quarta-feira, 1 de abril de 2009

Autopeças sente recuperação; setor pode cair esse ano

Previsões da produção mostram que 2009 deve fechar com queda, cenário antes da prorrogação do IPI mostrava um setor sem esperanças de novos postos de trabalho e aumento de pedidos
por Alex Contin

A crise econômica mundial ainda não tem um fim, mas a luz no final do túnel já sinaliza melhoras. De acordo com o diretor da multinacional TRW Automotive de Limeira, Wilson Rocha, a atividade da indústria opera num patamar menor que o de 2008, mas o mercado já dá sinais de melhoras e estabilidade.

Apesar dos dados positivos desses primeiros meses de 2009, a previsão para o setor automotivo é de queda no crescimento este ano. A prorrogação de isenção e redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), anunciada ontem pelo governo federal, deve animar o setor.

Rocha deu as informações abaixo listadas na semana passada, e aguardava a notícia para perspectivas melhores. O governo prorrogou a redução e desoneração do IPI no dia 30 de março, última segunda-feira. No dia o diretor estava em reunião na empresa e não pôde dar uma nova entrevista para falar sobre o assunto e as perspectivas.

Segundo ele, a previsão para a produção de carros este ano é de 2,9 milhões de veículos. Em 2008, foram produzidos 3,2 milhões. Os números representam uma queda de cerca de 10% na produção automotiva do País.

Ele se fundamenta com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e nas projeções de especialistas no setor. Apesar de a queda ser prevista, Rocha acredita que o número não representa mais demissões. "Estamos preparados para atender a demanda com o número de funcionários que temos atualmente", diz.

No início deste ano, o mercado de veículos se aqueceu. A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os automóveis fez com que as vendas fossem maiores do que se estimava sem a retirada do imposto. Um estudo feito pela Anfavea em parceria com outras entidades da mesma classe, mostrou que a redução foi benéfica para o mercado. Em janeiro foram vendidos 197 mil veículos. Em fevereiro foram dois mil a mais. Já nos primeiros 15 dias deste mês foram vendidos 118 mil automóveis - um volume 5,31% a mais que o do mesmo período de 2008.

REFLEXOS

Esse aquecimento do mercado foi sentido pela multinacional em Limeira. De acordo com Rocha, a produção de veículos cresceu 4,5% em fevereiro, comparando dados com o primeiro mês do ano. A produção de veículos está diretamente ligada a empresa já que ela fabrica freios, peças para suspensão e cintos de segurança - na unidade de Limeira.

A empresa começou a se distanciar do fantasma da crise, mas ainda sente seus assombros. O número de trabalhadores está menor, mas é o suficiente para dar conta dos pedidos e da projeção feita para o setor - de 2,9 milhões de veículos produzidos.
A estimativa para se voltar ao mesmo ritmo quente em que o setor estava na metade de 2008 ainda é para longo prazo. "A previsão é de voltar só no final do ano ou ano que vem, não antes disso", afirma o diretor.

Atualmente a TRW opera com um nível de produção 18% menor em relação ao mesmo mês de 2008. A situação não é agradável, mas também não é desesperadora como está nos Estados Unidos, onde a queda foi de 47% da produção quando comparada com o ano anterior, conforme diz Rocha.

"Ainda não saímos da crise, mas já vemos uma estabilidade dos patamares do mercado", comenta.

CADEIA
Além da redução do IPI, outra medida que colaborou para a pequena recuperação do setor foi a liberação de linha de crédito para a compra de carros usados. Na economia tudo está ligado. Falando em produção de veículos novos, um incentivo para a compra de usados é bem vinda, explica Rocha. "Ninguém compra um carro 0Km sem vender o seu usado", relaciona.

Manter a venda de veículos sem i IPI pode colaborar para uma continuidade dessa recuperação. Com isso, a projeção de produção de veículos esse ano pode aumentar e com ela, mais empregos virão, ou retornarão.

A empresa ArvinMeritor foi procurada duas vezes para se posicionar sobre o assunto até o fechamento desta matéria. Na primeira vez se limitou a enviar uma nota pela Assessoria de Imprensa dizendo que "a empresa continua se ajustando a atual demanda, praticando ações de redução de despesas necessárias ao equilíbrio de seus resultados." Já quando a prorrogação da redução do IPI fora anunciada, os diretores da empresa disseram que preferiam esperar o anúncio oficial do presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) e que seria deselegante conceder uma entrevista sobre o assunto antes da fala presidencial.


A matéria foi originalmente escrita dia 24 de março e adaptada para publicação no dia 30 do mesmo mês.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei do texto, que é bem claro! O discurso do fantasma que assombra é um bom exemplo de como a mídia pode afetar a economia rs... Parabéns!