Hoje eu ia escrever só sobre fontes, nossa fornecedora de matéria-prima diária. Achei mais um editorial interessante para comentar, hoje do Clovis Rossi, da Folha. (Se alguém perguntar se só leio a Folha como jornal, a resposta é sim e não enche...! hahaha Para esclarece... estou fazendo uma monografia de tcc, portanto, muita leitura, dedicação e aprofundamento no assunto. Procuro pelo menos ler a Folha e o Jornal de Limeira, para não perder o hábito de ver o que acontece no Brasil e em Limeira).
Primeiro o primeiro. FONTES
Até meados do século XX, as principais fontes eram funcionários públicos em geral, políticos, diretores de empresas, gerentes, viajantes e pessoas envolvidas com assuntos do interesse público. Até esta época o jornalismo opinativo, e pouco informativo, predominava nas publicações diárias. Essa opinião no jornalismo perdeu o grande espaço que tinha depois da Primeira Guerra Mundial quando, a população norte-americana queria saber o que se passava no front e com os familiares soldados. Portanto a imprensa se viu prensada a fornecer informação, notícias.
Hoje em dia todos são fontes. Se você conseguir falar com um cachorro ele será uma grande fonte! Experimente pensar em uma matéria abordando o ponto de vista de um cão... Acontece que muito cachorro por aí daria melhores entrevistas que alguns seres humanos. Pelo menos o cachorro abanaria o rabo e nós saberíamos que estamos conduzindo bem a conversa! Já os humanos são falsos, pero no todos! Ainda tem aqueles que te dizem na cara que não gostam de dar entrevista e que não vai responder determinada pergunta. PACIÊNCIA, MUITA PACIÊNCIA. Segundo Dalai Lama a paciência é uma virtude... vai entender.
Daí questiono o que Nilson Lage diz. Na verdade o que Lazarsfeld, Merton e Kennedy, estudiosos que elaboraram a "corrente funcionalista" dizem: "Os homens consideram crucial serem aceitos socialmente e, por isso, desenvolvem atitudes cooperativas" (LAGE, 2002, p. 55) Ou seja, dentro de um modelo de comunicação onde cada um tem sua função, as fontes só abrem a boca porque querem ser aceitas. Aí vem um porém: "Toda conversação depende do que um dos envolvidos imagina que o outro pretende" (Ibid, p. 57) Ou seja, precisamos deixar bem claro o teor da matéria que vamos escrever, objetivo e as vezes até explicar no que ela beneficiará a fonte se colaborar conosco, para que repórter e fonte entrem em sintonia e a entrevista, considerado por Cremilda Medina, um diálogo possível. Essa sintonia também é necessário porque "o sucesso de uma entrevista depende basicamente do entrevistado" (NOBLAT, 2004, p. 68), portanto, uma escolha errada pode estragar qualquer matéria. Acho que isso não é regra, tanto a citação quanto o comentário, afinal de contas, se a fonte disser o que precisamos ouvir está ótimo. Claro que perderíamos histórias incríveis se, por exemplo, uma senhor com 70 anos resolver não colaborar com o repórter, mas respeito também é bom. Ele quer responder só aquilo, e será só aquilo que teremos, por mais que exprema, acredito que não sai muito mais.
Vale ressaltar aqui uma pequena clasificação quanto à natureza das fontes: as oficiais, oficiosas, independentes. Oficiais são as ligadas ao governo ou à empresas e organizações, oficiosas são as que não estão autorizadas a falar (mesmo ligadas a este poder) e as independentes o próprio nome já diz. Aí vem o problema. HOje no Jornal de Limeira foi publicada uma matéria sobre a CPI das apostilas. Entitulada "Montesano volta a defender as apostilas", fala sobre a atuação do secretário municipal da Educação, Antonio Montesano Neto, na CPI (breve contextualização:que apura o caso de irregularidades nas apostilas feitas pela editora Múltipla para o ensino fundamental municipal). Independente das investigações da comissão, uso o secretário como exemplo.
Secretário Municipal da Educação = fonte oficial e das piores: político. Certa vez discuti isso com amigos. Na minha opinião as fontes políticas são as piores (há excessões, mas poucas). Quando não estão fazendo o bem para a população fogem da imprensa como diabo da cruz. "Todo governo mente. Aqui e em qualquer lugar. Alguns mentem mais do que outros, mas mentem. Mentem, manipulam informação ou simplesmente omitem." (NOBLAT, 2005, p. 59) Aí está o problema, omissão, muitos políticos não são transparentes e este é o principal problema.
Por que omissos? Considere a citação: "Não há perguntas inconvenientes. Pode haver respostas inconvenientes. Mas isto é um problema de quem responde." (NOBLAT, 2004, p. 71) Parece que políticos estão sempre com um pé atrás com jornalistas principalmente por conta disso, das perguntas inconvenientes que os tira da zona de conforto que simulam estar. O que me indigna é o seguinte: todos pagamos impostos, são os impostos que movimentam os 400 bilhões que circulam anualmente na prefeitura (segundo um dos gerentes do banco Caixa, que administrará as contas da prefeitura por cinco anos). Será que esta informação não está clara para eles, cito o valor municipal porque é a informação que tenho, guardadas as proporções, imaginem o que circula nos cofres estaduais e no federal.
Então vamos ao municipal: a prefeitura e vereadores DEVEM informações claras aos cidadãos, o que nem sempre acontece. O jornalista tem o papel de mediador, de guardião e monitor independente do poder. Jornalista é também cidadão e pagador de impostos. Um jornalista de Chicago chamado Finley Dunne disse há cem anos "conforte o alito e aflija o confortável" (KOVACH & ROSENTIEL, p. 174).
Reclamo dos secretários políticos e demais que se encaixam nesse adjetivo/profissão porque é clara a diferença entre aqueles que são especialistas na área e aqueles que, mesmo sendo da área são políticos. Um dos secretários municipais (não político) certa vez me disse que fala tudo, o que está errado é para ser consertado e a informação deve ser dada à população. Não é por menos que sua secretaria não esteve envolvida a nenhum escândalo recentemente.
Aí está o problema das fontes: as estrelas independentes, as oficiais políticas e as políticos-estrelas! Se todos enxergassem o jornalista como alguém que pode colaborar para um mundo melhor, afinal influenciam milhares de leitores, o mundo seria bem melhor!
Me empolguei na questão das fontes , postanto vou deixar só um questionamento quanto ao editorial...
CLÓVIS ROSSI
Notícia prematura de uma morte
SÃO PAULO - Temo ser prematura a notícia da morte do neoliberalismo, dada com exclusividade na edição de segunda desta Folha por esse excelente analista que é Luiz Carlos Bresser-Pereira. Convém primeiro qualificar a morte. Se se trata do conceito de "todo o poder aos mercados", o grito de guerra do neoliberalismo, é bem possível que Bresser tenha razão. Mas, se se trata de sua aplicação prática, suspeito que o suposto cadáver revela notável higidez. Bresser usou, no atestado de óbito, dois fatos da vida que, a meu ver, provam exatamente o contrário, ou seja, a sobrevida do "todo o poder aos mercados". Eram o socorro ao Bear Stearns e as revoltas em países atingidos pela alta de preço de alimentos. Ora, o que ficou claríssimo é que os governos agiram com enorme rapidez para socorrer o sistema financeiro, mas não exibem nem remotamente a mesma velocidade para encarar o problema da fome decorrente da alta de preços de alimentos. Pior: a quantidade de dinheiro despejada no socorro ao sistema financeiro daria para matar a fome do mundo todo, até daqueles que nunca passaram perto dela e nem reparam se os alimentos estão mais caros ou não. Mesmo sendo comparativamente menor -bem menor- a quantia de dinheiro requerida para escapar do risco de fome em massa, os governantes ficam discutindo, academicamente, se a inflação da comida é culpa dos biocombustíveis ou dos subsídios do mundo rico a seus agricultores ou das carências da agricultura nos países mais pobres. Na hora de ajudar os bancos, não houve discussão. Foram ao ponto e abriram as arcas. Uma das características centrais do tal neoliberalismo é exatamente essa: os mercados comandam o governo. A política, a que deveria ter "pê" maiúsculo, não tem lugar nesse esquema, açambarcado pelo capitalismo financeiro.
Questiono não, repercuto e indago: e o neoliberalismo no jornalismo? Após a censura da monarquia, nos séculos passados, a burguesia implantou o "imposto por timbre", uma taxa recolhida por cada exemplar publicado. Posteriormente, os impostos sobre papel e tinta para os jornais também cresceram e estão altos até hoje. Os jornais pagam em dólares os rolos de papel para publicar seus periódicos. E não é barato não. Com todos esses tributos em cima divulgação de notícias, tributos até que intencionais, afinal foram feitos para tentar impedir a circulação dos jornais, a publicidade tomou conta de uma boa porcentagem das páginas destes.
Existe sim esse neoliberalismo onde o mercado comanda o governo, onde ele comanda a imprensa. É fato, não há como negar. E o culpado? Coloca a culpa na burguesia do século XVII, foi ela quem começou com a tributação da opinião e nos legou essa dependência dos anunciantes...
2 comentários:
Puta que pariu!
Alex...
Achei seu comentário muito interessante e gostaria de saber qual a sua opinião sobre o secretário da educação Antonio Montesano Neto, tanto na questão da secretaria de educação quanto na investigação dos livros didáticos.
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