No reino animal existe uma espécie de mamífero muito
curiosa: os folgados. Eles geralmente fazem parte da espécie humana e se
proliferam de forma muito rápida, especialmente quando estão na universidade e
em época de avaliações de cursos. São de ambos os sexos, apesar que neste
ambiente sempre haver seres de sexo praticamente indefinido que confundem a
percepção dos observadores ao misturar estrutura física de um sexo e voz e
trejeitos de outro. Além disso, as idades destes seres também variam, porém a
origem é sempre a mesma: “cultural”.
Estes seres tão curiosos estão acostumados desde a primeira
amamentação a receberem tudo pronto em suas bocas. Enquanto outros humanos logo
se desgarraram do peito materno e procuraram com suas próprias mãos seus
próximos alimentos, os folgados continuaram a depender do conforto e comodidade
maternos para receberem todos os alimentos bem mastigados e triturados com o
tempero único que só a figura da mãe sabe fazer depois de horas de birra do
folgado em idade infantil.
Essa característica marcante não muda com o passar dos anos.
Acostumados com os mimos dos pais, os folgados continuam sua vida até chegar à Universidade
e sempre encontram lá figuras que projetam a imagem e boa vontade de seus pais.
Ao escolherem suas vítimas, os folgados e folgadas, os importunam em horas
estratégicas e esperam receber o que precisam de forma totalmente mastigada e
de fácil digestão. Porém, não procuram mais alimentos, mas sim cadernos com
boas anotações, exercícios resolvidos, colas e resumo de fórmulas para as
provas e grupos de estudantes que coloquem seu nome nos trabalhos acadêmicos
sem que eles tenham se dedicado como era necessário.
Geralmente os folgados são confundidos com estudantes. Devem
receber, no máximo, a denominação aluno, nome genérico dado a todos aqueles que
são matriculados em qualquer tipo de curso. Estudantes, por outro lado,
realmente estudam, anotam alunas, prestam atenção nas explicações, resolvem
exercícios em dia e fazem os trabalhos acadêmicos e avaliações com a intenção
de verificar o quanto conseguiram aprender durante as aulas.
Mais uma vez no lado oposto, folgados não avaliam seus
conhecimentos. O único e principal objetivo desta espécie é obter notas para serem
aprovados com, pelo menos, a nota mínima naquele semestre. É característico
desses alunos a pergunta ao professor: “Você vai explicar, mas cai na prova?”
ou “Temos que ler, mas cai na prova?”. O desejo pelo conhecimento e o pleno
entendimento dos elementos que compõe o assunto discutido não é o objetivo na
formação acadêmica destes folgados. Os textos são lidos apenas em busca de
pontos chaves e palavras importantes para serem decoradas e usadas na hora da
prova.
Há estudantes e folgados que convivem em harmonia. Pode
haver estudantes que perdem aulas e pedem cadernos emprestados para manterem o
caderno em dia e se manterem informados sobre o andar da disciplina; mas nunca
haverá um folgado que perdeu a aula e se preocupa com o conteúdo, apenas com o
que será cobrado nas avaliações. Podem haver compreensão entre estudantes e
folgados. Também pode haver submissão por parte daqueles estudantes que perdem
dias de estudos particulares para aguentar um folgado tirando dúvidas ridículas
sobre temas básicos que era pressuposto que todos soubessem. E por fim, pode
haver intolerância entre essas duas espécies, afinal, ninguém é obrigado a
fazer anotações sobre as aulas no caderno e nas épocas próximas à prova dá-las
de graça aqueles que sequer se lembram da última matéria dada no curso.