segunda-feira, 28 de abril de 2014

Você sabe como se calcula a inflação?




Inflação não tem segredo: é a variação dos preços. Isso todo mundo sabe e saem notícias na imprensa a todo momento sobre os resultados dos índices de inflação.
A quantidade de índices que medem as variações de preços no Brasil é enorme. Só jogar no Google pra ver. As mais conhecidas são as feitas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). O índice “oficial” do governo é o da IBGE que faz o Índice Nacional de Preços ao Consumidor, o INPC, e o Índice de Preços ao Consumidor  Amplo, o IPCA. A FGV faz o Índice Geral de Preços, o IGP, e a Fipe o Índice de Preços ao Consumidor, o IPC. Existem algumas variações desses índices, tipo o IPCA-15, o IGP-M, IGP-10, IGP-DI e por ai vai... Como o IPCA e o INPC são de um órgão público (IBGE) e considerado oficial, vou tentar falar um pouco mais sobre ele.
Cada índice tem uma "população-objetivo" diferente:
* INPC – famílias com rendimento familiar entre 1 e 5 salários mínimos.  Ou seja, famílias com rendimento familiar entre R$ 724 e R$ 3620. O critério aqui é para ter as “variações nos grupos mais sensíveis”, segundo o IBGE. Essas famílias consomem todo seu rendimento e têm um nível de renda baixo.
* IPCA – famílias com rendimento entre 1 e 40 salários mínimos. Famílias com rendimento familiar entre 724 e R$ 28.960,00.
Para definir essa população objetivo foi  feita a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) entre julho de 2008 e junho de 2009 em 11 áreas no Brasil. Esta pesquisa também definiu qual é a cesta de consumo de cada família, ou seja, o que elas consomem. O IBGE obteve informações de quanto cada família gasta com quais itens dessa sua cesta. A partir daí agrupou os produtos e serviços consumidos em nove grupos, os itens que vou apresentar aqui fazem parte da tabela do IPCA, divulgada pelo IBGE, será possível ver com mais detalhes nas tabelas mais abaixo: 
  • Alimentação e bebida (batata inglesa, tomate, cafezinho, leite longa-vida, ovo de galinha, cebola, carnes, macarrão, entre outros)
  • Habitação (aluguel, artigos de limpeza, energia elétrica residencial)
  • Artigos de Residência (mobiliário, cama, mesa e banho, tv, som e informática)
  • Vestuário (calçados, roupas, acessórios, tecidos e armarinhos)
  • Transportes (combustíveis, transporte público e veículo próprio)
  • Saúde e Cuidados pessoais (remédios, óculos, médicos, dentistas, plano de saúde e higiene pessoal)
  • Despesas Pessoais (recreação, fumo, fotografia e filmagem)
  • Educação (cursos, leituras, papelaria)
  • Comunicação (tarifas de ligações)
Para obter os preços e calcular os índices, foi feita a Pesquisa de Locais de Compra em 1988 para identificar todos os locais usados por essas famílias para comprar os produtos ou contratar os serviços daquela cesta de produtos. Também fizeram um Cadastro de Domicílios Alugados para obter os valores dos aluguéis. A pesquisa dos preços é feita entre os dias 1º e 30 de cada mês. Dentro desse mês são definidos quatro períodos e para cada um deles um conjunto predeterminado e fixo de estabelecimentos.
O IBGE explica que a partir da coleta há alguns processos de críticas dos valores levantados e etc, mas o que interessa saber é que todo esse processo é feito em algumas regiões metropolitanas.

Mapa da cobertura do SNIPC/IBGE

 Fonte: IBGE - Para compreender o INPC: um texto simplificado (2012)


Cada um desses Estados tem um peso específico para o calculo do INPC. Esse peso é estipulado pela população urbana residente de cada estado e parte das populações não cobertas pelo Sistema Nacional de Índice de Preços ao Consumidor (SNIPC) pertencentes à mesma grande região. A partir daí é feita uma média ponderada índices regionais e se chega ao índice nacional.

Resultados de março

Agora em Março o IBGE divulgou os últimos resultados do IPCA e do INPC. A pesquisa desse índice foi feita em fevereiro. A inflação de março fechou em 0,92%, isso significa que no geral os preços subiram esse número.  No acumulado deste ano os preços já subiram 1,65%, mas em um ano, desde março do ano passado, essa variação foi de 6,21%.
Ok, números, números e mais números.  Isso não é novidade para ninguém. O objetivo desse vídeo na verdade era pesquisar sobre como é feita a pesquisa pelo IBGE, mas não vou deixar de falar sobre os grupos de produtos e serviços que mostrei agora há pouco e como os preços variaram neles.
Como sempre aparece na imprensa, há um vilão. Antes era o tomate, dessa vez foi a batata inglesa. Em março a batata subiu 35,05%! Em fevereiro o preço tinha até caído 0,9%, mas março batata frita nem pensar...
O tomate continua subindo. Em março aumentou 32,85%! Em fevereiro o aumento tinha sido de 10,70%. Portanto, batata com ketchup não dá! Molho de tomate para o macarrão, também não.
Por falar em macarrão, o preço dele aumentou 0,72%. Uma variação pequena até, então dá para fazer um macarrão ao alho e óleo, mas o óleo de soja aumentou 3,23%. Talvez um molho branco então, creme de leite, queijo, cebola e companhia ainda dá pra comprar.
A batata inglesa e o tomate foram os alimentos que mais ficaram caros junto do feijão-carioca que aumentou 11,81%.

Variação dos principais itens do IPCA (mar/2014)


Fonte: Indicadores IBGE: INPC e IPCA de março de 2014

O curioso é ver o acumulado em 12 meses desses preços. Em um ano a batata variou 6,05%, o tomate -6,07% e o feijão -30,97%, ou seja, os dois primeiros estão quase com o mesmo preço de um ano atrás e o feijão está até mais barato... Agora o mais interessante dos resultados de março é o grupo de Artigos de Residência. No geral eles só subiram 0,38% em relação a fevereiro. Mas quando vamos lá na tabela dos itens,  TV e Som tiveram seus preços reduzidos em 0,34%. Bem que poderia ser mais né... mas tá valendo.

Minha opinião e um pouco de "economês"

Vale dizer que o relatório do IBGE aponta que as variações grandes nos preços dos alimentos se deu por conta da seca que atingiu as lavoiras de alguns estados do Brasil. O clima este ano estava realmente pesado. Um calor enorme aqui, chuvas enormes ali... gente passando frio no sul e outras torrando no sol do Nordeste.  Contra o clima não tem o que fazer, mas isso não importa muito para a imprensa e para a política né. Em alguns artigos que saíram num jornal de grande circulação o autor só faltou apontar o dedo para a presidente e dizer que ela é culpada por não chover no nordeste!
O tema da inflação também desperta outro ponto no noticiário: sobre o teto da meta de inflação. Em 1999 o Brasil adotou um Regime Monetário de Metas de Inflação. Ou seja, a política econômica estabeleceu uma meta para a inflação para manter a estabilidade dos preços. A meta que temos hoje é de uma inflação de 4,5%, mas há bandas de 2% para mais ou para menos. Isso significa que a política do governo pode trabalhar com inflações entre 2,5% e 6,5%. O acumulado de 12 meses já está em 6,21% e há previsões de que o governo feche este ano acima dessa meta de 6,5%.
O problema que eu vejo  e que eu aprendi é que a inflação e a má condução dela atrapalha as empresas e investidores, o que chamamos de agentes econômicos, de terem uma visão clara do futuro e estipularem estratégias para sua produção. Esses agentes trabalham com expectativas. Eles têm expectativas de que a inflação continue subindo ou comece a cair. Essas expectativas estão muitas vezes  nos jornais... há algumas pesquisas que mostram o que os empresários estão esperando da inflação e de outras variáveis para o futuro. Em ano eleitoral então, jornal contra o governo adora levantar essa bandeira e chega a ser entediante a forma como eles noticiam as variações de preços. Ninguém dá soluções ou reflete sobre o tema, só sabem criticar, critica e criticar. Claro, por que vão fazer diferente se não é o partido que eles apoiam que está no poder?
Enfim, inflação descontrolada pode ser realmente um problema para empresários. Além disso, ela corrói o nosso poder de compra. Esse termo também está sempre nos jornais. Ele significa que podemos comprar menos com nossos salários a medida que a inflação aumenta. Se o nosso salário é de R$ 1000 hoje, podemos gastar R$ 1000 em produtos e serviços. Se em dez anos a inflação é de 10%, isso significa que perdemos R$ 100 e nosso poder de compra passou para R$ 900. Os salários são reajustados apenas anualmente, enquanto o reajuste não vem, vamos perdendo poder de compra até que na data base a correção é feita, mas mesmo assim os preços do próximo mês já vão ter variado. Isso é um problema... por isso, também, que seria ideal manter a inflação baixa.

Fontes:

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