quarta-feira, 23 de abril de 2008

Fontes e empresas

Hoje eu ia escrever só sobre fontes, nossa fornecedora de matéria-prima diária. Achei mais um editorial interessante para comentar, hoje do Clovis Rossi, da Folha. (Se alguém perguntar se só leio a Folha como jornal, a resposta é sim e não enche...! hahaha Para esclarece... estou fazendo uma monografia de tcc, portanto, muita leitura, dedicação e aprofundamento no assunto. Procuro pelo menos ler a Folha e o Jornal de Limeira, para não perder o hábito de ver o que acontece no Brasil e em Limeira).

Primeiro o primeiro. FONTES

Até meados do século XX, as principais fontes eram funcionários públicos em geral, políticos, diretores de empresas, gerentes, viajantes e pessoas envolvidas com assuntos do interesse público. Até esta época o jornalismo opinativo, e pouco informativo, predominava nas publicações diárias. Essa opinião no jornalismo perdeu o grande espaço que tinha depois da Primeira Guerra Mundial quando, a população norte-americana queria saber o que se passava no front e com os familiares soldados. Portanto a imprensa se viu prensada a fornecer informação, notícias.

Hoje em dia todos são fontes. Se você conseguir falar com um cachorro ele será uma grande fonte! Experimente pensar em uma matéria abordando o ponto de vista de um cão... Acontece que muito cachorro por aí daria melhores entrevistas que alguns seres humanos. Pelo menos o cachorro abanaria o rabo e nós saberíamos que estamos conduzindo bem a conversa! Já os humanos são falsos, pero no todos! Ainda tem aqueles que te dizem na cara que não gostam de dar entrevista e que não vai responder determinada pergunta. PACIÊNCIA, MUITA PACIÊNCIA. Segundo Dalai Lama a paciência é uma virtude... vai entender.

Daí questiono o que Nilson Lage diz. Na verdade o que Lazarsfeld, Merton e Kennedy, estudiosos que elaboraram a "corrente funcionalista" dizem: "Os homens consideram crucial serem aceitos socialmente e, por isso, desenvolvem atitudes cooperativas" (LAGE, 2002, p. 55) Ou seja, dentro de um modelo de comunicação onde cada um tem sua função, as fontes só abrem a boca porque querem ser aceitas. Aí vem um porém: "Toda conversação depende do que um dos envolvidos imagina que o outro pretende" (Ibid, p. 57) Ou seja, precisamos deixar bem claro o teor da matéria que vamos escrever, objetivo e as vezes até explicar no que ela beneficiará a fonte se colaborar conosco, para que repórter e fonte entrem em sintonia e a entrevista, considerado por Cremilda Medina, um diálogo possível. Essa sintonia também é necessário porque "o sucesso de uma entrevista depende basicamente do entrevistado" (NOBLAT, 2004, p. 68), portanto, uma escolha errada pode estragar qualquer matéria. Acho que isso não é regra, tanto a citação quanto o comentário, afinal de contas, se a fonte disser o que precisamos ouvir está ótimo. Claro que perderíamos histórias incríveis se, por exemplo, uma senhor com 70 anos resolver não colaborar com o repórter, mas respeito também é bom. Ele quer responder só aquilo, e será só aquilo que teremos, por mais que exprema, acredito que não sai muito mais.

Vale ressaltar aqui uma pequena clasificação quanto à natureza das fontes: as oficiais, oficiosas, independentes. Oficiais são as ligadas ao governo ou à empresas e organizações, oficiosas são as que não estão autorizadas a falar (mesmo ligadas a este poder) e as independentes o próprio nome já diz. Aí vem o problema. HOje no Jornal de Limeira foi publicada uma matéria sobre a CPI das apostilas. Entitulada "Montesano volta a defender as apostilas", fala sobre a atuação do secretário municipal da Educação, Antonio Montesano Neto, na CPI (breve contextualização:que apura o caso de irregularidades nas apostilas feitas pela editora Múltipla para o ensino fundamental municipal). Independente das investigações da comissão, uso o secretário como exemplo.

Secretário Municipal da Educação = fonte oficial e das piores: político. Certa vez discuti isso com amigos. Na minha opinião as fontes políticas são as piores (há excessões, mas poucas). Quando não estão fazendo o bem para a população fogem da imprensa como diabo da cruz. "Todo governo mente. Aqui e em qualquer lugar. Alguns mentem mais do que outros, mas mentem. Mentem, manipulam informação ou simplesmente omitem." (NOBLAT, 2005, p. 59) Aí está o problema, omissão, muitos políticos não são transparentes e este é o principal problema.

Por que omissos? Considere a citação: "Não há perguntas inconvenientes. Pode haver respostas inconvenientes. Mas isto é um problema de quem responde." (NOBLAT, 2004, p. 71) Parece que políticos estão sempre com um pé atrás com jornalistas principalmente por conta disso, das perguntas inconvenientes que os tira da zona de conforto que simulam estar. O que me indigna é o seguinte: todos pagamos impostos, são os impostos que movimentam os 400 bilhões que circulam anualmente na prefeitura (segundo um dos gerentes do banco Caixa, que administrará as contas da prefeitura por cinco anos). Será que esta informação não está clara para eles, cito o valor municipal porque é a informação que tenho, guardadas as proporções, imaginem o que circula nos cofres estaduais e no federal.

Então vamos ao municipal: a prefeitura e vereadores DEVEM informações claras aos cidadãos, o que nem sempre acontece. O jornalista tem o papel de mediador, de guardião e monitor independente do poder. Jornalista é também cidadão e pagador de impostos. Um jornalista de Chicago chamado Finley Dunne disse há cem anos "conforte o alito e aflija o confortável" (KOVACH & ROSENTIEL, p. 174).

Reclamo dos secretários políticos e demais que se encaixam nesse adjetivo/profissão porque é clara a diferença entre aqueles que são especialistas na área e aqueles que, mesmo sendo da área são políticos. Um dos secretários municipais (não político) certa vez me disse que fala tudo, o que está errado é para ser consertado e a informação deve ser dada à população. Não é por menos que sua secretaria não esteve envolvida a nenhum escândalo recentemente.

Aí está o problema das fontes: as estrelas independentes, as oficiais políticas e as políticos-estrelas! Se todos enxergassem o jornalista como alguém que pode colaborar para um mundo melhor, afinal influenciam milhares de leitores, o mundo seria bem melhor!

Me empolguei na questão das fontes , postanto vou deixar só um questionamento quanto ao editorial...

CLÓVIS ROSSI
Notícia prematura de uma morte

SÃO PAULO - Temo ser prematura a notícia da morte do neoliberalismo, dada com exclusividade na edição de segunda desta Folha por esse excelente analista que é Luiz Carlos Bresser-Pereira. Convém primeiro qualificar a morte. Se se trata do conceito de "todo o poder aos mercados", o grito de guerra do neoliberalismo, é bem possível que Bresser tenha razão. Mas, se se trata de sua aplicação prática, suspeito que o suposto cadáver revela notável higidez. Bresser usou, no atestado de óbito, dois fatos da vida que, a meu ver, provam exatamente o contrário, ou seja, a sobrevida do "todo o poder aos mercados". Eram o socorro ao Bear Stearns e as revoltas em países atingidos pela alta de preço de alimentos. Ora, o que ficou claríssimo é que os governos agiram com enorme rapidez para socorrer o sistema financeiro, mas não exibem nem remotamente a mesma velocidade para encarar o problema da fome decorrente da alta de preços de alimentos. Pior: a quantidade de dinheiro despejada no socorro ao sistema financeiro daria para matar a fome do mundo todo, até daqueles que nunca passaram perto dela e nem reparam se os alimentos estão mais caros ou não. Mesmo sendo comparativamente menor -bem menor- a quantia de dinheiro requerida para escapar do risco de fome em massa, os governantes ficam discutindo, academicamente, se a inflação da comida é culpa dos biocombustíveis ou dos subsídios do mundo rico a seus agricultores ou das carências da agricultura nos países mais pobres. Na hora de ajudar os bancos, não houve discussão. Foram ao ponto e abriram as arcas. Uma das características centrais do tal neoliberalismo é exatamente essa: os mercados comandam o governo. A política, a que deveria ter "pê" maiúsculo, não tem lugar nesse esquema, açambarcado pelo capitalismo financeiro.

Questiono não, repercuto e indago: e o neoliberalismo no jornalismo? Após a censura da monarquia, nos séculos passados, a burguesia implantou o "imposto por timbre", uma taxa recolhida por cada exemplar publicado. Posteriormente, os impostos sobre papel e tinta para os jornais também cresceram e estão altos até hoje. Os jornais pagam em dólares os rolos de papel para publicar seus periódicos. E não é barato não. Com todos esses tributos em cima divulgação de notícias, tributos até que intencionais, afinal foram feitos para tentar impedir a circulação dos jornais, a publicidade tomou conta de uma boa porcentagem das páginas destes.

Existe sim esse neoliberalismo onde o mercado comanda o governo, onde ele comanda a imprensa. É fato, não há como negar. E o culpado? Coloca a culpa na burguesia do século XVII, foi ela quem começou com a tributação da opinião e nos legou essa dependência dos anunciantes...

terça-feira, 22 de abril de 2008

Chega Isabella, vai logo pro céu menina!

Sinceramente? O caso Isabella Nardoni está enchendo o saco já!!!!!!!!!!!!!!

A mãe conversou com Xuxa, Zezé Di Camargo e Luciano, Ivete Sangalo e virou, como diz a professora Socorro, uma sub-sub-sub-sub-celebridade. Concordo com o comentário da minha mãe: "Você acha que a mãe que perdeu um filho ficaria colocando mensagens no orkut e aparecendo tanto assim na mídia?" Vamos dividir o sentimento de perda e sermos solidários com ela? Por favor, voltemos ao livro Showrnalismo de José Arbex Jr.!!!! Mais um caso para a decadência da mídia e o que dizem ser a cobertura perfeita e isenta.

Neste domingo o Fantástico conseguiu entrevista com exclusividade com o casal Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá. Qual foi o objetivo? Tenhamos precaução, tudo se dirige para os mesmos caminhos do caso da Escola Base na década de 90. Temos que ouvir os dois lado? Sim, claro. Mas está ficando abusivo já essa exposição exagerada ao caso. Por favor mídia, façam as suítes, mas quando tiverem novidades confirmadas!!!!!! Se um familiar peidar vai ser notícia! Até o peido de um deles irá sair em tom fúnebre e com um cheiro sóbrio...

Resolvi escrever sobre o caso porque hoje me deparei com um editorial interessante. Realmente precisamos levar em conta a crueldade humana, quase um canibalismo em dieta. Se mata sem fim, por matar, por ciúmes, por inveja ou por demência. Demência social, psicológica ou seja lá qual for o ângulo que seja analisada. O fato na minha opinião é que crimes sempre existiram, a idéia de que o mundo fica cada vez mais violento se deve por conta da cobertura da mídia. Não! a mídia não é a culpada pelos crimes, ela os exibe e nos mostra, agora mais do que há cem anos. o quanto o homem pode ser cruel. Num jornal de 1890, onde a opinião era o principal foco dos escritores, poderia muito bem ter a mesma notícia que um dos dias atuais. Pai mata filho. Os motivos eram outros, a sociedade e cultura era outra, mas o crime poderia muito bem ser o mesmo. A diferença? A briga pelos furos jornalísticos, pelo preenchimento das páginas diárias e o abuso das coberturas (quase Gobbels nazistas). Estou errado? Vou pesquisar o assunto...

aí vai o editorial:

Folha de São Paulo (segunda-feira, 21 de abril de 2008)
RUY CASTRO
Peçonha humana

RIO DE JANEIRO - Uma plêiade de animais peçonhentos -cobras, escorpiões e lacraias- reuniu-se neste fim de semana às margens de um brejo para deliberar sobre fatos que ocuparam o noticiário nos últimos dias. Peçonha, como se sabe, significa veneno. Esses animais são considerados agressivos, traiçoeiros e letais, embora usem o veneno apenas para se defender ou se alimentar.Na reunião, eles trataram do caso do cirurgião plástico de São Paulo que, dizendo-se assediado pela ex-namorada, matou e esquartejou a mulher com requintes profissionais, usando bisturis e pinças, e depois ocultando e destruindo o cadáver. Houve comoção geral quando uma lacraia, aos prantos, descreveu o médico retirando a pele do rosto, dos seios e das pontas dos dedos da vítima para dificultar sua identificação pela polícia.Outra história referia-se ao rapaz de Caxias (RJ) que, inconformado com o fim de seu relacionamento com a namorada, tomou uma espada ninja de sua coleção e, com ela, simplesmente decepou o braço direito da moça. A infeliz foi levada em estado grave para o hospital Souza Aguiar, no Rio, mas o braço não pôde ser reimplantado.E, naturalmente, o grande assunto do encontro foi a tragédia da menina Isabella, em São Paulo, espancada, asfixiada e atirada ainda viva do 6º andar por, tudo indica, seu pai e sua madrasta. Chocante. Mas o que também deprimiu os animais foi o histórico de violência desse casal contra os filhos mais novos e contra a própria Isabella, a ameaça de morte à avó da criança por motivo fútil, as brigas por ciúme doentio, a vida num inferno.Os animais peçonhentos estão assustados. O planeta que habitam parece cada vez mais hostil e perigoso pela presença desses seres -esses, sim, agressivos, traiçoeiros e letais- ditos humanos.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Olá pessoal!
Tendo em vista toda essa onda de blogs, resolvi surfar junto. Como exercitamos diariamente o mito da objetividade - que com certeza não existe... - ou melhor, como tentamos nos aproximar ao máximo da verdade do fato e informar os leitores de forma clara e educativa, não sobra espaço para uma opinião pessoal. Já me deparei com matérias que tive vontade de soltar os cachorros em cima de certa fonte, porque achei absurda a posição que ela adotou, mas... como precisava da informação e, além disso, precisava escrever a matéria, resolvi guardá-la para um blog. Este blog, que começo a editar hoje.

Resolvi repercutir um editorial, opinião sobre a opinião do texto "Pequeno Escândalo" de Delfim Netto, na folha desta quarta-feira, 16. Quem tiver interesse de ler, coloquei ele aqui, ali no final.

Delfim Netto define como um pequeno escândalo o resultado de uma apresentação de Márcio Bruno Ribeiro no 20º Seminário de Política Fiscal, realizado no Chile. Ribeiro comprovou através de pesquisas que ""consumo do governo" com o "desempenho do setor público", ocupamos o 16º lugar". Isso observamos diariamente nos noticiários. Denúncias de gastos extraordinários como o caso do reitor da Unifesp, cartão corporativo e etc. Mas, na verdade é o início do texto que me chamou mais atenção.

O colunista da Folha disse que há uma grande dificuldade por parte dos governantes aceitarem a sua ineficiência. Resolvi repercutir esta frase em particular porque durante dois anos de estágio em uma assessoria percebi que de certa forma ele é real. Não que o assessorado foi ineficiente, sinceramente diversos projetos são realmente úteis para a população, porém, há um grande defeito, adotando um ponto de vista de comunicador e (um pouquinho só) político: críticas. O assessorado não era aberto às críticas. Como diz Delfim Netto no texto, os governantes assumem pessoalmente seu governo, eles se tornam o governo.

ANTONIO DELFIM NETTO - Pequeno escândalo
QUANDO SE está no governo, há uma enorme dificuldade de aceitar a sua ineficiência. É curioso ver como os candidatos a cargos executivos a "enxergam" apenas enquanto estão em busca do poder. Tão logo têm sucesso, são atacados por cegueira intransponível e aumentam os impostos para supostamente corrigi-la. Agora ela é vista como produto da falta de recursos, que pode comprometer sua administração virtuosa. A história nacional mostra um processo geológico: mais recurso acaba sempre numa ineficiência de "nível superior" que se acumula sobre a de "nível inferior"... Cada chefe de Executivo (de prefeito a presidente) antropomorfiza seu cargo. Ele se supõe o próprio Estado e, conseqüentemente, a acusação de ineficiência é introjetada como crítica pessoal. Não consegue aceitar que essa ineficiência não tem dono, não tem origem e, aparentemente, não terá fim. Ela apenas é! Trata-se de um fenômeno quase "natural": uma infecção que o organismo nacional hospeda desde os tempos coloniais e à qual se ajusta sem nunca querer saber quanto lhe custou em termos de dificuldades para a construção de uma sociedade mais desenvolvida e mais equânime. Isso, é claro, não se refere às políticas que melhoram a igualdade de oportunidades dos cidadãos economicamente mais humildes. Estas são necessárias (ainda que não suficientes) para a continuidade de políticas econômicas razoáveis num regime politicamente aberto com sufrágio universal. Mas nem elas podem justificar o desperdício produzido pela ineficiência. Há crescentes evidências de que o Brasil tem o Estado mais caro do mundo quando se compara o que ele arrecada da sociedade com o volume e a qualidade dos serviços que lhe devolve. Recentemente, um economista do Ipea acrescentou mais uma demonstração a essa tese. No 20º Seminário de Política Fiscal, realizado no Chile em janeiro deste ano, o senhor Márcio Bruno Ribeiro apresentou um trabalho ("Eficiência do Gasto Público na América Latina") que deve merecer muita atenção. Usando um número enorme de fontes e técnicas de medição sofisticadas, mostrou a triste situação em que se encontra o país nessa matéria. Quando se compara o "consumo do governo" com o "desempenho do setor público", ocupamos o 16º lugar (o penúltimo, antes da Bolívia) entre os 17 países latino-americanos. E, quando se corrige o ranking por "outras variáveis explicativas", ainda somos o 10º colocado entre eles. Trata-se, obviamente, de um pequeno escândalo.