O primeiro é o apartidarismo/anti-partidarismo que se é pintado das manifestações. Um sociólogo bem intencionado vai saber falar melhor que eu, mas é preciso ver o que está por detrás disso. Negar a representatividade de todos os partidos, expulsar os partidos que são legitimamente a favor das mesmas causas que estão nas ruas, e negar todo e qualquer militante simpático à causa da juventude tem um valor em si que pode ser preocupante. Pode ser que PT e PSDB não represente mais a população, mas existem partidos menores que têm uma luta perfeitamente parecida com a de muitas pessoas que foram para as ruas ontem. E se não se identificam com eles e esses manifestantes ainda acreditam no seu partido, é hora de o jovem ir até esse partido e questionar a visão de seus dirigentes para adequar as visões de ambos os lados. Qual o perigo de continuar se propagando que o povo é contra partidos? Fascismo, nacionalismo...? (para pensar)
O outro é o silenciamento da mídia em relação aos vândalos. A violência não é o melhor caminho, mas quem pode assegurar que os políticos vão realmente mudar alguma coisa com a onda de protestos e não vão cruzar os braços e esperar os vários jovens que não usam ônibus entrar em férias e irem passar uma temporada na Disney e dispersar o movimento? O que está por detrás de uma pedra jogada contra a prefeitura e contra a polícia? Não estou defendendo o uso da força, mas há de se considerar que grandes revoluções da história, que efetivamente mudaram o rumo daquelas sociedades foi sim pelo uso da violência (vide as cabeças cortadas na França, por exemplo, os tempos são outros, mas será que o povo também é?).
Portanto, esta é uma hora de o jornalismo usar de seu conceito básico que é a polifonia de vozes: é preciso ouvir TODOS os lados, inclusive dos vândalos e dos criminosos, não só da polícia e dos manifestantes pacíficos. Que sentimento de revolta se apodera de um jovem que começa a depredar um patrimônio público ou privado? O grupo tratado por minoria são puramente vândalos ou é uma veia mais radical dos manifestantes que não usam cartazes, mas usam pedras para se manifestar?
É quase certo que os barões da imprensa de Limeira que estão mais preocupados com a publicidade e o lucro de seus jornais que com uma discussão legítima da sociedade E salário digno para seus jornalistas - salário este sem distinções baseadas em preferências pessoais acima da meritocracia - não apoiarão dar voz aos "marginais". Mas qual será, portanto, o papel de você jornalista que tem um dever com seu leitor e não com seu salário? Você passou pela cadeira do ensino superior e ouviu discursos da grande mídia que manipula a todo momento a profissão em prol da objetividade, mas também ouviu várias vezes que era preciso ouvir todos os lados envolvidos no fato. O que se está passando e repassando para toda a população não são todos os lados, é apenas um lado. Não vale a pena refletir sobre isso?
PS: espero que antes de responderem este post me acusando de defender a violência vocês parem para refletir o que estão fazendo com o poder da comunicação que lhes é dado quando uma página em branco está na tela de seus computadores e quando uma câmera é ligada no estúdio. Posso não ser especialista em nada, mas se eu fizer um ou dois pensarem um pouco sobre a profissão e o que estão fazendo dela, fico feliz.
PS2: quando mandei esta carta aos jornalistas que conheço não segui o protocolo de colocar todos os e-mails em cópia oculta que é justamente para que os jornalistas lá elencados olhem para seus pares e, pelo menos pelo princípio da concorrência, partam para uma abordagem diferenciada.
2 comentários:
Caro Alex
Você sempre provocativo né rs rs rs? É, nem todos gostam de ser provocados, como você sentiu na pele em sua carreira profissional, ainda que seja jovem.
Sobre a primeira questão, recomendo ler:
http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2013/06/21/quem-nao-gosta-de-partido-e-ditadura-hora-de-escolher-ou-dar-as-maos-aos-skinheads-neonazistas-ou-abracar-a-tolerancia-e-a-democracia/
Sobre a segunda questão, menciono um escrito meu (no qual, se não defendo a destruição porque não acho que deva ser o instrumento ideal, não deixo de reconhecer que não é "mantendo a ordem" que se fizeram grandes mudanças ao longo da história):
http://www.rodrigopiscitelli2.blogspot.com.br/2013/06/os-ventos-da-primavera-sopram-por-aqui.html
Um abraço,
Rodrigo Piscitelli
PS: estou fora da mídia, mas não parei de pensar - e de escrever (www.rodrigopiscitelli2.blogspot.com).
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