quinta-feira, 20 de junho de 2013

Questionamentos e formação de opinião...

Cheguei em casa depois de participar da manifestação em Campinas nesta quinta-feira, dia 20 de junho, e comecei a acompanhar pelo Facebook algumas manifestações. Dessas leituras comecei a fazer meus questionamentos sobre o que vi e senti para formar uma opinião sobre tudo isso.

- Apartidarismo / anti-partidos
Fiquei me questionando o lance das bandeiras e do fato de o povo ser contra as bandeiras a partir de uma situação que presenciei ao pessoas com bandeiras do PSTU serem vaiadas E apoiadas/defendidos num bloco da manifestação. Vi os compartilhamentos de alguns textos que faziam referência ao fascismo entre outros assuntos... comecei a conversar com um doutorando que conheço do Instituto de Economia sobre a questão das bandeiras.

O argumento dele, que me convenceu por hora, foi que não é tão saudável esse posicionamento contra as bandeiras/presença dos partidos. Segundo ele,o PSTU, por exemplo, vem brigando a favor tarifa zero e outras causas que apareceram na manifestação de hoje há muito tempo. 

E parece mesmo contraditório o fato de eu levantar um cartaz, ver outra pessoa com um cartaz que dizia "Dilma vagabunda" e não brigar com por discordar da opinião dele e mandar ele rasgar/esconder o cartaz, mas não deixar um partido como o citado levar sua bandeira que representa opiniões parecidas com as que estavam lá.

No fundo, é viável não permitir que um partido realmente de esquerda participe dessa manifestação? O corpo do protesto tem o direito de dizer quem vai ou quem não vai pra rua?

- Fascismo
O mesmo aconteceu com a palavra fascismo. Várias pessoas falaram que a situação estava rumando para uma situação de fascismo e que "não queriam mais brincar". O sentido era de um sentimento contra partidos de esquerda, um direitismo autoritário que nega a existência de opiniões contrárias ao sistema. Muitas pessoas estavam ressaltando essa situação porque o próprio povo está negando a opinião/participação dos partidos de esquerda nesse protesto.

Vi no noticiário, por exemplo, que o PT havia mobilizado militantes para participar das manifestações; o mesmo fez a CUT e nos dois casos os militantes não foram bem recebidos e foram "rechaçados", segundo a jornalista, da manifestação.

Volta a pergunta: militantes do PT participando é um oportunismo ou uma simpatia às reivindicações? O mesmo com a CUT: manifestação pela classe trabalhadora se aliando à esse movimento do passe livre é útil ou a entidade, em si, está aproveitando a visibilidade?

Violência/depredação da prefeitura e cenário de guerra
Enquanto ia embora do protesto com os amigos, criticamos o exagero da rádio CBN Campinas sobre a caracterização da situação como um cenário de guerra no centro. Coloquei essa crítica no meu face, e um colega da graduação só comentou "Mas tava". Chamei ele pra conversar e ele me disse que realmente o cenário na região da prefeitura de Campinas estava bem complicado.

O motivo disso foi que "um grupo bom" (no sentido de grupo grande) começou a atirar pedras na prefeitura e a partir disso a política revidou. Chegou um momento em que a tropa de choque não foi suficiente e precisou até se usar a cavalaria.

OK, houve confronto. Ai vem a pergunta: vale a violência? Esse colega me fez pensar quando ele questionou o que as pessoas que começaram a depredar a prefeitura devem passar para terem um sentimento como esse contra o Executivo. É o que estava conversando com amigos enquanto caminhávamos pelas ruas de Campinas: até que ponto a violência é/não é necessária?

Esse colega confirmou que várias lojas foram saqueadas. E saquear/roubar lojas, é válido? Depende do tipo da loja: sapataria do tio Jonas ou o Mac Donalds?

Ele ainda relatou que quando um grupo começou a atirar pedras houve reação contrária dos outros manifestantes: 

"mas a galera do 'classe média sofre' foi lá e espancou a galera das pedras. fiquei puto"

Mas e ai? Esse pessoal que entrou em confronto, são manifestantes ou vândalos? Eu ainda mantenho a opinião de que a violência tem seu papel nesse contexto todo. É, de certa forma, uma maneira efetiva de se fazer sentir. Uma forma que faz com que os políticos não fiquem com os braços cruzados esperando o movimento perder força.

Vendo o noticiário podemos perceber que teve confrontos em vários lugares e sempre envolvendo prédios das instituições públicas. No meu ver é uma revolta justamente contra essas instituições. A mídia, porém, até então tem tratado isso como o vandalismo de um grupo pequeno e isolado. E aí? Um grupo pequeno e isolado de vândalos, de manifestantes radicais ou de manifestantes corajosos e tão revoltados com a situação política a ponto de usar pedras?

Vacância da presidência / golpe político

Vem a calhar uma preocupação com a notícia abaixo:


Vi mais de uma pessoa, inclusive um dos comentários da notícia, que há um medo de um golpe a partir da abertura que essa regulamentação dá. Será? Será que é um dos caminhos de todos estes protestos?

- O que se protesta?

Pra mim o passe livre ficou claro ontem. Várias vezes gritamos pelo passe livre, contra o lucro das empresas de ônibus, contra essa máfia dos transportes. No entanto, apareceram cartazes com outras reivindicações; cartazes com frases úteis e inúteis. E até alguns gritos contra Feliciano apareceram.

Mas, não é só isso. Existe, na minha visão, a pauta secundária, ou a próxima pauta que engloba vários outros pontos. Educação, saúde, gastos com a copa, corrupção, máfia, interesses capitalistas...

Vejam o vídeo do Anonymous: http://www.youtube.com/watch?v=v5iSn76I2xs&feature=youtu.be Eu particularmente não senti nenhuma das cobranças desse vídeo. Onde elas estavam? 

Já aqui em Campinas, os motivos pareceram coerentes e giram em torno do transporte de acordo com a carta da organização do movimento:

"O trajeto escolhido por maioria de votos foi (Glicério-> Campos Salles -> Senador -> terminal central -> Moraes Salles -> Irmã Serafina -> Anchieta),quando chegar na prefeitura a gente decide em reunião se segue para norte-sul ou termina o ato.
Nossa pauta principal, portanto, diante da revogação do aumento de R$ 0,30 que se deu no dia 3 de dezembro de 2012, sofreu alterações.
- Primeiro ponto: R$ 3,00 é muito dinheiro! Em São Paulo a tarifa está a R$ 3,00 e possui um transporte muito mais eficiente do que em Campinas. Nós já lutávamos em fevereiro de 2012 contra os R$ 3,00.
- Segundo ponto: Jonas reduziu os R$ 0,30 centavos e quer jogar a conta em cima de nós (população). Ao reduzir os R$ 0,30 não prejudica em nada uma empresa de lucros altíssimos, que explora a população diariamente. Mas, ainda assim, afirma que vai aumentar o subsídio que repassa às empresas. NÓS NÃO DEVEMOS PAGAR A CONTA! OS LUCROS EXCESSIVOS DA EMPRESA.
- Terceiro: CPI ou outra forma de investigação dos gastos com transporte público, em especial às super faturações. Assim como a população requer transparência nos gastos com transporte.
- Quarto: Lutamos aqui também pela melhoria nos serviços de transporte público e valorização dos profissionais da categoria que são explorados e pressionados o tempo todo. O FIM DA DUPLA FUNÇÃO (Motorista e cobrador).
- Quinto: É objeto da pauta a extensão do benefício de 60% à TODOS os estudantes."


O grupo era tão grande que esses pontos ficaram dispersos. Até que ponto, então, muita gente não está lá na rua pra tirar foto delas mesmas e colocar no face? Ou seja, quem sabia de todos estes pontos?

No fim de todos estes pontos fica a necessidade de reflexão. Existe opiniões particulares, mas para fazer parte de um movimento como este é preciso parar e entender o que está acontecendo. Como a mídia tem tratado tudo isso, como os partidos políticos estão lidando com o assunto... entre outras perguntas devem ser feitas e pensadas.

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