quarta-feira, 19 de abril de 2017

"Há muitos homossexuais muito machistas, misóginos, que não percebem que lutamos contra o mesmo 'gigante' (patriarcado)" - Entrevista com Marcella Rosa, autora do livro "Guia Prático do Faminismo: Como dialogar com um machista"

Roubei, descaradamente, esse giphy do blog da Marcella, sim. Sorry, not sorry.

Marcella Abboud, ou Marcella Rosa, ou Professora, ou talvez ‘fêssora’, é Mulher. Antes de qualquer título acadêmico, ser mulher é o que a define, como a orelha do livro a apresenta ao leitor. “Guia Prático do Feminismo: Como conversar com um machista”, lançado pela Letramento em 2016, é, como ela mesma define, um “pedacinho” de sua luta.

Após se formar em Letras pela Unicamp e chegar até ás salas de aula, Marcella se deparou com a condição de suas alunAs inseridas num mundo machista e preconceituoso. Embora ela mantenha um blog (MarcellaRosa.com), o livro foi um convite de seu editor para expandir o conteúdo virtual para o papel.

O livro cumpre com o que diz: é, ao mesmo tempo, um “Guia prático do Feminismo” e uma orientação de “Como dialogar com um machista”. Para mulheres que se interessem pela luta, Marcella dá inúmeras informações sobre as vertentes do feminismo, dados históricos, estatísticos, fontes de leitura e, o que mais é sensacional no livro, ARGUMENTOS ao construir todo o livro na forma de uma conversa entre a autora e um homem extremamente machista, ignorante e que sempre acha que está certo.

Para homens, o buraco é mais embaixo. Ler este livro é um processo quase de autoflagelação. Não é “auto” porque quem dá vários socos no estômago do leitor homem é a própria Marcella. Diga-se de passagem que são socos extremamente necessários! Ao crescermos em uma sociedade machista e patriarcal, independente da orientação sexual, características e pensamentos dessa sociedade estão enraizados em nós, homens. Ler “Guia prático do feminismo: como dialogar com um machista”, portanto, é reconhecer em quais pensamentos estamos errados e aprender a nos policiar cada vez mais com isso.

A entrevista abaixo foi gentilmente concedida pela Marcella no dia 20 de março e está estruturada em duas partes. A primeira são perguntas sobre o livro e sua elaboração. Na segunda parte, propus questões feitas por um segundo personagem: um gay. Muitas vezes, ao ler, ouvir e estudar sobre o feminismo, me deparei com questões do tipo: “Os gays fazem isso também?”. Como não tenho habilidades para invocar Beauvoir e nem dialogar abertamente com Chimamanda Adiche, aproveitei a simpatia e paciência da Marcella para tirar essas dúvidas. Confira os resultados abaixo.

Alex: Quem é seu interlocutor? Que cara ele tem? Ele é branco, hétero, machista? Essa conversa está num bar, num café, num sofá...? Fiquei curioso para saber qual a cara dele e o ambiente que passou pela sua cabeça enquanto você preparava e escrevia o livro.
Marcella: Eu estou trabalhando especialmente com o homem, cis, branco, hétero, sim. Mas, na verdade, eu também estou falando com as minas que precisam de argumento pra discutir com esses caras e não têm... Acho que imaginei um bar, onde quase sempre as nossas falas são cortadas por um cara tosco e bêbado, achando que é o dono da razão.

A: Esse interlocutor que você criou “excreta” umas falas e umas perguntas "absurdas" (a meu ver). Você já ouviu homens falarem e perguntarem isso para você ou para amigas? Você já teve partes dessas conversas (ou ela na íntegra, sem as citações) no ambiente que você imaginou/usou na produção do livro?
M: SIIIIM! e mais de uma vez, querido. Bem mais.

A: Você escreveu na dedicatória que o livro é um “pedacinho da sua luta”. Como foi a decisão de lutar também por meio de um livro?
M: Na verdade, eu escrevia no blog, né? Para que quem não fosse aluno meu pudesse ler também. Mas aí o Henderson (meu editor) me convidou pra expandir isso num livro.

A: Voltando ao interlocutor e as impressões que seu livro passa dele (o homem branco, hétero, machista e também ignorante quanto à causa e à necessidade do feminismo), dá para entender que esse interlocutor é seu público-alvo. A conversa, as perguntas e, principalmente, as desconstruções parecem ser um processo de ensino. Desde o lançamento, você conseguiu atingir esse público/interlocutor? Teve algum retorno da recepção de um homem com essas características?
M: Como esperado, mais mulheres que homens procuram meu livro. Fico feliz, porque me sinto fortalecendo-as para o embate. Uma coisa massa que aconteceu foi as mulheres comprarem o meu livro para dar de presente para namorados e parceiros. Isso me deixou mega feliz. Tive retorno de amigos meus que disseram se sentir mal ao perceber que fazem muitas das coisas que descrevo sem nem se darem conta disso. Recebi agradecimentos muito bonitos de mulheres que viram nos namorados, pós livro, uma mudança de atitude.

Há algumas questões que me intrigam há algum tempo e por isso vou coloca-las na boca/letras de um “segundo interlocutor”. Ele (que vou representar aqui por G, de Gay mesmo) é homem, gay, 30 anos, que se interessa pela causa, lê sobre o assunto, se acha menos ignorante que o primeiro interlocutor, quer falar sobre o assunto, mas não sabe se pode se chamar de feminista. Sendo assim, vamos às perguntas:

G: Só homem hétero é machista ou os homossexuais também são? Há muita diferença entre eles?
M: Há muitos homossexuais muito machistas, misóginos, que não percebem que lutamos contra o mesmo 'gigante' (patriarcado).

G: Mas eu sou praticamente uma mulher de tão afeminada. Quer dizer, posso dizer isso?
M: Não, porque o feminino é uma socialização. Isto é: você não é uma mulher, mesmo tendo trejeitos. Você, sendo homem cis, não pode ser quase uma mulher. Sofre preconceito porque o patriarcado atribui ao feminino o negativo.

G: O Feminismo Liberal “agrega” o homem à causa feminista naquela campanha #HeForShe. O que há de errado então com o “machista feministinha”?
M: É porque ele se diz feminista mas segue fazendo coisas machistas.

G: Sou feminista, simpático à causa ou há algum outro termo que se adeque a mim (ou ainda: depende da vertente)?
M: Varia com a vertente, eu prefiro "pró feminismo".

G: Ainda sobre esse ponto, a Beauvoir diz que: “Foi Léon Richier o verdadeiro fundador do feminismo, criando em 1869 Les Droits de la femme e organizando o congresso internacional desses direitos em 1878” (p. 183 – da edição da Nova Fronteira de 2009). Se um homem “fundou” o feminismo, por que muita feminista hoje diz que homem não pode ser feminista?
M: Porque trabalhamos com o conceito de lugar de fala e protagonismo do movimento. É como pedir para um hétero falar sobre homofobia, sabe?

G: Na mesma obra, a Beauvoir diz que "Mesmo o homem mais simpático à mulher nunca lhe conhece bem a situação concreta" (p. 24). Ok, empatia existe, mas é impossível conhecer a situação concreta de qualquer outrx. Se um homem não poderia ser “feminista” por questões biológicas (ele não é ela), ou mesmo por questões sociais, de gênero, de privilégios, como algumas feministas alegam, não haveria, portanto, espaço para a transcendência da consciência do homem? Eles nunca poderiam abrir os olhos e, um dia, ver o quanto são e foram machistas e opressores? Não seria esse uma parte do resultado da luta do feminismo?
M: Acho que o fato de eles nunca saberem o que uma mulher de fato passa não impede a possibilidade de mudança, porque a empatia é sempre possível, entender a experiência do outro e, acima de tudo, acreditar no que o outro, que sofre, fala.

G: Voltando à minha viadagem: o que você e como “o feminismo” (ou uma das vertentes dele) enxergam as drags?
M: Varia muito. Eu, que sou interseccional, entendo o movimento que há nas drags como algo artístico. Mas olha: isso é uma briga feia entre as vertentes, as radfem são veementemente contra.

G: Eu, homem (independente da orientação sexual) acho que não devo falar “pelas” mulheres, isso seria tomar a voz delas, mas eu poderia falar “em favor” delas (ressaltar a importância da causa, indicar livros, filmes, notícias para colaborar com a conscientização) ou os dois termos dão na mesma?
M: Pode falar para elas, SE, E SOMENTE SE, elas quiserem, pedirem e não estiverem reivindicando protagonismo.


domingo, 16 de abril de 2017

Primeiro o YouTube, agora as demais redes sociais

Logo após o YouTube ser "atacado" pelo Washington Post, a plataforma do neoliberalismo brasileiro, Estadão, publica hoje um editorial curioso. No artigo "Desafios da notícia na internet" (página 3), o texto começa dizendo:

"Em tempos de intenso debate sobre as “notícias falsas” (fake news) que circulam na internet – discutem-se, por exemplo, seus efeitos políticos ou a responsabilidade das redes sociais por sua difusão –, estudo do Pew Research Center, uma das instituições de maior prestígio nos Estados Unidos, revela dados interessantes sobre as tendências de comportamento no consumo das notícias digitais."

Detalhes: "discutem-se [...] a responsabilidade das redes sociais por sua difusão" e "[...] uma das instituições de maior prestígio dos Estados Unidos". O primeiro trecho revela que a grande mídia está de olho na "responsabilidade" das redes e talvez estejam maquinando alguma estratégia para filtrar as “notícias [consideradas por eles] falsas”. O segundo destaque reforça que a pesquisa usada para o editorial é 100% confiável e que o leitor pode assumir todas as informações ali elencadas como a verdade proveniente de uma empresa com "prestígio" (portanto, que nunca dará uma informação falsa).

A pesquisa, segundo o editorial, é interessante e traz resultados relevantes sobre como as pessoas compartilham notícias e como elas se lembram (ou não) das fontes. Contudo, quem encomendou a pesquisa? Quais foram as pessoas que participaram do estudo? Qual o interesse que há por detrás de um estudo como este? Havia uma hipótese a ser comprovada pelo estudo? Se sim, qual era? Enfim, a pergunta certa é: qual o interesse por detrás disso tudo? Estudos e pesquisas estão sempre suscetíveis tanto à ideologia do pesquisador quanto às intenções que balizam as interpretações. Informar que a empresa tem “prestígio” é dar uma garantia ao leitor e dizer que ele não precisa se preocupar com nenhuma dessas questões elencadas acima. “Só acredite nos resultados, caro leitor!”

Além disso tudo, o texto questiona as notícias falsas, assunto que está em pauta hoje em dia: “Ponto importante da pesquisa foi detectar se os consumidores de notícias digitais tinham consciência da fonte de informação.” Uma questão importante aqui não é apenas considerar a “fonte de informação”, mas sim a intenção da notícia, a ideologia que está implícita no texto. Saber a fonte da informação é crucial para identificar se aquele texto tem ou não “credibilidade”, se foi composto por um profissional que sabe o que está fazendo, etc. Contudo, de que adiantaria, por exemplo, ler e compartilhar a notícia de um jornal que manipula tanto quanto uma notícia falsa? De que adianta compartilhar a notícia de um grande jornal se não fornece argumentos isentos e plurais para que o leitor possa debater em suas redes sociais sobre o que pensam do assunto ao invés de apenas reproduzir o discurso que os veículos de comunicação querem que esse indivíduo reproduza e internalize?

É relevante sim debater a questão das notícias falsas, contudo, quando vamos debater a questão das notícias desses grandes veículos de comunicação? Quando vamos começar a questionar o porquê de uma notícia trazer apenas fatos que corroborem com o perfil positivo ou negativo (já que não existe o meio termo) que o texto quis traçar de um economista liberal ou de um político da oposição? Quando vamos olhar para um jornal e questionar quais são as intenções por detrás das notícias que ele publica? Quantos rabos estão presos e quantos “dogmas” do jornalismo foram negados pelo simples gosto do poder de informar/manipular?

A impressão que esse texto permite é de que o jornal está de olho nas redes sociais. Este foco, contudo, não parece ser democratizar a informação, mas sim controlar o que pode estar se desviando da ideologia que ele prega em suas páginas diárias.


domingo, 2 de abril de 2017

Carta ao passado; De 3 de abril de 2017 para 3 de abril de 2002


Você é gay. Não, não pare de ler, não jogue fora ou não apague se isto um e-mail for. Sei que acreditar em um pedaço de papel, palavras escritas ou digitadas e encontradas ao seu acaso pode ser difícil, mas vá até o fim. Aliás, comece a ir até o final de suas leituras desde já.

Eu sou você. Hoje tenho 30 anos e entre todos os devaneios que a vida trouxe, escrever esta carta foi um deles. Talvez ela chegue em um envelope roxo, talvez por uma falha no espaço e tempo cibernético. De qualquer forma estamos aqui, dialogando. A esperança ainda conclama que seja um diálogo, não apenas um registro equivocado de uma madrugada sem sono. Então acredite, ler e entender o que está aqui fará a diferença.

Por que comecei dizendo que você (eu ou nós) é gay? Porque você sabe que é verdade. Apesar de uma escola nova, você ainda vai enfrentar alguns olhares e comentários sussurrados de pessoas de suas salas. O Ensino Médio será melhor que o Fundamental, mas não será de todo fácil. Você vai tentar se encaixar. Com dois meses de aula isso talvez já esteja acontecendo, afinal, ser aceito é quase uma lei aos 15 anos. Mas saiba de uma coisa, desde já: as leis de sua vida serão feitas por você. Sim, talvez com minha ajuda, talvez sem, mas o mais importante é questionar desde já o modelo de sociedade que você tem na cabeça. O modelo que colocaram nas vendas que tampam seus olhos e não te fazem perceber o mais essencial de sua vida.

Ainda em 2002 você vai tentar sair com meninas. Será em vão. Não vai adiantar ir às domingueiras que te convidarão. Eu contei: serão quase 40 foras, um atrás do outro. Sei que você nunca as culpou, mas elas provavelmente veem o que você reluta em enxergar e aceitar. Você vai colocar uma roupa bonita, vai se juntar a três meninos bonitos e, mesmo que não olhe para eles, vai olhar em vão para elas. Se aceitar sua sexualidade desde já, não vai iludir ninguém e nem namorar com uma garota aos 18 anos. Sim, se você ainda pensa em esconder a verdade, haverá uma esperança, mas muito injusta. Depois de um ano você perceberá que sua vida é uma mentira e algo muito ruim virá de brinde com essa descoberta. Portanto, evite e só se aceite.
Levante a cabeça e faça o que você fez de melhor nestes três anos de Ensino Médio: estudar. Você ainda não sabe, mas seus estudos te destacarão logo no próximo ano. Não será em vão e você tem capacidade. Se aceitar sua sexualidade, deixará sofrimento de lado e poderá se dedicar a um bom futuro, sem ressentimentos e mágoas para mim, aqui em 2017.

Quanto a estudar, nunca duvide que você é capaz. Eu optei por estudar jornalismo. Acho que fiz uma boa escolha, embora não haja muitos empregos para essa área hoje em dia. O jornalismo brasileiro é ruim, é dominado por forças políticas que nada querem para o povo, só do povo. Você entenderá a diferença.

Não deixe de fazer essa escolha. Pode ser que com essa carta algo mude, mas não deixe de se dedicar à palavra, à leitura, à mensagem. Esses serão instrumentos de grande valia no seu futuro. Te darão um prêmio, talvez mais de um. Te levarão para outro país, talvez para outros mais. Te darão força para continuar, talvez para fazer isso por outros também.

Não se afaste de grandes amigos. Nos seus próximos 15 anos muitas pessoas passarão pela sua vida, mas poucos continuarão até o meu presente. Três desses amigos você já conhece. Amigas na verdade e você sabe quem são, não? Talvez não, mas saberá. Uma delas voltará no seu próximo ano. Estudarão juntos mais uma vez. As outras duas só mais próximo de meus dias, mas talvez seja tarde para aproveitar amizades tão verdadeiras. Uma se mudará e a outra precisará muito do suporte de amigos, talvez inclusive do seu, caso esteja presente no momento de maior tristeza dela. Não negue seu ombro, não afaste suas lágrimas. Chorar é coisa de homem sim, até Aquiles chorava, por que você não pode? Ah, não me lembro se você conhece Aquiles com 15 anos, mas trate de conhecer, me ajudará muito!

Sim, faltaram duas amigas. Essas, seu futuro próximo te apresentará. Em um primeiro momento talvez você não goste delas, mas o tempo, aqui trapaceado, te mostrará um grande valor nas duas. Uma delas, inclusive, também precisará do seu ombro. Com ela você esteve presente, mas talvez poderá evitar que o sofrimento exista para quem em duas rodas anda e diz amar. Fica a dica, você saberá identificar. Sobre as duas aqui citadas, vale, contudo, uma ressalva. Eu as conheci, mas talvez você não as conheça, para minha grande infelicidade. Estudei em uma faculdade muito “simples” logo após sair do Ensino Médio. Você não deveria fazer o mesmo, você tem capacidade para mais. Não acredite quando disserem que faculdade pública não é para alunos de escola pública. Tive o grande prazer de conhecer professoras excelentes naquela faculdade, mas na soma final, a balança pendeu para a inércia à qual estudantes do estado estão fadados e estarão cada vez mais: ensino particular de pouca qualidade.

Falando em ensino, provavelmente esta será uma de suas bandeiras. Se olhar para seu passado recente, quase longínquo pra mim, verá uma lousa e várias cores de giz. Verá palavras e contas; desenhos e esboços. Verá que sua única aluna, sua irmã, talvez seja o anúncio de algo que seu futuro te reserva. Sendo justo e sincero, professor hoje não vale nada aos olhos do poder público. Se seguir o caminho do jornalismo, terá oportunidade de conhecer sindicalistas e a luta pela valorização da profissão. Verá quão renegados são aqueles que te inspiraram até seu presente, mas em nada o futuro deles mudará. Talvez mude se esta carta chegar em suas mãos. Não mudará pelas suas, no entanto, mas pelas mãos de outros que cartas enviarão ao passado; que poderão fazer grande diferença para a situação quase deplorável em que estamos hoje em dia.

Por fim, porém mais importante que tudo, nunca se afaste demais de sua família. É tarde para salvar algumas mudanças, que virão para o bem e que em breve acontecerão, mas é cedo para diminuir a distância entre você e sua mãe. Nunca tire a razão dela enquanto adolescente for. Ela só quer uma única coisa: seu bem. Então confie, confie no que ela tem para te dizer, no quanto ela tem para te doar e reconheça. Estou aqui, próximo do aniversário de 60 anos dela, mas deprimido. Gostaria de poupar algumas palavras que foram ditas e alguns atos mal calculados. Gostaria de ter feito uma grande festa para ela em nosso aniversário de 30 anos, afinal, foram 30 anos que ela é mãe. Mas não pude. Não pude em nossos 30 anos e não pude nos 60 anos dela. Talvez presentes não sejam nada além de mercadorias, mas você perceberá que o orgulho é tudo. O sorriso e o abraço de comemoração é, na verdade, mais que tudo. E hoje você está longe. Está tão distante quanto poderia e não acredita que ela pode ser seu porto seguro e te amparar nos momentos extremamente difíceis que seu futuro te aguarda, caso tudo ocorra como ocorreu. Eu estou longe. Com orgulho, talvez, para longe dela eu fui. Orgulho para ela, orgulho para nós. Mas longe é a palavra de maior poder, quase destrutivo, para quem ama de verdade, para quem sente saudade, para quem gostaria de mandar uma carta para o passado e dizer: não se afaste, não a decepcione, não deixe de confiar e, principalmente, de amar.