, é onde ficaram os agentes municipais. Agora uma pergunta: se era mesmo errado parar em cima da calçada como os motoristas faziam até a última segunda-feira, porque os motoristas não eram multados? Vista-grossa ou os agentes e outros profissionais que passavam por ali simplesmente não percebiam os carros em cima da calçada? É fato que alguns carros do alto escalão entram pelos fundos do paço municipal, até porque não querem topar com limeirenses reclamando de árvores, buracos e vagas em creche, e pela sua porta dos fundos se instalam na masmorra com pelo menos quatro portas de fechaduras automáticas até seus gabinetes. Por que do comentário, simplesmente porque alguém que não anda sem medo a pé pela cidade não consegue reparar no que a cidade tem.
E depois de ser questionado sobre a conduta sarcástica dos laranjinhas aquele personagem do alto escalão do começo da matéria ainda diz que as pessoas reclamam mesmo quando o bolso dói... Mas que não se faça generalizações. Existem laranjinhas bons, que conscientizam, e existem laranjinhas malas, que multam e acham graça, ou param o carro pessoal em cima da área destinada às motos quando não está com o uniforme, como já presenciei. Assim como existe secretários bons, os que se fazem de bons, e os que falam uma coisa quando assumem o cargo e pouco tempo depois se contradizem.
Ê mundo da politicagem... quem tem orgulho de você?
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