segunda-feira, 18 de março de 2013

Descontrações durante a pesquisa

Hoje dei um primeiro passo na minha pesquisa de campo do mestrado. Para fazer a análise de como as revistas Veja, IstoÉ, Época e Carta Capital noticiaram as privatizações durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), terei que "fichar" todas as revistas do período de 1995 a 2003. Um trabalho braçal que já percebi que vai ser cansativo.

Apesar disso, acredito que algumas notícias do passado, além de trazerem a tona algumas pautas interessantes, também são bem engraçadas hoje em dia. Exemplo disso é essa nota de tecnologia publicada na Carta Capital de 16 de outubro de 1996: "roller mouse"!


Pelo menos vou dar risada enquanto caço notícias...

sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia internacional da hipocrisia midiática



O dia da mulher é o dia da hipocrisia da grande massa. Um dia conveniente para a política e cheio de pautas na mídia. Dia fácil para encher os programas de televisão com uma valorização exacerbada que é feita apenas um dia do ano e amanhã volta tudo ao normal.

Que mulher deve receber os parabéns ou um desejo sincero de felicidade hoje? Aquela mulher que pega uma bandeira da independência, mas chegou até esse falso topo dentro de uma família muito bem estruturada financeiramente? Ou aquela mulher que ainda mora com os pais, passou por escolas particulares e chegou na pós-graduação de uma universidade pública bancada pelos pais ou sem precisar se desdobrar entre filhos e casa?

Os parabéns deveriam ir para aquelas mulheres do passado e não para toda e qualquer mulher do presente. Deve ir para aquela primeira mulher reclamou o direito ao voto; aquela que conseguiu uma vaga numa universidade ou uma vaga de emprego com salários iguais. Deve ir para aquela mulher que hoje que pega dois ônibus para ir trabalhar e deixa para trás três filhos ou netos em casa e a tarde volta para seu segundo emprego não-formal sem receber nenhuma ajuda de seu marido ou de seus filhos. Essa sim é uma mulher que deve ser valorizada nos dias de hoje.

Posso estar tremendamente errado, mas acredito que há uma banalização desses “parabéns, mulher guerreira”. Hoje a vida não é a mesmo da do século XIX e de grande parte do XX. A independência feminina, para a maioria, não é mais conquistada com esforços fenomenais que realmente lhe deem o título de “guerreira”. Me parece fácil adquirir sua independência financeira e pessoal. E essas independências requerem os mesmos esforços tanto para homens quanto para mulheres.

A tecnologia mudou tanto a vida das pessoas e a sociedade evoluiu tanto em alguns pontos que não é mais preciso movimentos sociais nas ruas para se conseguir voto ou emprego. A mulher e o homem trabalhadores simplesmente levantam, com igualdade, e vão a luta nesse sistema capitalista que explora indivíduos sem ver cara nem coração.

Agora, apesar de tanta evolução e sofisticação, ainda tem lares que continuam nos moldes de 100 anos atrás. Há homens que tratam mulheres movidos pelos seus instintos sexuais mais primitivos. Que chegam em casa e não ajudam a lavar sequer a louça que está na pia e, quando pior, que espancam suas mulheres. No lugar de dar parabéns e ficar vangloriando qualidades femininas que são meros clichês, os jornais, televisões e redes sociais deveriam cumprir seu (muitas vezes falso) papel de porta voz da sociedade e de educador e mostrar os casos de mulheres que conseguiram se libertar dos grilhões de um casamento violento e/ou de uma família extremamente tradicional e preconceituosa. Exibir exemplos motiva quem ainda está nessa situação. Mostrar que há um caminho possível e que há meios legais e sociais para que todos tenham uma vida digna – dentro das possibilidades de dignidade que o capitalismo permite – faz parte da obrigação da mídia.

É, infelizmente, impossível mudar a vida da grande maioria quando a mídia continua divulgando a imagem de uma mulher submissa nas novelas e de uma mulher hipócrita nas reportagens especiais no dia de hoje.