quarta-feira, 9 de agosto de 2017

A difícil procura por emprego

Encontrar um emprego atualmente não está nada fácil. Embora os dados divulgados pelo governo federal deem uma esperança de que “logo será minha vez”, a situação não parece ser tão otimista assim.

Desconfio, quase com certeza, de que o real problema está em algumas áreas específicas. A área de jornalismo parece definhar cada vez mais. Não é a primeira vez que escrevo sobre essa situação, mas a impressão vai se consolidando dia após dia. Uma das evidências que corroboram com essa visão pessimista a respeito das oportunidades de emprego para jornalistas é a quantidade gigantesca e crescente de candidaturas a vagas da área.

Cada vez que uma vaga para “Redator”, “Assessor de Imprensa” ou mesmo para “Jornalista” (embora essa seja uma raridade aparecer), em pouco tempo a concorrência aumenta vertiginosamente. Para não ficar apenas no “achismo”, seguem alguns exemplos:

Em janeiro deste ano, o Conselho Regional de Biologia (CRBio) de São Paulo (1ª Região), divulgou um edital de um concurso público para diversas vagas, entre elas havia uma vaga para jornalista. O salário era de R$ 6.625,21 para uma jornada de trabalho de 40 horas semanais, além dos “benefícios” como vale refeição, vale transporte e plano de saúde. Era apenas uma vaga, como já dito, porém, 477 profissionais se inscreveram no processo. Essa concorrência só perdeu para o cargo de Auxiliar administrativo, que, segundo o edital, o salário era de R$ 3.292,15. Para o CRBio de São Paulo foram abertas duas vagas e 3.126 pessoas se inscreveram no processo.

Ok, nada de novo, afinal, que concurso não é concorrido ultimamente?

Outro exemplo é uma vaga anunciada no site Infojobs para Analista De Comunicação Jr. A empresa, além de não se identificar no anúncio, também não informou salário, tempo da jornada de trabalho e nem a região de São Paulo onde o trabalho seria desenvolvido. Os únicos requisitos eram: Ensino Superior completo, português avançado (sim, português avançado) e inglês intermediário. Os “benefícios”: vale refeição e vale transporte. Segundo as estatísticas do site, 864 profissionais, provavelmente quase todos jornalistas, se inscreveram.

Um terceiro exemplo, este, porém, sem dados numéricos, foi uma vaga para professor de Jornalismo em uma das unidades do Senac de São Paulo. O processo ocorreu em 2016, mas me lembro que, no dia em que fiz uma das provas da seleção, a coordenadora da unidade comentou que eles haviam recebido muitos currículos, mas muitos mesmo! Não me recordo do valor exato, mas era um número astronômico. Isso se deve, principalmente, ao fato da não exigência de pós-graduação nenhuma para assumir a vaga, mas, mesmo se exigisse no mínimo uma especialização, sem dúvida alguma o número seria enorme.


Ok, não está fácil e nem seria necessários três parágrafos para reiterar a alegação, certo? Certíssimo. Contudo, há outros pontos que a situação de “desempregado” revela com muita força: o desrespeito de algumas empresas ou de seus setores de Recursos Humanos e o oportunismo de sites de vagas.

“Não foi dessa vez!”
Sobre o desrespeito, não parece ser necessário apresentar dados. Quem mandou currículo ultimamente deve ter percebido que as respostas são raríssimas – sim, no superlativo mesmo porque escrever “muito raríssimas”, embora verídico, seria redundante. O candidato envia seu CV por meios virtuais e, na maioria das vezes, nunca saberá se a vaga foi preenchida ou não. Em raros (ou raríssimos) casos, algumas empresas se dão ao trabalho de enviar uma resposta pronta e formal com as seguintes palavras: “Não foi dessa vez!”. A vontade é de responder: “Não foi dessa vez e nem será em uma próxima!!!!”, em parte pela frustração de não conseguir a vaga e em parte pelo ódio que o sentido que a frase tem.

“Não foi dessa vez!”, as vezes seguido de “Continue tentando”, é uma afronta ao candidato. Por quê? Por que nos faz sentir que estamos implorando para fazer parte do quadro de funcionários daquela empresa sensacional que colocou nosso e-mail em uma mensagem automática e disparou para sabe-se lá quantos candidatos recusados.

Uma correção: eu disse “faz sentir...”, mas a expressão mais adequada seria “faz perceber”. A realidade é que muitos candidatos estão sim implorando pela oportunidade. Contudo, o sentido de desrespeito continua. Provavelmente poucas são as pessoas que enviam o currículo para uma empresa com um “sonho” de trabalhar naquela companhia. O que acontece, e fica a dica para as empresas, é que o candidato olha a vaga, o salário (quando este é informado, ou seja, quase nunca), verifica se tem afinidade com as funções descritas (quando são) e manda seu currículo. Claro que isso não é regra. Tenho algumas empresas-dos-sonhos, como costumo chamar, nas quais eu adoraria trabalhar. Fico sempre de olho nas vagas que elas abrem e me candidato assim que tenho conhecimento da oportunidade. Contudo, e isso sim é regra, a necessidade de trabalhar é imposta para a grande maioria das pessoas. Logo, se inscrever em diversas vagas ou distribuir currículos como se distribui folders de ótica na avenida Paulista parece ser a regra e não a exceção.

Um breve comentário ainda neste tópico sobre desrespeito: há outra mensagem que as empresas costumam nos enviar: “Seu perfil não se encaixa na vaga”, ou algo parecido. É claro que não se encaixa, afinal, vocês nem sequer dão a oportunidade de o candidato se apresentar e dizer suas competências e habilidades! Claro que isso pode ser reflexo de um currículo mal formulado, contudo, mesmo seguindo todas as dicas possíveis e imagináveis disponíveis na internet sobre “o currículo ideal”, ainda assim a coisa não anda!

A Enganação encarnada em forma de site
Por fim, os sites de vagas. Nós, desempregados, somos bombardeados com propagandas de vagas em sites de empregos. Eu, sinceramente, já perdi a conta de quantos cadastros eu tenho: Vagas.com; Infojobs; Curriculum; Catho; Emprega Brasil; BNE... a lista é grande. De todos, o único que confio é no Vagas e por conta de dois motivos: em meu último emprego, minha chefe disse que pegava os currículos por lá; e as maiores empresas usam o site e redirecionam o candidato para o Vagas quando ele pesquisa por Carreiras ou “Trabalhe conosco” nos sites institucionais delas. O resto parece ser resto.

Já assinei por três meses o Infojobs e a Catho. Não preciso comentar o resultado péssimo da experiência depois de um texto de três laudas. Os preços são altos e muito contraditórios: como é que um desempregado vai pagar um site para tentar conseguir um emprego? Sem renda ele vai usar que dinheiro? Provavelmente o do FGTS de sua última contratação, mas e quem sequer isso tem mais? Esse tipo de serviço me provoca sensações no limiar do ódio indescritíveis. O pior de tudo é: pagar o site não é garantia de consegui uma colocação no mercado de trabalho! Ok, o site não pode fazer milagre, apenas “destacar o seu CV”. Mas eu só paguei para o meu currículo ficar mais para cima de uma pilha virtual? Sim.


Enfim... desabafo feito, a conclusão é: não está fácil, mesmo com notícias sobre a “recuperação do mercado de trabalho” tão difundidas pela grande imprensa.

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