quarta-feira, 15 de junho de 2011

Uma vacina anti-rábica muito eficiente


Sem que ninguém saiba, a maior parte dos brasileiros atualmente recebem doses extras de vacina. A sociedade conseguiu incluir na carteira de vacinação um antídoto “anti-raiva política” e a campanha parece ter dado certo em quase todos os municípios brasileiros. Prova disso é a indiferença de grande parte desse povo verde amarelo que nunca mais pintou a cara para ir às ruas reclamarem por um país mais justo e sem corrupção.

O site Lide Brasil trouxe hoje uma notícia falando sobre suspeitas de irregularidade na organização do campeonato de balonismo em Rio Claro. A notícia “Jornal revela pagamento de Balonismo antes do evento” mostra a denúncia de um jornal da cidade quanto ao fato de a prefeitura do município ter antecipado pagamentos do evento. Haja sujeira ai ou não, o que vale ser mais investigado, provoca sem dúvidas um sentimento de raiva, essa é a palavra, afinal, uma festa da qual moradores da cidade se orgulham de sediar servir de instrumento para desvios de verba é no mínimo revoltante.

Mas nessa história, como fica a população como um todo? Tenho a impressão que muita gente desistiu de reclamar. Vereadores e prefeitos que foram eleitos pelo povo para representá-los e fazer obras para o povo parecem se colocar tão distantes de seus eleitores que muitas vezes as pessoas preferem só pensar por alguns milésimos de segundo como é péssimo ter políticos ruins e voltar a ver o próximo capítulo da novela a levar suas reclamações à frente e pedir reais investigações.

Este ano comecei a cursar a graduação de economia da Unicamp e no curso de Introdução à Economia tivemos como livro-base a publicação do economista Wilson Cano (de título homônimo ao da disciplina). No capítulo que trata de governo há uma passagem que diz que pelo menos em tese, o objetivo do Estado é trabalhar pelo bem estar da população. Apesar da afirmação ser óbvia, é impossível passar o olhos por afirmações similares a estas e deixar de se indignar especialmente quando ao mesmo tempo que temos como tarefa resenhar as palavras de Cano vemos no noticiário nacional o enriquecimento do ex-ministro Antonio Palocci; no noticiário de Campinas o escândalo envolvendo o alto escalão da Prefeitura (caso que envolve a Sanasa e até a primeira-dama do município); e agora no site Lide Brasil a suposta denúncia de pagamentos ilegais e talvez um superfaturamento da festa.

Até aí não passa de uma indignação de um jovem jornalista e estudante de economia e também de outros jornalistas que não deixaram os casos citados passarem em branco. Mas e meus vizinhos, o que pensam sobre isso? E os outros estudantes de universidades e faculdades públicas e privadas? O fato de eu sentir indignação me sinto como o protagonista da fábula infantil “O patinho feio”, um estranho no ninho. Acho muito difícil vermos mais uma vez toda aquela indignação e engajamento político dos jovens de 1968, relatado por Zuenir Ventura no livro “1968: o ano que não terminou”. Cada vez parece mais impossível a população se revoltar com um aumento salarial estrondoso dos deputados e senadores no começo do ano e ir às ruas, numa greve geral contra esse abuso com nossos bolsos. Ao invés disso a população reelege aquele político que sofreu impeachmant!

Confesso que me sinto valorizado por estudar na Unicamp e saber que lá tem alunos que valorizam o dinheiro público empregado na nossa educação superior. Ao mesmo tempo não acredito como é possível existir pessoas que não têm o mesmo olhar para o dinheiro que faz falta a muitas famílias no final do mês para poderem investir na compra de um livro, na compra de mais comida e até na compra da sua casa própria.

Gostaria de ser o analista de alguns políticos para saber o que eles realmente pensam da população. O que significa a palavra eleitores para eles? Melhor ainda, gostaria de saber porque os políticos não tornam a máquina pública cada vez mais transparente e menos burocrática? Nessas horas coloco meu instinto de jornalista acima de qualquer outro e lembro como é dificil conseguir investigar as contas públicas sem nenhum tipo de barreira legal (ou ilegal).

Enquanto isso na casa do seu vizinho a vacina anti-raiva política está cumprindo com seu papel e deixando-os sentados no sofá acompanhando o drama das 9...

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