sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ego ou arte?

Tive o azar de ouvir essa semana uma definição pífia para o que é dança. Ouvi em alto e bom som que "dança é ego". Esta seria uma nova definição para arte então?

Seria certo definir que a dança "mexe com o ego" da pessoa, ai sim. Toda arte toca no ego de seu artista. Um pintor quer ver as críticas de seu quadro. Quer saber se as técnicas que utilizou na pintura estão aceitáveis, estão bem feitas. Um músico quer saber se sua música está no goto do público. E por ai vai. Isso é ego? é necessidade de reconhecimento, saber o que se quer. Até mesmo aqueles que se dizem despreocupados com a crítica de seu público se alegram, com certeza, ao ler ou ouvir que tal trabalho é o melhor já visto.

A dança pode ser só uma questão de ego se não for bem trabalhada. Ela é uma das sete artes, óbvio. Ouvi em um programa que falava sobre arte e filosofia, da TV Cultura, certa vez que arte é tudo aquilo que incita a sensibilidade. Seja algo que provoque alegria ou tristeza, raiva ou amor. Atuar é uma arte, dançar também, assim como pintar. A dança mexe com a sensibilidade de quem a assiste. Ela, assim como todas as outras formas de arte, tem uma mensagem a passar. Não é simplesmente mostrar o conjunto de passos, um seguido do outro na cadência e ritmo da música. A dança é isso e muito mais. Transmite aos espectadores sentimentos de amor, como nos clássicos ballets de reportório ou causa confusão mental como nas coreografias contemporâneas.

Pensar que dança é ego não é pensar em dança. É vê-la com uma visão errônea, leiga e simplista. Ela mexe com a auto-estima das pessoas que a praticam, mas isso se torna secundário a partir do momento que o conceito de arte é assimilado. Pensar que a dança é a arte em movimento, a interpretação visual da música e a expressão do corpo através de gestos cadenciados, supera o simples pensar que a auto-estima é um dos principais fatores com o qual ela trabalha. É com a sensibilidade que se lida ao dançar. Com o conhecer de si próprio e das possibilidades de tocar alguém com emoção.

Vou me atrever a dizer que quem pratica dança como arte é quem realmente sabe dançar. Isso é visível em um palco ou em qualquer outro local que se dance. Em Limeira mesmo, há diversas academias de dança que agora no final do ano mostram seus espetáculos para as famílias e para o público interessado. Entre os dançarinos e bailarinos na cidade é nítida a diferença entre aqueles que dançam pela arte e aqueles que dançam pelo flash e visibilidade. Proprietários de academia têm essa visão "pop", ou melhor definindo, midiática da dança. Querem aparecer a qualquer custo e acabam banalizando a dança em si. Vamos colocar um aluno no palco a qualquer custo, só para mostrar resultado, mostrar trabalho. Dance! Se mostre! Coloque sua cara a tapa!

Uma apresentação pode ser uma experiência frustrante se não tiver um trabalho até psicológico por detrás. Simplesmente exigir que o aluno suba no palco e dance pode acabar com o conceito de dança e até traumatizá-lo, deixá-lo ainda mais tímido do que já é. Estar no palco é um momento único. É encarnar um personagem, transformar-se. Nas cochias ficam as Amandas, Albinéias e Carols e se transformam nas personagens a que se propuseram interpretar. Sim, dança é interpretação. Já disse isso, é interpretação da música e de personagens.

Apesar de não ser especialista no assunto - o que escrevo aqui são minhas opiniões, baseadas no que ouço, leio e vejo -, acho que o ensino de dança com as crianças, pelo menos em Limeira, é muito baseado na estética, no estrelismo. Há um conceito entre estudiosos na área de dança educação. O ensinar da dança leva em conta fatores que vão além da simples auto-estima e do ego das crianças e adolescentes. A dança desenvolve a coordenação motora, ajuda na desinibição e trabalha sentidos básicos como direita e esquerda, rápido e lento, entre outros. E vou até além. Principalmente as crianças criam um vínculo afetivo com os professores muito grande. É nessa hora que os professores podem aproveitar para ajudar essas crianças além das aulas. Perceber dificuldades motoras ou psicológicas e manter um contato com os pais. Isso tudo vai além dos exercícios de alongamento, aquecimento, na barra, no centro, diagonais e coreografias.

Dança não é ego, é arte, é educação!

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