Aproveitando o conteúdo, vou colocar aqui uma das partes que mais achei interessante escrever que é uma síntese da Teoria da Manipulação proposta por Perseu Abramo. Esse jornalista diz que há cinco padrões de manipulação usados pela grande imprensa. O texto original é muito interessante de ser lido porque mostra a quantas anda o interesse da classe dominante nos veículos de comunicação. Além disso nos faz enxergar como devemos duvidar de praticamente toda e qualquer informação divulgada por essa imprensa gigantesca que controla a mente de grande parte da população e aliena essas pessoas de problemas realmente importantes como a educação e política, por exemplo.
Segue o texto:
O jornalismo sofre algumas críticas que são apontadas por Bahia (1990): o noticiário é
inexato por conter notícias falsas ou sensacionalistas, é superficial,
discrimina as minorias, é parcial, despreza seu compromisso com a educação e é
manipulado. Sobre a manipulação, que aqui será discutido com mais detalhes,
Bahia afirma: “A crítica contesta o grau de independência que os veículos
atribuem às notícias em relação à opinião. Para ela, não só o noticiário sofre
pressões opinativas dos editores, repórteres e redatores, como também da
direção que controla a opinião” (BAHIA:1990, p. 24) e que, por conseguinte,
controla a angulação das informações que serão noticiadas.
Outro teórico e principal crítico do que consiste numa Teoria da
Manipulação, é o jornalista Perseu Abramo (2003). Para ele, há cinco padrões de
manipulação: os padrões comuns a toda a grande imprensa que são os de ocultação, fragmentação, inversão e indução; e o quinto, referente às
televisões e rádios que é o que o autor chama de padrão global. Todos os padrões estão ligados com o trabalho e a
dinâmica nas redações e a forma como a notícia é tratada por repórteres,
editores e demais profissionais deste ambiente.
A análise feita por Abramo parte da elaboração da pauta e a discussão do
que é fato jornalístico ou fato não-jornalístico, o que será e o que não será
noticiado. Essa primeira seleção dos fatos que constarão na pauta do veículo
fazem parte do padrão de ocultação:
“é o padrão que se refere à ausência e à presença dos fatos reais na produção
da imprensa. [...] É um deliberado silêncio militante sobre determinados fatos
da realidade” (ABRAMO: 2003, p. 25). O segundo padrão observado pelo
jornalista, é a fragmentação, ou uma
quebra do todo real em aspectos específicos e descontextualizados em relação ao
fato concreto. O problema está na desconexão e na falta de contexto: “isolados
como particularidades de um fato, o dado, a informação, a declaração perdem
todo o seu significado original e real para permanecer no limbo, sem
significado aparente, ou receber outro significado, diferente e mesmo
antagônico ao significado real original” (ABRAMO: 2003, p. 28).
Os dois primeiros aspectos se referem tanto à elaboração da pauta e a
orientação que o repórter recebe para trabalhar sobre o assunto, quanto na
captação do próprio jornalista ao limitar a visão do todo a um ângulo restrito
e condizente com a visão política do órgão no qual ele trabalha. Apesar de o
debate feito aqui sobre manipulação considerar os órgãos de comunicação, vale
uma ressalva feita por Charaudeau (2012) quanto às influências externas:
É preciso ter em mente que
as mídias informam deformando, mas é preciso destacar, para evitar fazer do
jornalista um bode expiatório, que essa deformação não é necessariamente
proposital. Mais uma vez, é a máquina de informar que está em causa, por ser ao
mesmo tempo poderosa e frágil, agente manipulador e paciente manipulado.
(CHARAUDEAU, p. 253)
Sobre o mesmo assunto, Gilberto Dimenstein alerta quando fala sobre os
jogos de poder da política: “Os jornalistas também não escapam e a imprensa,
cuja missão é evitar a manipulação, frequentemente cai nas armadilhas do poder,
movido a esperteza e calculismo” (DIMENSTEIN: 1990, p. 14). Ou seja, apesar de
ser considerável os interesses econômicos e políticos dos empresários da
comunicação, seus veículos podem também ser usados como instrumentos na guerra
pelo poder e manipulação da população carecendo, portanto, de independência,
profissionalismo e curiosidade para farejar o que há por detrás das informações
obtidas. Este problema é também abordado por Abramo no seu terceiro padrão de
manipulação, a inversão. Para
manipular, na hora da estruturação, redação e apresentação da notícia, ocorre
uma “troca de lugares de importância dessas partes, a substituição de umas por
outras e prossegue, assim, com a destruição da realidade original e a criação
artificial de outra realidade.” (ABRAMO: 2003, p. 28). Como um subitem deste
padrão, o autor considera as relações entre jornalistas e o poder político.
Segundo ele, ao selecionar uma versão específica no lugar de apresentar o fato
como um todo, o órgão de comunicação pode extremar sua manipulação oferecendo
ao leitor apenas a versão oficial, o que Abramo chama de oficialismo, ou, usando o discurso de Dimenstein, cair, consciente
ou não, nas “armadilhas do poder”.
A inversão ainda pode ser
originada da pauta e da visão e ação do repórter, mas é na edição e na
diagramação do produto jornalístico que ela é mais fortemente observada. Assim,
a partir deste e dos demais padrões, Abramo chega à indução:
O que torna a manipulação um fato essencial e
característico da maioria da grande imprensa brasileira hoje é que a hábil
combinação dos casos, dos momentos, das formas e dos graus de distorção da
realidade submete, em geral e em seu conjunto, a população à condição de
excluída da possibilidade de ver e compreender a realidade real e a induza a
consumir outra realidade, artificialmente inventada. É isso que chamo de padrão de indução. (ABRAMO: 2003, p. 33)
A diagramação das revistas semanais e mensais está inserida neste grupo
de meios de comunicação que extrapola todos os demais padrões de manipulação e
coroa a indução desde a sua capa até a ordem de suas reportagens nas páginas
internas. A escolha cuidadosa da ilustração da capa, o tamanho, a cor e a
mensagem dos títulos, a sequência de chamadas apresentada ao leitor, enfim, os
elementos das capas que são os primeiros a chegarem aos olhos do leitor são o
carro chefe dessa manipulação. Manipulação e angulação se mesclam aqui.
Retomando os conceitos de Medina, a indução por meio dos elementos de edição
podem ser enxergados a partir da lógica da angulação-massa que se manifesta
“nas aparências externas – formas de diagramação atraente, valorização de
certos ângulos e cortes fotográficos, apelos linguísticos como títulos e
narração dos fatos. Está também nos conteúdos e no processo de captação desses,
extraídos de uma realidade” (MEDINA: 1988, p. 75).
São elementos usados tanto para manipular por
meio da expressão política e ideológica do veículo, como também para torna-los
vendáveis aos leitores. Afinal, como diz Charaudeau (2012) na lógica do que ele
chama de “contrato de comunicação midiática”, a imprensa tem dois objetivos
básicos, ou visadas: “uma visada de fazer saber, ou visada de informação
propriamente dita, que tende a produzir um objeto de saber segundo uma lógica
cívica: informar o cidadão; uma visada de fazer
sentir, ou visada de captação, que tende a produzir um objeto de consumo
segundo a lógica comercial” (CHARAUDEAU: 2012, p. 86). Sendo assim, seguindo a
visão de Charaudeau, a imprensa, ao manipular, pensa não somente na manutenção
de seus ideais e crenças, mas também naquilo que é vendável na banca, nas ondas
sonoras e na tela da televisão.
ABRAMO,
Perseu. Padrões de manipulação da grande
imprensa. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003.
BAHIA,
Juarez. Jornal, História e Técnica. As
técnicas do jornalismo. 4ª ed. São Paulo: Editora Ática, 1990.
CHARAUDEAU,
Patrick. Discurso das mídias. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2012.
MEDINA,
Cremilda. Notícia, um produto à venda:
jornalismo na sociedade urbana e industrial. 2ª ed. São Paulo: Summus,
1988.
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