quarta-feira, 22 de abril de 2009

Drogas, consequência de caráter


Humilhação na descoberta que o problema é o próprio drogado
Por Alex Contin

Fuga, doença ou fraqueza? Chegar até as drogas não é um caminho difícil quando a vida já está uma droga. Lucas e Manoel são dois ex-dependentes. Os nomes são fictícios, mas a história e as experiências que os dois homens passaram são bem reais e humilhantes. As drogas têm o poder de dar prazer para seus usuários, mas cobra um preço caro pelos minutos de viagem, euforia ou agitação que proporcionam.

Os dois personagens dessa matéria estão sem usar nenhum entorpecente ilícito há 11 anos. Junto com a carteira e o celular, os dois carregam um maço de cigarros. Em uma hora, tempo que deram a entrevista para o Jornal, Lucas fumou quatro cigarros. Manoel três. É o vício que se permitem ter agora. "Não somos santos também", brinca um deles. Já o comportamento ficou tranquilo com o passar dos minutos. Se soltaram e deixaram as experiências aflorarem. Não é comum para nenhum dos dois contarem os maus momentos que passaram, ainda mais para um estranho. O único lugar que se dizem compreendidos são as reuniões do Narcóticos Anônimos, onde experiências iguais ou piores são trocadas.

O CAMINHO
Apesar de terem histórias diferentes, muitos fatores se assemelham no caminho que os levou ao mundo das drogas. Os dois preferiram manter o anonimato pelo julgamento que a sociedade faz. Ambos se dispuseram a contar as suas experiências por acreditarem em uma causa - a de divulgar aquela luz no topo do poço.

Lucas confessa que é doente. O problema nunca foi as drogas que consumia e sim ele próprio. Desejos proibidos e pensamentos insanos. Um comportamento que não é digno. Lucas não amava os pais e não era feliz consigo mesmo. Ele é aquela pessoa que adorava uma coisa errada. Sexo com prostitutas, atração por quem deveria respeitar e inveja dos outros.

PRAZER
Durante os dez anos que consumiu drogas muitas coisas não são motivos de orgulho. Ele se prostitiu para conseguir dinheiro e pagar seu fornecedor. Diz que só não roubou, mas do resto fez de tudo. "O momento mais humilhante pra mim foi quando percebi que o problema era eu e não as drogas", comenta. Ele começou a usar maconha com 22 anos e foi procurando outras drogas que aumentassem o prazer que tinha. Cocaína o deixava excitado e até perdia o interesse por sexo. Hoje ele tem 41 anos e não se mostra o homem mais feliz do mundo. Ele tem sua religião, está recuperado e diz que dá mais valor aos pais, apesar disso se lamenta quando a pergunta é casamento. "Nem pra isso eu presto."

Já Manoel usou drogas por 16 anos. Sua idade é parecida com a de Lucas, 42 anos. Na época em que começou, ele relata que havia o que chamam de fases de um drogado. Elas se assemelham com a de um relacionamento amoroso: a paquera, namoro, noivado e casamento. A ordem dos entorpecentes também era única: álcool, maconha, cocaína e crack. "Hoje em dia não tem nenhuma ordem ou fase, a mulecada de 15 ou 16 anos está indo direto para a cocaína e para o crack", relata.

COMPORTAMENTO
Manoel ainda critica os pais e aquela visão de que dentro de casa tudo é perfeito e o problema são as más companhias. "Não existe bicho papão. Não tem ninguém que oferece droga para uma pessoa, ela sim procura a maconha ou outra droga mais forte e os pais ainda acham que são os amigos que oferecem. Não conhecem o filho que tem", diz.
Lucas e Manoel dizem que as pessoas têm uma pré-disposição para chegarem até as drogas. Afirmam ser uma doença reconhecida pelos órgãos de saúde. "As pessoas têm o perfil de drogadas logo cedo, são invejosas , desonestas, manipuladoras e tudo o que há de ruim", comenta Manoel.

Eles ainda dizem que o preconceito muitas vezes vêm da própria família. "Ao invés de ajudarem o drogado, elas escondem ou preferem não ver", critica. Lucas diz que o problema hoje em dia são as clínicas que fornecem uma recuperação ivoluntária e aplicam calmantes e outros remédios. "As pessoas precisam procurar um lugar sério para se tratarem", diz. E nessa hora, os dois ex-dependentes ressaltam que o que motivo a largar as drogas é o cansaço do sofrimento.


Matéria publicada no Caderno de Domingo, do Jornal de Limeira - dia 19 de abril de 2009

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