quarta-feira, 18 de junho de 2014

Série experiências acadêmicas. Texto 3: Graduação em Economia na Unicamp

Eu sou muito suspeito para falar desse curso por que eu simplesmente AMO, apesar de DETESTAR algumas partes (nada é perfeito). Quando terminei a graduação em Jornalismo e fui efetivado em um jornal diário em Limeira comecei a ter mais contato com matérias sobre economia. Até o final da primeira graduação nunca tinha pensado em fazer outra, mas ideia surgiu quando tentei fazer o processo seletivo para mestrado no Instituto de Economia e não passei (claro). Isso foi em 2009 e neste ano resolvi traçar um caminho diferente: entrar na graduação em Economia, enquanto estivesse nela fazer um mestrado em Jornalismo e quando concluísse os dois cursar o doutorado em Economia. Estou na metade desse caminho...

Bom... sobre o curso agora. Eu sempre costumo parafrasear uma economista chamada Maria Conceição Tavares: “Economia é matemática, história e política” e quem quer ganhar dinheiro no mercado financeiro vá cursar estatística ou matemática. Foi mais ou menos isso que ela disse e hoje eu percebo que ela tem toda a razão (infelizmente).

Minha birra: exatas

Eu, particularmente, detesto a área de exatas do meu curso. Somos obrigados a fazer disciplinas de cálculo e estatística para chegar em econometria. O problema não é cursar essas disciplinas, na minha visão o ruim está na forma como algumas delas são ministradas e avaliadas. Há professores que sequer se importam se o aluno está entendendo ou não e correm com a matéria como se quisessem se ver livres daquela tortura todas as aulas. Outros professores sequer tem a simpatia necessária para lidar com alunos de graduação. Esses acham que o aluno, por passar no vestibular, está 100% pronto e com uma memória ímpar para lembrar todas as fórmulas e macetes necessários para resolver uma conta em meio minuto.

O ruim disso tudo é que algumas avaliações focam mais nesses macetes: “relembre como resolver essa conta usando log”, ou seno e cosseno ou então, “seja capaz de olhar para a fórmula e sacar do fundo da sua memória que toda ela pode ser dividida por um algoritmo e a solução fica muito mais fácil”. Isso é RIDÍCULO. Não se avalia se o aluno entendeu a matéria e é capaz de mostrar esse conteúdo com números e fórmulas simples. Os professores parece que fazem questão de complicar ao máximo para ver se o aluno é esperto ou não (eu não sou, por isso só me dou mal). Ai vem eles dizendo: façam exercício, o treino ajuda. Ok, eu até faço os exercícios, mas ai não me sobra tempo para ler as 400 páginas das outras matérias. E ai? Ai que é cada um por si e Deus por todos!

Minha paixão: humanas

Já a parte de humanas dificilmente tenho reclamações a fazer. As leituras e discussões propostas pelos professores de História e política são ótimas. Elas abrem a cabeça para te fazer entender não só o porque que nossa economia é como é, mas também ajuda olhar para como a sociedade se constrói a partir das relações econômicas e das heranças colonizadoras, no caso do Brasil. O problema disso é que eu acho que o nível de criticismo aumenta, e muito. Ver alguns posts no facebook, por exemplo, podem ser torturantes. Afinal, não é apenas criticar político X ou Y, a política X ou Y adotada aqui ou acola... a história que existe por detrás disso tudo é tão importante quanto a ação tomada no presente. O interessante, contudo, é quando você tenta argumentar com alguma pessoa extremista: você quebra todos os argumentos dela usando a história e ela foge pela tangente.

Agora sobre esse ponto acho que dá para afirmar que a visão da Unicamp é quase totalmente de esquerda. Isso daria um post enorme que eu acho que não estou sequer preparado para defender e explicar, mas não basta apenas cortar gastos, salários e aumentar os juros. Medidas que parecem tão simples podem afetar tanto o desenvolvimento econômico e social de um país e a ala da direita sequer parece parar para pensar na sociedade antes de bradar para todos os cantos suas teorias e soluções para o mundo.

Uma decepção: alguns professores

Já teci alguns comentários sobre os professores de exatas. Uma ressalva: não são todos de exatas que são assim. Tive uma professora que foi excelente tanto na didática quanto nas avaliações. Foi justa. Contudo, não é regra. Como também não é regra que só professores de exatas são ruins, existe professor de humanas PÉSSIMO também. Já ouvi esse argumento várias vezes e tendo a aceita-lo cada dia mais: há professores que se interessam apenas por suas pesquisas e pouco se importam com as aulas na graduação. A pesquisa acadêmica é vista por eles como o que realmente lhes dá status e reconhecimento nesse meio. Por conta disso alguns professores até se recusam em assumir disciplinas na graduação, o que é lamentável.

Em citar nomes, alguns exemplos são professores que não se preocupam com o conteúdo que estão passando para os alunos, simplesmente usam a pesquisa que desenvolvem para ficar discutindo os autores em sala. Ou então ministram algumas aulas com total desleixo e sem a preocupação se o aluno vai aprender o proposto pela disciplina ou não. Cheguei a presenciar um professor no começo da graduação que sequer sabia a matéria que estava ensinando! Quando ele era questionado sobre a resolução do exercício, não respondia e ainda ficava bravo por receber os questionamentos. Mas... nada é perfeito, porém, eu acredito fielmente que o problema disso é a estabilidade que os professores têm. Sem essa estabilidade e com a possibilidade de serem demitidos a qualquer momento por não cumprirem com seus deveres, acho que a qualidade aumentaria muito.

Outra decepção: sem solução para esses professores

Professor ruim exite aqui, ali e lá. Lá você pode reclamar e pode ser que o professor seja até demitido por não estar cumprindo com o seu papel de professor. Ali o aluno pode reclamar e ser simplesmente ignorado porque há um nível de coleguismo entre os professores tão grande que pouco importa a visão da ralé acadêmica. Aqui, no Instituto de Economia, existe o canal de reclamações dos professores (uma avaliação semestral), ela é levada em consideração pela Coordenação do curso mas, mesmo após conversa com o professor, essa coordenação fica de mãos atadas por que não têm nenhum mecanismo legal ao qual possa recorrer para obrigar que o professor mude sua atitude. Dentro da sala de aula o professor é soberano (e alguns acreditam que ditador também), portanto eles têm plena autonomia. A autonomia e soberania, contudo, é tão grande que a maior parte dos alunos tem medo (isso mesmo, medo) de reclamar de algum professor e ser prejudicado por ele nas avaliações. PÉSSIMO.

Conclusão

Professor e profissional ruim tem em todos os lugares, mas mesmo assim meu gosto pela Economia da Unicamp não diminui. A única coisa que tiro de bom desses pontos negativos é a experiência que eu não quero segui quando (e se) eu for um desses professores.



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